Mundo
Polícia anuncia detenção do prefeito de Istambul, principal opositor de Erdogan na Turquia
A prisão de Ekrem Imamoglu ocorre no momento em que ele encaminha o lançamento da sua candidatura presidencial; o político, segundo a imprensa local, foi preso sob acusações de corrupção e apoio ao terrorismo


O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal opositor do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi detido nesta quarta-feira 19, assim como dezenas de colaboradores e deputados e integrantes de seu partido, que denuncia um “golpe de Estado” contra a oposição.
O popular e carismático prefeito é acusado de “corrupção” e, segundo a agência oficial Anadolu, de “terrorismo”.
O prefeito, que no próximo domingo seria proclamado candidato de seu partido nas próximas eleições presidenciais, previstas para 2028, foi levado para um centro policial, segundo pessoas próximas.
Um vídeo publicado na rede social X mostra o prefeito, de 53 anos, denunciando a operação contra sua residência: “Centenas de policiais chegaram à minha porta (…) Confio em minha nação”, disse.
Centenas de pessoas se reuniram atrás das barreiras do centro de detenção, gritando slogans como “governo, renúncia” e “Imamoglu, você não está sozinho”.
Apoiadores do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, tomam as ruas da cidade após a prisão do político, considerado o principal opositor do presidente Erdogan na Turquia.
Foto: YASIN AKGUL / AFP
A detenção provocou uma forte desvalorização da lira turca em relação ao dólar e o fechamento temporário da Bolsa de Istambul devido a uma queda de 6,87% do índice de referência.
Antes do amanhecer
“Os policiais chegaram logo depois da ‘zahora’ (a refeição antes do amanhecer durante o Ramadã). Ekrem começou a se preparar (…) Saíram de casa por volta das 7h30”, declarou a esposa do prefeito, Dilek Imamoglu, ao canal de televisão privado NTV.
Segundo um comunicado do gabinete da Procuradoria de Istambul, Imamoglu é acusado de corrupção e extorsão, além de ser apontado como o líder de uma “organização criminosa com fins lucrativos”.
O ministro da Justiça indicou que o prefeito e outas seis pessoas são acusadas de “apoio ao terrorismo” por supostos vínculos com o ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão.
O governador de Istambul proibiu comícios e manifestações até domingo, mas muitos apoiadores do prefeito, que tinha um evento programado para esta quarta-feira, seguiram para a sede da prefeitura, cercada por barricadas.
A emblemática praça Taksim, no centro de Istambul, local tradicional de manifestações, está completamente fechada.
“Estamos em uma ditadura”, disse um lojista que se identificou apenas com o primeiro nome, Kuzey.
“Esse cara e seu grupo sujo nos odeiam. Quando precisam lidar com alguém forte, fazem algo ilegal”, acrescentou, em referência a Erdogan.
Özgur Özel, presidente do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), a legenda de Imamoglu, denunciou “um golpe de força para obstruir a vontade do povo” e “contra o próximo presidente” da Turquia.
Assédio judicial
“O que aconteceu esta manhã é nada menos que um golpe de Estado contra o principal partido da oposição, com consequências de longo alcance para o futuro político do país”, disse Berk Esen, cientista político da Universidade Sabanci de Istambul.
“Esta decisão empurra a Turquia ainda mais pelo caminho da autocracia, seguindo o exemplo da Venezuela, Rússia e Belarus”, acrescentou.
Imamoglu é o único na disputa para representar seu partido nas próximas eleições presidenciais, previstas para 2028, e deveria ser oficialmente designado no próximo domingo, nas primárias do CHP.
Na terça-feira, a Universidade de Istambul anulou seu diploma, o que adicionou um novo obstáculo à sua candidatura.
A Constituição determina a obrigatoriedade de um diploma universitário para qualquer candidato ao cargo de chefe de Estado.
Imamoglu classificou a decisão como “ilegal” e anunciou que pretende recorrer nos tribunais.
O prefeito é alvo de outras cinco investigações judiciais, duas delas iniciadas em janeiro. Em 2023, Imamoglu foi impedido de fato de disputar a eleição presidencial devido a uma condenação com suspensão condicional da pena por “insultos” contra integrantes do Comitê Eleitoral Turco.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.