Justiça
Dino cita ‘Ainda Estou Aqui’ ao votar para tornar réus os acusados de golpe: ‘Cultura é fonte do Direito’
O ministro lembrou o desaparecimento de Rubens Paiva pelas mãos da ditadura para justificar o voto contra Bolsonaro e mais sete


O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, citou o filme Ainda Estou Aqui ao anunciar que acompanha o relator, Alexandre de Moraes, e defender que Jair Bolsonaro e outros sete se tornem réus pela tentativa de golpe em 2022. A Primeira Turma acolheu por 5 votos a 0 a acusação, nesta quarta-feira 26.
Na apresentação de seu voto, Dino lembrou o caso do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido no início da década de 1970, durante a ditadura militar. A história da família dele é retratada no filme de Walter Salles, vencedor do Oscar de melhor filme internacional.
“Vimos isto agora nas telas. Por um lado, pela pena de Marcelo Rubens Paiva; por outro lado, pela genialidade de Walter Salles, Fernanda Torres e outros tanto que orgulham a cultura brasileira, [que é] fonte do Direito”, destacou.
O filme, que tem Fernanda Torres como protagonista, é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado. O corpo de Rubens Paiva jamais foi encontrado.
“O que eles estão mostrando ali [no filme]? Remarcando o caráter permanente e hediondo do desaparecimento de pessoas, de tortura, de assassinatos, que derivam de um golpe de Estado”, prosseguiu Dino.
O ministro lembrou o golpe de Estado consumado em 1964, que deu início a uma ditadura que duraria 21 anos. Os militares que derrubaram João Goulart tomaram o poder entre 31 de março e 1º de abril daquele ano.
“No dia 1º de abril de 1964 também não morreu ninguém. Mas centenas, milhares morreram depois. Golpe de Estado mata. Não importa se isto é no dia, no mês seguinte ou alguns anos depois“, acrescentou. “Golpe de Estado é coisa séria. É falsa a ideia de que uma tentativa de golpe de Estado que não resultou em mortes naquele dia é uma infração de menor potencial ofensivo.”
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

O crime que a ditadura não conseguiu explicar: livro expõe os bastidores do assassinato de Rubens Paiva
Por André Lucena e Thais Reis Oliveira
Mendonça é o único a votar para tirar Moraes e Dino do julgamento da trama golpista
Por CartaCapital