Sociedade
Acusações de antissemitismo na PUC-SP levantam dúvidas sobre procedimento e intenções
Os professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman foram chamados a prestar esclarecimentos após uma denúncia; nenhum detalhe objetivo, contudo, foi apresentado até o momento


Um suposto caso de antissemitismo envolvendo os professores Reginaldo Nasser, colunista de CartaCapital, e Bruno Huberman, do departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), veio à tona na última terça-feira, 19. A denúncia partiu de um grupo de estudantes sionistas e foi levada à Fundasp, mantenedora da instituição.
O episódio remonta ao final de agosto, quando grupos contrários às ações de Israel na Faixa de Gaza organizaram um protesto no campus. Estudantes sionistas consideraram a manifestação ofensiva e buscaram a Fundasp, que declarou, em nota, que “o ato foi eivado de conteúdo e falas discriminatórias, antissemitas e ofensivas”. A mantenedora também afirmou que o episódio “repercutiu nas redes sociais” passando a “mirar estudantes judeus”.
A CartaCapital, Bruno Huberman classificou a acusação como nebulosa e mencionou dificuldades para obter esclarecimentos. “A Fundasp tem se recusado a revelar o teor das denúncias. A gente tem insistido nisso, mas eles têm se recusado”, conta. “Eu só soube disso porque insisti em saber porque estava sendo convocado. Nunca a PUC-SP passou por isso antes”.
Também à reportagem, Reginaldo Nasser reforça que tanto ele quanto Huberman foram informados das acusações apenas de forma genérica.
“Recebemos uma ligação convocando para uma reunião, mas o e-mail que pedimos detalhando a questão foi igualmente vago. Não sabemos do que se trata e conheceremos os detalhes no dia 26, quando seremos ouvidos separadamente.”
Ele reforça o ceticismo em relação ao caso e questiona se essas denúncias teriam sido alimentadas por interesses externos à universidade. “Em 35 anos de PUC, é a primeira vez que vejo algo assim.”
Huberman, que tem se posicionado criticamente contra as incursões militares de Israel no Oriente Médio, ressaltou que “críticas ao Estado nunca são críticas dirigidas a um grupo étnico-racial. Você pode criticar Israel sem que isso seja antissemitismo”.
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