Política

No último debate, Boulos enfatiza suspeitas de corrupção e Nunes tacha o oponente de extremista

O encontro ocorreu em um momento favorável para o prefeito nas pesquisas; o candidato do PSOL busca fatos novos para alterar o ânimo do eleitorado

No último debate, Boulos enfatiza suspeitas de corrupção e Nunes tacha o oponente de extremista
No último debate, Boulos enfatiza suspeitas de corrupção e Nunes tacha o oponente de extremista
Foto: Globo/Bob Paulino Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). Foto: Bob Paulino/Globo
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O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) se enfrentaram na noite desta sexta-feira 25 no último debate antes do segundo turno em São Paulo, organizado pela TV Globo.

O encontro ocorreu em um contexto favorável para Nunes, que ostenta uma vantagem relativamente confortável nas principais pesquisas de intenção de voto. Boulos, por sua vez, conseguiu reduzir ligeiramente a diferença para o prefeito, mas ainda busca fatos novos para mudar o clima da reta final da eleição.

O candidato do PSOL dobrou sua aposta na menção a suspeitas de corrupção envolvendo a gestão do emedebista. Citou, por exemplo, a “máfia das creches”, um suposto esquema de desvio de verbas públicas sob investigação da Polícia Federal.

O prefeito foi citado em um relatório da corporação por suspeitas de receber recursos em sua conta pessoal em 2018, quando ainda era vereador, de uma empresa envolvida no suposto esquema. Ele nega qualquer irregularidade.

“Você não respondeu por que o dinheiro caiu na sua conta e não na da sua empresa”, disparou o psolista. A exemplo do que ocorreu em outros debates, Boulos desafiou Nunes a abrir seu sigilo bancário e disse que faria o mesmo.

“O que ele [Boulos] ganhou neste segundo turno foi o recorde de 32 condenações [na Justiça Eleitoral], porque fica inventando essas mentiras”, redarguiu o prefeito.

Boulos também relembrou suspeitas de repasse de dinheiro pela prefeitura a empresas de ônibus acusadas de lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital, o PCC.

Em outro momento, insistiu na tática de caracterizar Nunes como um prefeito fraco e afirmou que essa condição seria uma porta de entrada para o crime organizado.

Outro ponto central da estratégia do deputado federal no debate foi destacar a palavra “mudança”, acusando Nunes de tentar provocar medo nos eleitores. “Estou aqui para dizer que você pode votar tranquilo na mudança”, afirmou.

Ricardo Nunes, por sua vez, insistiu na tentativa de pintar Boulos como um candidato extremista e inexperiente. Alegou que o adversário defendia a descriminalização das drogas e do aborto e era contra a Polícia Militar.

“Ele não gosta da Polícia Militar, sempre votou contra o aumento de penas”, disse o candidato à reeleição, em referência ao fato de o deputado federal não ter votado um projeto de lei na Câmara para elevar penas. Boulos disse que não participou da sessão porque estava em uma reunião com o presidente Lula (PT).

O prefeito defendeu, também, sua aliança com Jair Bolsonaro (PL) e sustentou que o então presidente da República foi o responsável pela compra de vacinas na pandemia. Omitiu, porém, o negacionismo do ex-capitão ao longo da crise sanitária.

“Se tem um extremista neste debate é você. Você anda com Bolsonaro, o cara que trabalhou contra a vacina e tentou golpe”, devolveu Boulos.

Boulos expôs sua aliança com Lula e exaltou o fato de contar com o apoio de Tabata Amaral (PSB), quarta colocada no primeiro turno. Nunes destacou, além de Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A Globo optou por dividir o debate em quatro blocos, durante os quais os candidatos puderam circular livremente pelo estúdio. No primeiro e no terceiro blocos, o formato foi de tema livre. No segundo e no quarto blocos, os temas foram determinados.

Acompanhe os destaques do debate:

Quarto bloco:

Transporte público: Boulos diz que Nunes dobrou o volume de recursos gastos como subsídio às empresas de ônibus, enquanto essas companhias reduziram as viagens em 20%. O prefeito mencionou a necessidade de manter gratuidades como aquela para idosos e pessoas com deficiência, além de evitar uma disparada na tarifa comum.

“Brincadeira”: “Quer invadir meu espaço?”, provocou Nunes pela segunda vez no debate após Boulos se aproximar dele.

Moradia: Habitação é o tema inicial do quarto e último bloco. Nunes exaltou sua gestão na área e perguntou se Boulos aprova o programa “Pode entrar”. O psolista disse que a iniciativa surgiu na gestão de Bruno Covas e fez elogios a ela.

“Por que a população em situação de rua mais do que dobrou no seu governo, chegando a mais de 80 mil pessoas?”, completou Boulos. Ele ainda disse que “resolverá” o problema caso vença a eleição. Nunes contestou os números e afirmou que o adversário superdimensiona os dados.

(Em atualização)

Terceiro bloco:

Direito de resposta: No fim do terceiro bloco, Boulos ganhou o seu primeiro.

Reiteração: Nunes, a exemplo que fez em outros casos, alegou que Boulos não sabe o que é trabalhar. O psolista afirmou que o prefeito desrespeita os professores ao fazer essa afirmação.

“Extremismo”: “Se tem um extremista neste debate é você. Você anda com Bolsonaro, o cara que trabalhou contra a vacina e tentou golpe”, afirmou Boulos sobre Nunes. O prefeito, como de praxe, tenta apresentar Boulos como um candidato “radical”.

