Economia
A decisão de Lula que levou Lupi a pedir demissão do governo
Três meses depois da saída, o pedetista afirmou a CartaCapital não se arrepender da resposta à crise no INSS: ‘Fui estigmatizado’


A forma como se deu a troca de comando no INSS, em meio ao escândalo das fraudes em descontos, inviabilizou a permanência de Carlos Lupi à frente do Ministério da Previdência Social. É o que afirma o ex-ministro em entrevista ao vivo a CartaCapital, exibida nesta sexta-feira 8.
Entre o fim de abril e o início de maio, após a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União revelarem a dimensão das irregularidades, Lula ordenou a demissão do então presidente do instituto, Alessandro Stefanutto e determinou a nomeação de Gilberto Waller Júnior para o cargo.
Para Lupi, a decisão era um sinal de desconfiança: “Quando Lula anunciou o presidente do INSS, foi uma espécie de interventor. E eu falei: ‘presidente, quando o senhor nomeia um interventor na instituição, é porque não confia em mim e não tenho como continuar‘”, disse.
Em 2 de maio, Lupi pediu demissão – e Lula indicou o então secretário-executivo, Wolney Queiroz, para substituí-lo. “Fui me encontrar com ele com a carta pronta e perguntei se concordava. Na hora, perguntou: ‘posso ligar para o Wolney? Quero botar o Wolney respondendo pelo ministério.'”
Lupi diz, porém, não guardar mágoa de Lula ou de qualquer integrante do governo. Mas também não se arrepende das decisões que tomou no auge da crise.
A crise começou em 23 de abril, quando a operação da PF e da CGU aumentou a pressão pela saída de Stefanutto. Naquele momento, Lupi defendeu em coletiva a permanência do presidente do INSS, afirmando que ele havia sido “exemplar” e que não poderia demiti-lo antes do fim das apurações. A Justiça, no entanto, já havia determinado o afastamento de Stefanutto.
“Ali fui estigmatizado, como se eu estivesse defendendo o chefe de uma ‘quadrilha'”, resumiu Lupi a CartaCapital mais de três meses depois daquela entrevista. “Eu repetiria a mesma coisa que falei.”
Questionado se o Ministério da Previdência Social demorou a agir, afirmou não ser papel do ministro conduzir uma investigação.
“Como ministro, não estou no dia a dia do INSS”, pondera. “Existiu um conluio entre algumas entidades corruptas que enganavam os aposentados com os descontos indevidos. E dentro do INSS montaram uma quadrilha que está sob investigação e que facilitava esse jogo entre as partes.”
Carlos Lupi será convocado pela CPMI do INSS, a ser instalada neste mês, e terá de depor a deputados e senadores. Ele afirma ser legítimo o funcionamento da comissão. “Todos aqueles que tiverem responsabilidade devem ser processados, ter direito de defesa e, se forem culpados, ir para a cadeia”, concluiu.
O ressarcimento a aposentados e pensionistas que sofreram descontos indevidos está em andamento. A devolução custará 3,3 bilhões de reais ao governo federal em créditos abertos por medida provisória.
Por se tratar de crédito extraordinário, esse dinheiro está fora das amarras do arcabouço fiscal e não contará para o cumprimento das metas de resultado primário ou de limite de gastos.
Podem aderir ao acordo para ressarcimento aposentados e pensionistas que contestaram os descontos indevidos e não receberam resposta da entidade ou da associação após 15 dias úteis.
Assista à íntegra da entrevista:
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