Opinião

Segurança energética passa pela exploração de novas fronteiras no País e no exterior

A segurança energética do Brasil a médio e longo prazo precisa ser pensada no equilíbrio entre a produção de petróleo e gás natural e a reposição de suas reservas

Segurança energética passa pela exploração de novas fronteiras no País e no exterior
Segurança energética passa pela exploração de novas fronteiras no País e no exterior
Imagem: Agência Petrobras
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O setor de petróleo e gás natural, que representa cerca de 10% do PIB industrial brasileiro, seguirá contribuindo firmemente para o crescimento econômico do País, gerando de emprego e de renda. E mesmo em meio às iniciativas voltadas para a transição energética, a produção nacional de petróleo e gás seguirá crescendo ao longo dos próximos anos, segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Deverá alcançar em torno de 5,2 milhões barris de óleo equivalente por dia em 2031, acima dos atuais 3,7 milhões de barris de petróleo por dia, que colocam o Brasil na posição de nono maior produtor de óleo do mundo e o primeiro da América Latina.

A segurança energética do Brasil a médio e longo prazo passa necessariamente, contudo, pelo equilíbrio entre a produção de petróleo e gás natural e a reposição de suas reservas. E para que o País não corra o risco de romper esse equilibro estratégico, é imprescindível buscar alternativas exploratórias – em território brasileiro e no exterior, conforme mostram projeções da Agência Nacional de Petróleo e da Empresa de Pesquisa Energética.

Segundo a ANP, a proporção entre as reservas provadas e a produção brasileira de petróleo e gás natural é de apenas 13 anos, considerando os números de 2023, quando a produção média foi de 3 milhões de barris por dia.

Já as estimativas da EPE indicam que, a partir de 2030, a curva de produção de petróleo no Brasil atingirá seu pico e tenderá a entrar em declínio, mesmo com a entrada em produção de recursos ainda não descobertos.

Segundo a EPE, 94% da produção de petróleo projetada para esse período terá origem nos chamados Recursos Descobertos. Diante desse cenário, e do fato de que o intervalo entre a descoberta de novas reservas e o início da produção pode levar até 10 anos, dependendo das características geológicas das jazidas, torna-se indispensável a realização de investimentos exploratórios especialmente em novas fronteiras. Ou seja, a busca de novas reservas se faz necessária para manter o nível de produção e reservas do país de modo a assegurar a segurança energética nacional.

Campanhas exploratórias da Petrobras em bacias nacionais permanecem sendo fundamentais. Porém, aquisições no exterior, como as recentemente anunciadas pela empresa no continente africano, também são importantes, tanto para a reposição de suas reservas quanto para consolidar uma nova e relevante posição da companhia no contexto internacional, em consonância com a retomada do protagonismo da diplomacia brasileira em direção ao Sul Global, particularmente em seu entorno estratégico.

Dados divulgados pela Petrobras reforçam ainda mais a necessidade de atenção à recomposição das reservas de petróleo e gás natural. Em 2023, as reservas provadas de petróleo, condensado e gás natural da empresa estatal foram estimadas em 10,9 bilhões de barris de óleo equivalente (boe). Com base nesses números e na produção da companhia, a relação entre reserva e produção da Petrobras, em 2023, é de aproximadamente 12,2 anos, o que significa que as reservas provadas seriam suficientes para sustentar a atual taxa de produção da empresa por pouco mais de uma década, como calculam pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o Ineep.

O Brasil  possui ainda significativas fronteiras exploratórias, com destaque para a Margem Equatorial – que, no entanto, ainda enfrenta incertezas decorrentes de questões socioambientais – e a Bacia de Pelotas, cujas receitas serão essenciais para financiar investimentos em tecnologias indispensáveis à transição energética.

Aliados aos movimentos internos da Petrobras, os investimentos da empresa no segmento de Exploração e Produção (E&P) no exterior refletem um reposicionamento estratégico da companhia e representam uma ruptura com as políticas da gestão anterior, uma vez que promove aumento dos investimentos em E&P no Brasil e no mercado internacional.

É nesse contexto que se colocam aquisições na participação de blocos exploratórios em regiões com elevado potencial, como a Bacia de Orange, na África do Sul, e em São Tomé e Príncipe, que registraram descobertas recentes. De modo geral, são regiões com características geológicas com relativa similaridade ao pré-sal brasileiro, onde a Petrobras desenvolveu grande capacidade operacional.

No dia 21 de novembro, a Petrobras divulgará o seu Plano Estratégico 2025-2029. As expectativas são de que a exploração de novas fronteiras, como Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas, estará entre as prioridades.

A Bacia de Pelotas, que apresenta relativa semelhança geológica com a Bacia do Rio Orange, atraiu grande interesse durante o 4º ciclo de oferta permanente realizado pela ANP em 2023. Dos 44 blocos leiloados, a Petrobras adquiriu 29, enquanto a Chevron ficou com os 15 restantes.

Francismar Ferreira, PhD em Geografia e pesquisador da área de Exploração e Produção do Ineep, observa que, entre 2002 e 2012, foi registrada a perfuração de cerca de 1.055 poços pioneiros no Brasil, sendo 45,2% no mar e 54,8% em terra – um número elevado, alavancado pelos investimentos exploratórios da Petrobras, especialmente no pré-sal.

Na última década, a atividade de exploração no Brasil sofreu uma queda significativa, com poucos avanços em novas áreas. Entre 2013 e 2023, foram perfurados apenas 288 poços pioneiros, uma redução de 72,7% em comparação com a década anterior. A perfuração em áreas marítimas diminuiu 85,1%, enquanto em áreas terrestres a queda foi de 62,4%. Além disso, cerca de 53,4% dos poços perfurados nesse período se concentraram em áreas classificadas pela ANP como maduras ou de alto potencial no pré-sal. Em contraste, outras regiões de fronteira – com exceção das bacias do Parnaíba, Amazonas e Solimões – praticamente não receberam novas perfurações exploratórias.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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