Provocação: “Ricardo parece uma criança que anda de bicicleta de rodinha: uma rodinha é o Tarcísio, a outra é o Bolsonaro”, disse Boulos em referência aos principais aliados do prefeito, que em diversos momentos checa colas em papel.

Segredo: Boulos voltou a dizer que abriria seu sigilo bancário e desafiar Nunes a fazer o mesmo. “Por que você não abre?”, perguntou o deputado do PSOL. “Tática de marketing. Imagina uma pessoa condenada 32 vezes no segundo turno por ficar inventando mentiras”, devolveu o prefeito.

Transparência: Boulos citou pela primeira vez a “máfia das creches”, um suposto esquema de desvio de verbas públicas sob investigação da Polícia Federal. A PF concluiu que houve desvio de dinheiro público na gestão de creches municipais, indiciou 111 pessoas suspeitas de participação no esquema e decidiu prosseguir em uma apuração sobre Nunes.

O prefeito foi citado em um relatório da PF por suspeitas de receber recursos em sua conta pessoal em 2018, quando ainda era vereador, de uma empresa envolvida no suposto esquema. O prefeito alegou no debate se tratar de uma mentira.

Segundo bloco:

Insistência: Nunes pediu oito, mas ganhou apenas um direito de resposta. “Cesar [Trali], por favor, ele fica falando um monte de coisas”, afirmou o prefeito, contrariado.

Clima esquenta: “Por que a sua gestão superfaturou até garrafinha de água no Carnaval”, perguntou Boulos a Nunes no encerramento do bloco.

Aliança progressista: Boulos exaltou o apoio recebido de Tabata Amaral (PSB) e mencionou a incorporação de uma proposta dela ao seu programa de governo, voltado a jovens empreendedores.

Provocação: Nunes ironizou o fato de a vice de Boulos, Marta Suplicy, ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em seus tempos de senadora.

Condições de trabalho: “Trabalho é a melhor ferramenta para diminuição da desigualdade social”, afirmou Nunes. Defendeu desburocratização, combate à corrupção e um espaço saudável para os paulistanos empreenderem. Boulos defendeu a criação do CEU Profissões, com estúdio de audiovisual e formação em economia digital.

Repetição: Nunes voltou a afirmar que Boulos não tem experiência. É uma prática comum desde o início do segundo turno. “Você teve a chance e não fez. Teve três anos e meio, tempo e dinheiro”, disse o candidato do PSOL na sequência. “Estou pedindo que me deem essa chance, para que eu possa fazer.”

Momento curioso: Enquanto debatiam sobre saúde, Boulos acusou Nunes de sorrir ironicamente. O prefeito alegou que sorria em direção à filha, na plateia.

Saúde: Boulos disse que paulistanos não encontram remédios, médicos e exames em menos de um ano no Sistema Único de Saúde em São Paulo. Nunes afirmou ter elevado os investimentos na área.

Primeiro bloco:

Encerramento: “Não vote com medo”, disse Boulos em sua última participação no primeiro bloco.

Embate direto: “Quem tem duas caras é você”, disse Boulos a Nunes, após o prefeito questionar supostas mudanças de opinião ao longo dos anos. O candidato do PSOL citou como exemplo a alteração no pensamento do prefeito sobre o “passaporte da vacina” na pandemia da Covid-19.

Segurança pública: “Você deixaria seus filhos brincarem às 23h na Praça da Sé”, questionou Boulos. Nunes alegou que o local, no centro da cidade, seria seguro.

À venda: Nunes defendeu a privatização da Sabesp, uma bandeira do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado. Também disse que sua gestão na prefeitura é “liberal”. “A Sabesp pode virar a Enel da água”, provocou Boulos.

Incisivo: Logo em sua primeira participação, Boulos disse que Nunes não foi um bom prefeito e que ele não foi firme quando São Paulo precisou. Enfatizou pela primeira vez a palavra “mudança”: “Estou aqui para dizer que você pode votar tranquilo na mudança”.

Abertura: segurança pública é o primeiro tema do debate, escolhido por Nunes. O prefeito perguntou se Boulos é contrário ao “aumento de pena para criminosos”. Boulos não mordeu a isca e disse que há 20 anos decidiu morar no Campo Limpo, na zona sul da capital paulista. “Foi uma decisão de vida, de lutar ao lado das pessoas que mais precisavam por moradia.”

***

Um levantamento Datafolha divulgado na última quinta-feira 24 mostra Nunes na liderança da disputa com 49% das intenções de voto, contra 35% de Boulos. Um dia antes, uma pesquisa Quaest apontou a distância em 9 pontos: 44% a 35%.

Sem inserções na TV, o debate foi uma das últimas cartas na manga de Boulos, após o apagão em São Paulo arranhar, mas não derrubar Nunes nas pesquisas. A rejeição ao psolista segue alta (55% no Datafolha, ante 37% do adversário), o que gerava ainda mais expectativa sobre sua postura no encontro desta sexta.

Horas antes do programa, Boulos participou de uma espécie de sabatina promovida no YouTube pelo ex-coach Pablo Marçal (PRTB), candidato derrotado no primeiro turno. Um dos coordenadores da campanha do psolista, Juliano Medeiros vê como grande trunfo da live a chance de atingir um público geralmente distante da esquerda.

“Não acho que a sabatina mudará o rumo da eleição, mas foi um esforço adicional para a gente seguir dialogando com um eleitor que não está confortável de votar no Ricardo Nunes”, admite. Medeiros entende que a carreira política de Marçal ainda é recente e, por isso, os mais de 1,7 milhões de paulistanos que votaram no candidato do PRTB estariam em disputa.

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