Justiça
Bolsonaro na mira da PF: tornozeleira, toque de recolher e proibição de falar com Eduardo
Operação da Polícia Federal ocorre em cumprimento a decisão do STF; ex-presidente não poderá se comunicar com outros investigados, nem usar redes sociais


A Polícia Federal realizou na manhã desta sexta-feira 18 uma operação na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Jardim Botânico, em Brasília (DF). Os agentes também cumpriram mandados de busca e apreensão na sede do PL, no Complexo Brasil 21.
Em breve nota, a PF informou que cumpre dois mandados, além de medidas cautelares diversas da prisão, em cumprimento a uma decisão do Supremo Tribunal Federal.
As medidas envolvem o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de comunicação com embaixadores e de se aproximar de embaixadas, o contato com outros investigados, inclusive com seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e o veto de uso de redes sociais. O ex-presidente também terá que estar em casa no período de 19h às 7h, incluindo fins de semana. As informações foram confirmadas por CartaCapital.
O processo que deu origem à operação tem como relator o ministro Alexandre de Moraes e foi aberto em 11 de julho. A decisão do magistrado sustenta que Bolsonaro teria atuado, em articulação com Eduardo, para constranger o Judiciário por meio de pressão internacional, valendo-se da relação com o governo de Donald Trump para tentar condicionar o fim das sanções comerciais dos Estados Unidos à concessão de anistia no Brasil.
Entre os argumentos usados por Moraes para autorizar as medidas estão indícios de obstrução de Justiça, coação no curso do processo e atentado à soberania nacional. Em entrevista recente, Bolsonaro admitiu ter repassado 2 milhões de reais ao filho, que se encontra nos Estados Unidos, e a decisão aponta essa movimentação como parte da tentativa de interferência externa.
A ofensiva da PF ocorre em meio a uma escalada retórica de Bolsonaro, catalisada pelo tarifaço anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros. O presidente dos EUA justificou a medida alegando uma suposta “perseguição” da Justiça brasileira a Bolsonaro. Na quinta-feira, 17, Trump foi além e declarou que o processo contra o aliado deveria ser encerrado “imediatamente”.
Desde o anúncio de Trump, em 9 de julho, a família Bolsonaro tem dobrado a aposta em busca de uma anistia, usando as ameaças do norte-americano como instrumento de chantagem. A decisão do STF menciona essa movimentação como parte de um plano articulado para pressionar o Estado brasileiro, inclusive com a possibilidade de interferência econômica deliberada.
Na noite de ontem, o presidente dos Estados Unidos publicou carta aberta declarando apoio a Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro, por sua vez, agradeceu o apoio nas redes.
O que dizem os advogados de Bolsonaro
Em nota, a defesa de Jair Bolsonaro disse ter recebido “com surpresa e indignação” a imposição de “medidas cautelares severas” contra o ex-presidente. Ressalta, ainda, que “sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário”. Uma outra manifestação é esperada após o recebimento da íntegra da decisão.
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