Política

PSOL revive tensões internas diante de possível entrada de Boulos no governo

O deputado foi sondado para a Secretaria-Geral da Presidência, mas divergências regimentais e exigência de permanência até 2026 reacendem dilema

PSOL revive tensões internas diante de possível entrada de Boulos no governo
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O presidente Lula (PT) e Guilherme Boulos (PSOL). Foto: Miguel Schincariol/AFP
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A possível nomeação do deputado federal Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência da República tende a ressuscitar um racha no PSOL, que atingiu seu ápice no início de abril, mas arrefeceu diante da mobilização em defesa de Glauber Braga (RJ), ameaçado de cassação.

Fundado há mais de duas décadas como uma alternativa à esquerda, o PSOL vive um impasse entre manter a independência ou aderir formalmente ao governo Lula (PT). Nos últimos dias, circularam rumores de que o presidente sondou Boulos para substituir Márcio Macêdo na pasta responsável pela articulação com movimentos sociais. A conversa ocorreu no início de abril, no Palácio da Alvorada, e foi relatada pelo deputado a aliados, como revelou o Estadão e confirmou CartaCapital.

Segundo pessoas próximas, Boulos disse ter ouvido de Lula que o eventual convite implicaria o compromisso de permanecer no cargo até o fim do governo — o que o impediria de disputar a reeleição à Câmara ou uma vaga no Senado em 2026, já que ministros candidatos precisam deixar os cargos até seis meses antes do pleito.

Mais da metade dos ministros de Lula já sinalizou que deixará o governo para disputar eleições. “O presidente não quer a Esplanada cheia de candidatos”, resume, sob reserva, um assessor. Esse é um dos principais obstáculos à reforma ministerial: Lula resiste a nomear nomes que sairiam meses depois.

O convite a Boulos ainda não foi formalizado. Interlocutores de Lula, porém, afirmam que o deputado já sinalizou que aceitariaas as condições para integrar o governo. A decisão, contudo, só deve ser tomada após o retorno de Lula do exterior.

Se confirmada a ida de Boulos para a Esplanada, o PSOL enfrentará novas tensões internas. O grupo liderado por ele — majoritário na legenda — defende uma aproximação com o governo, mas convive com alas que denunciam o que chamam de “adesismo”. A direção partidária, por sua vez, vê na empreitada a chance de ampliar a capacidade de diálogo do governo com os movimentos sociais, além de um reconhecimento da liderança política de Boulos.

Esse entendimento, contudo, esbarra na visão dos grupos minoritários, que defendem a abertura de um debate sobre a resolução publicada pelo Diretório Nacional aprovada pouco antes da posse de Lula caso o convite a Boulos seja formalizado.

Intitulado PSOL com Lula contra o bolsonarismo e pelos direitos do povo brasileiro, admite que o partido integre a base do governo no Congresso, com liberdade para divergir em temas específicos — e sem ocupar cargos no Executivo. A única exceção, segundo o texto, é a ministra Sonia Guajajara (Povos Indígenas), devido à sua “representatividade”.

“Estaremos presentes nas trincheiras do parlamento e nas lutas do povo brasileiro, combatendo a extrema-direita e defendendo o governo democraticamente eleito, mas o PSOL não terá cargos na gestão que se inicia”, pontua o texto. “Enquanto o Centrão negocia cargos, o PSOL irá privilegiar a negociação de propostas”.

Além de Boulos, defendem o alinhamento com o Planalto as deputadas Érika Hilton (SP), Talíria Petrone (RJ) e Célia Xakriabá (MG). Para esse grupo, embora o governo Lula tenha contradições, ele representa o único caminho possível para conter a extrema-direita.

Por sua vez, a ala minotária, cujas principais figuras são Glauber Braga, Fernanda Melchionna (RS) e Sâmia Bomfim (SP), considera ter havido uma “extrapolamento” na relação com a gestão petista e defende que o apoio não seja irrestrito, sobretudo com espaço para críticas em determinadas pautas.

Já a ala minoritária — liderada por Glauber Braga, Fernanda Melchionna (RS) e Sâmia Bomfim (SP) — critica a aproximação excessiva e defende uma relação mais autônoma, com liberdade para críticas e oposição pontual.

O embate ganhou força em fevereiro, após o economista David Deccache afirmar que foi exonerado da liderança do partido na Câmara por motivos políticos. Crítico da política econômica do governo, ele integra uma tendência mais radical, defensora da independência partidária.

Após semanas de bate-bocas e tensões nos bastidores, o clima interno esfriou diante da mobilização contra a cassação de Glauber. O deputado pode perder o mandato por expulsar, aos chutes, um militante do MBL que o insultou na Câmara. O parecer pela perda do mandato foi aprovado no Conselho de Ética e aguarda votação em plenário.

Boulos e a presidente nacional do PSOL, Paula Coradi, foram procurados, mas não se manifestaram.

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