Mundo

Eleição nos EUA: Trump chega a 277 delegados e vence a disputa contra Kamala

Pelo sistema eleitoral norte-americano, o republicano precisava conquistar 270 delegados para retornar à Casa Branca

Eleição nos EUA: Trump chega a 277 delegados e vence a disputa contra Kamala
Eleição nos EUA: Trump chega a 277 delegados e vence a disputa contra Kamala
O ex-presidente dos EUA e candidato republicano Donald Trump cumprimenta apoiadores em evento eleitoral em West Palm Beach, Flórida (Foto: Jim WATSON / AFP)
Apoie Siga-nos no

O republicano Donald Trump somava 277 votos no colégio eleitoral até as 7h30 desta quarta-feira 6, enquanto a democrata Kamala Harris tinha 224, segundo projeções da mídia norte-americana para a eleição presidencial. O resultado dá a vitória ao republicano.

Trump retorna ao posto de presidente dos EUA após uma vitória em mais da metade dos 50 estados, incluindo os estados-pêndulo da Carolina do Norte, Geórgia e Pensilvânia, além dos fundamentais Texas e Ohio. A volta ao cargo foi cercada pela promessa de “unidade” — curiosa, vinda de uma figura cuja carreira foi moldada pela polarização.

Em um tom aparentemente conciliador, Trump afirmou em sua festa de apuração, na madrugada de quarta-feira, que era “hora de unir” o país. “É hora de deixar para trás as divisões dos últimos quatro anos”, disse. Com uma insistência em uma ideia de ‘união nacional’, acrescentou que era necessário “colocar o país em primeiro lugar, pelo menos por um tempo,” e “consertá-lo.”

Ele reivindicou a vitória quando atingiu 266 delegados, por volta das 5h desta quarta-feira. No discurso, prometeu “curar” os EUA, retomando suas principais promessas de campanha. Kamala, por sua vez, cancelou o pronunciamento que faria na Universidade Howard, em Washington, tradicionalmente frequentada por estudantes negros, onde a democrata também estudou.

Os republicanos também retomaram dos democratas o controle do Senado, mudando o equilíbrio de poder em uma instância essencial para aprovar reformas.

São necessários pelo menos 270 delegados para vencer a disputa. Veja a divisão até aqui:

Donald Trump, com 277 delegados:

  • Texas – 40
  • Flórida – 30
  • Pensilvânia – 19
  • Ohio – 17
  • Geórgia – 16
  • Carolina do Norte – 16
  • Tennessee – 11
  • Indiana – 11
  • Missouri – 10
  • Louisiana – 8
  • Kentucky – 8
  • Oklahoma – 7
  • Utah – 6
  • Iowa – 6
  • Mississippi – 6
  • Arkansas – 6
  • Kansas – 6
  • Carolina do Sul – 9
  • Alabama – 9
  • Montana – 4
  • Idaho – 4
  • Virgínia Ocidental – 4
  • Dakota do Norte – 3
  • Dakota do Sul – 3
  • Wyoming – 3
  • Nebraska – 4 de 5 votos
  • Maine – 1 de 2
  • Wisconsin – 10

Kamala Harris, com 224 delegados:

  • Califórnia – 54
  • Colorado – 10
  • Connecticut – 7
  • Delaware – 3
  • Distrito de Colúmbia – 3
  • Havaí – 4
  • Illinois – 19
  • Maine – 1
  • Maryland – 10
  • Massachusetts – 11
  • Minnesota – 10
  • Nebraska – 1 de 5
  • New Hampshire – 4
  • Nova Jersey – 14
  • Novo México – 5
  • Nova York – 28
  • Oregon – 8
  • Rhode Island – 4
  • Vermont – 3
  • Virgínia – 13
  • Washington – 12

As primeiras urnas fecharam às 20h (de Brasília). Não há no país um horário único para o encerramento da votação e, por isso, as regras variam entre os estados.

À meia-noite de Brasília, Nevada, o último estado-pêndulo, encerrou sua votação. Antes, fecharam as urnas Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Arizona e Carolina do Norte.

Os primeiros resultados nos swing states vieram da Carolina do Norte e da Geórgia e foram favoráveis a Trump, que superou Kamala nos dois.

Embora a apuração norte-americana seja tradicionalmente mais lenta que a brasileira, o desfecho se deu de forma significativamente mais ágil que o de 2020.

