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Com Bolsonaro réu e inelegível, Tarcísio vive o risco de ser o Doria de 2026

O governador paulista tem uma situação privilegiada e delicada na extrema-direita — o ‘BolsoDoria’ de 2018 não tardou a virar um amargo arrependimento

Com Bolsonaro réu e inelegível, Tarcísio vive o risco de ser o Doria de 2026
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Mauro Pimentel/AFP
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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ocupa um lugar privilegiado na corrida para receber o apoio de Jair Bolsonaro (PL) na disputa presidencial de 2026, mas a lembrança de João Doria demonstra como é delicada essa condição, avalia a antropóloga Isabela Kalil, uma das principais pesquisadoras da extrema-direita no Brasil.

Na eleição para o governo paulista em 2018, Doria, então no PSDB, mandou às favas a neutralidade tucana no segundo turno presidencial entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) e lançou a campanha “BolsoDoria”. Surfou com sucesso aquela onda de ultradireita, mas caiu em desgraça com a horda bolsonarista quando chegou a pandemia.

Doria defendeu a vacina e aplicou medidas recomendadas por especialistas para conter a disseminação da Covid-19, enquanto Bolsonaro transformou o negacionismo em política de Estado. O rompimento veio a galope e não tardaria para o então tucano admitir um “arrependimento amargo”.

João Doria para sua campanha ao governo de de São Paulo. Foto: Reprodução

“Nas redes sociais, é muito difícil ter contra si essa base mais radicalizada e violenta do bolsonarismo”, disse Kalil em entrevista a CartaCapital. “Doria passou a ter a repulsa do bolsonarismo e pagou um preço caro por isso.”

Ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio vive, por sua vez, uma situação tão destacada quanto sensível: quando diz confiar na Justiça Eleitoral, por exemplo, desperta a ira dos seguidores mais radicais de seu padrinho político. Ao mesmo tempo, porém, está ao lado dele em eventos que flertam com a ruptura institucional.

“O governador, diferentemente de Doria, conseguiu essa ambivalência de estar na extrema-direita e ter credibilidade em dialogar com setores mais ao centro e à centro-direita”, ressalta a antropóloga.

Tarcísio candidato à Presidência, no entanto, depende de dois fatores principais: ele terá de abrir mão de buscar uma bem encaminhada reeleição em São Paulo e receber a bênção de Bolsonaro. O ex-capitão, por seu turno, tende a adiar ao máximo a indicação de um “sucessor” na extrema-direita, já que precisa conservar o que lhe resta de capital político.

Réu no Supremo Tribunal Federal e inelegível por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro não deseja admitir ser uma carta fora do baralho para 2026. Insistir nessa postura funciona também como uma campanha de desinformação, diz Isabela Kalil: parte da população manterá uma dúvida genuína sobre a possibilidade de ele concorrer.

“Se ele faz isso, significa que qualquer pessoa da direita, da direita radical e da extrema-direita terá de negociar com Bolsonaro direta ou indiretamente”, resume. Isso vale para Tarcísio, mas também para outros expoentes da direita, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que mantém o lançamento de sua pré-candidatura.

Para Kalil, o desejo de Bolsonaro diante da impossibilidade de disputar a eleição seria indicar um de seus filhos. Naturalmente, Eduardo (PL-SP) desponta entre os favoritos, alçado à condição de articulador da extrema-direita brasileira com o baixo escalão do trumpismo nos Estados Unidos.

Essa escolha, contudo, não depende apenas do ex-presidente. “Cada vez mais Bolsonaro é pressionado a indicar Tarcísio o mais tardiamente que puder”, conclui a antropóloga. Essa constatação decorre do fato de setores da direita e do centrão considerarem o governador um candidato mais viável que o deputado federal licenciado.

Assista à íntegra da entrevista de Isabela Kalil a CartaCapital:

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