Política

CCJ do Senado adia votação da PEC das Praias

Pedido de vista feito por integrantes da base do governo interrompeu a tramitação do texto que pode ‘privatizar’ parte do litoral brasileiro

CCJ do Senado adia votação da PEC das Praias
CCJ do Senado adia votação da PEC das Praias
Praia do Pina - Recife, Pernambuco, Brasil. Foto: Portal da Copa/ME/Wikimedia Commons
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A Comissão de Constituição e Justiça do Senado adiou, nesta quarta-feira 4, a votação da PEC das Praias, após um pedido de vista feita pela base governista. A proposta de emenda à constituição prevê a transferência de terras de marinha para estados, municípios ou particulares.

A princípio, a votação da proposta foi adiada para a semana que vem mas, segundo a assessoria da CCJ, é possível que a votação não volte a ocorrer este ano dada outras pautas já previstas.

Hoje, é considerado terreno de marinha toda área do litoral brasileiro numa faixa de 33 metros a partir do mar em direção ao continente. A delimitação se baseia na Carta Náutica de 1831 e não é exata já que as marés se alteraram desde então. Segundo a Constituição, esses terrenos pertencem ao governo brasileiro sem relação com a Marinha, um dos braços das Forças Armadas.

A PEC das Praias prevê justamente transferir a posse integral desses terrenos para estados, municípios ou ocupantes particulares. Nos dois primeiros casos, a transferência seria gratuita; no terceiro, mediante pagamento de taxa.

A proposta, apresentada na Câmara dos Deputados em 2011, e aprovada pela Casa em fevereiro de 2022, começou a ser discutida pela CCJ do Senado em maio deste ano, sob forte movimento contrário. O temor é de que as praias possam ser privatizadas ao terem um proprietário único.

Diante o impasse, o texto da PEC sofreu alterações, como a proposta feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), autor da PEC, de acrescentar que as ‘praias são públicas’. A mudança não é vista como suficiente pela oposição.

Na terça-feira 3, a Procuradoria Geral da República se manifestou contra a proposta. Em nota, afirmou que a PEC cria regime “excludente e privilegiado para poucas pessoas”.

“A PEC pretende alterar um sistema existente há mais de cem anos, sedimentado na CF/1988, para beneficiar todas as classes sociais da população brasileira, com o intuito de criar um regime excludente e privilegiado para poucas pessoas. Como os terrenos poderiam ser transferidos para proprietários particulares”, apontou a PGR, em um trecho do comunicado.

O órgão ainda considerou impactos no combate às mudanças climáticas ao prever a extinção da faixa de segurança das praias, que ajudam proteger o ecossistema marinho, como áreas de manguezal, restinga e apicuns, consideradas “primordiais para preservar os territórios e os modos de vida”.

Por fim, a PGR apontou que, ao possibilitar a restrição do uso coletivo das praias, a PEC viola cláusula pétrea da Constituição.

Se aprovada pela CCJ, a PEC precisará ser votada em dois turnos no plenário do Senado, sendo necessário o apoio de 3/5 dos parlamentares (ou seja, 49 dos 81 senadores) para avançar. Se houver mudanças significativas no texto, ele volta para apreciação da Câmara, onde já foi aprovada.

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