Naquele ano, em plena pandemia, a vitória de Joe Biden sobre Trump só foi confirmada quatro dias após o pleito. Desta vez, mudanças em alguns estados acelerararam o processo – em Michigan, por exemplo, votos enviados pelos correios puderam ser contabilizados antes do dia da eleição, enquanto a Filadélfia reforçou suas operações com novos equipamentos.

O papel dos swing states

O conceito de swing states soa estranho para brasileiros, mas é chave para compreender as eleições americanas, onde o vencedor não é definido pela maioria simples do voto popular. Lá, o que decide o pleito é um colégio eleitoral formado a partir da votação dos candidatos em cada um dos 50 estados. Ganhar em número de eleitores, portanto, não garante necessariamente a vitória.

Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton somou 48% dos votos populares, mas foi Trump, com 46%, quem venceu no colégio eleitoral ao conquistar os estados estratégicos.

Como funciona o colégio eleitoral norte-americano

O colégio eleitoral dos EUA reúne 538 delegados – em geral congressistas, funcionários e autoridades locais dos partidos. Embora seus nomes não apareçam nas cédulas, esses delegados representam cada estado de acordo com a soma de seus representantes na Câmara (proporcional à população) e no Senado (dois por estado). A Califórnia, por exemplo, dispõe de 54 delegados, enquanto o Texas conta com 40. Já estados menores, como Vermont, Alasca, Wyoming e Delaware, têm apenas três.

Em quase todos os estados, o candidato mais votado leva todos os delegados – com exceção de Nebraska e Maine, que optam por uma divisão proporcional. São estas peculiaridades que fazem com que, mesmo com mais de 200 milhões de eleitores aptos a votar, algumas dezenas ou centenas de milhares de votos — concentrados nos sete estados-pêndulo – possam decidir o resultado.

Esses estados, sem uma inclinação clara para democratas ou republicanos, somam 93 dos 538 delegados.

Assim, o objetivo dos candidatos não era ter a maioria dos votos no país, mas vencer em estados estratégicos para alcançar o número decisivo de 270 delegados.

São eles:

  • Pensilvânia, o mais desejado, com 19 delegados;
  • Michigan, com 15 delegados;
  • Wisconsin, com 10 delegados;
  • Geórgia, com 16 delegados;
  • Carolina do Norte, com 16 delegados;
  • Arizona, com 11 delegados;
  • Nevada, com 6 delegados.

Campanhas digitais e o embate entre Trump e Kamala

Para Trump, a campanha vem sendo gestada desde o ano passado. Para Kamala começou de fato apenas em julho, com a desistência de Biden.

Kamala iniciou a corrida com energia, gerando expectativas sobre um caminho menos árduo rumo à Casa Branca. Contudo, com o avanço da disputa, esse fôlego diminuiu.

Nesta terça-feira, sem surpresas, Donald Trump voltou a espalhar desinformação nas redes sociais —incluindo a afirmação infundada de que a lutadora argelina Imane Khelif seria transgênero. Também recorreu a seu conhecido repertório, chamando os democratas de “comunistas” — um rótulo comum entre a extrema-direita, tanto nos EUA quanto no Brasil, para deslegitimar adversários.

Kamala Harris, por sua vez, intensificou a presença nas redes, estimulando os americanos a votar. “Chegou o dia da eleição. Hoje, votamos porque amamos o nosso país e acreditamos na promessa dos Estados Unidos”.

Havia também uma dúvida sobre o que faria Trump diante de uma eventual derrota. Pesquisas mostram que dois em cada três americanos temem episódios de violência pós-eleitoral, um receio alimentado pela memória vívida de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores do republicano invadiram o Capitólio.

Para piorar, Trump não recuou ao longo da campanha deste ano em suas alegações de “fraude”. No último domingo 3, tornou a dizer que os democratas “lutam muito para roubar” a eleição deste ano. Nesta terça, porém, pareceu contemporizar: “Se as eleições forem justas, eu seria o primeiro a reconhecer isso. Até agora penso que têm sido justas”, disse, na Flórida.

Ainda não se pode, contudo, dizer o mesmo sobre seus eleitores. Uma pesquisa de outubro da rádio pública NPR apontou que 88% dos eleitores que endossam o ex-presidente acreditam que houve fraude eleitoral no país, contra 29% dos partidários de Kamala.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo