Sociedade
Delator do PCC denunciou policiais à Corregedoria dias antes de ataque em Guarulhos
A informação foi repassada à imprensa pelo secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite, nesta segunda-feira


Oito dias antes de ser executado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, Antonio Vinicius Lopes Gritzbach delatou à Corregedoria da Polícia Civil que agentes da corporação cometeram extorsão contra ele. O crime aconteceu na última sexta-feira 8.
O depoimento foi colhido logo após Gritzbach mencionar os episódios de coação em delação premiada firmada pelo Ministério Público paulista. A íntegra do acordo permanece sob sigilo, mas alguns trechos foram compartilhados com a cúpula da Polícia. A informação foi repassada à imprensa pelo secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite, nesta segunda-feira 11.
“Achei essa atitude (compartilhamento de trechos da delação) extremamente correta, haja vista que, como todos nós sabemos, ele estava delatando membros de organizações criminosas, acusado inclusive de um duplo homicídio contra membros do PCC, poderia acontecer algo nesse sentido, que foi o que aconteceu”, acrescentou Derrite.
Uma das linhas de investigação sobre a morte do empresário envolve justamente a possibilidade de o assassinato ter sido cometido pelos policiais acusados pelo delator. O secretário ainda anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar o atentado, que também deixou um motorista de aplicativo morto.
Derrite ainda informou que cinco policias militares que faziam a segurança particular de Gritzbach também são investigados por suposta ligação com o PCC. O inquérito administrativo havia sido aberto cerca de um mês antes do crime e tramita sob sigilo. Eles foram indicados para trabalhar com o empresário por meio de um tenente da PM.
Essa prática é proibida pelo regulamento da corporação, sendo classificada como uma transgressão grave. No sábado, os cinco foram afastados de suas funções até o final das investigações e tiveram seus celulares apreendidos. Investigadores trabalham com a possibilidade de os seguranças do delator terem participado da emboscada contra ele.
“[Os policiais] terão que explicar o que faziam, porque só o simples fato de realizarem serviço extraoficial já configura transgressão disciplinar. Além disso, estavam fazendo isso [escolta] para um indivíduo criminoso”, pontuou o secretário.
Gritzbach foi executado na área de desembarque do aeroporto por volta das 16h. Ele era ameaçado de morte pelo PCC e pivô de uma guerra interna na facção criminosa. Nas imagens das câmeras de segurança, a vítima aparece carregando uma mala na área externa, onde há uma fila de carros, quando dois homens encapuzados descem de um veículo preto e efetuam ao menos 29 disparos.
O empresário tenta fugir e pula a mureta que divide a via, mas cai logo em seguida. O delator foi atingido por dez tiros: 4 tiros no braço direito, 2 no rosto, um nas costas, um na perna esquerda, um no tórax e um no flanco direito (região localizada entre a cintura e a costela).
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