Política
Marçal descumpre regras, é expulso na reta final e debate termina em caos
Antes mesmo de o programa começar, Ricardo Nunes e o ex-coach já haviam trocado ofensas nos bastidores


Um debate nesta segunda-feira 23 promovido pelo Flow Podcast entre candidatos à prefeitura de São Paulo acabou em confusão e com a expulsão de Pablo Marçal (PRTB), que atacou reiteradamente em suas considerações finais o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
O ex-coach foi retirado do programa pelo mediador, Carlos Tramontina, após receber três advertências nos minutos derradeiros. Na sequência, o marqueteiro de Nunes, Duda Lima, sofreu uma agressão.
Segundo a TV Globo, o agressor é o videomaker da campanha de Marçal, Nahuel Medina. Ele e Duda Lima foram encaminhados ao 16º DP, após a polícia ser acionada.
“Não consegui fazer o encerramento do debate pois tive que paralisar para excluir o candidato Pablo Marçal, que reiteradamente desrespeitava as regras. Na saída dele, houve uma confusão e um assessor do candidato Ricardo Nunes foi agredido, levou um soco no rosto e está sangrando bastante neste momento“, disse Tramontina. “A gente lamenta profundamente, porque o debate foi muito bom, mas no final tivemos essa confusão.”
Também marcaram presença Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo).
O formato do programa não permitiu perguntas diretas entre os postulantes, o que tornou o clima mais frio do que na maioria dos encontros anteriores – ao menos até as considerações finais. Os candidatos responderam apenas a questões de especialistas e eleitores. Uma das consequências é que houve somente um direito de resposta concedido (em um ataque de Datena contra Marçal).
Antes do debate, contudo, o clima era bélico: ao se encontrarem na chegada ao local, Marçal e Nunes trocaram ofensas. O ex-coach chamou o prefeito de “tchutchuca do PCC” e “vagabundo”. Disse também que o adversário será preso em 2025. Nunes, por sua vez, se referiu ao oponente como “condenadinho” e “bandido”.
O emedebista foi o principal alvo também no programa. Boulos, por exemplo, disse que “um prefeito que não sinta no fundo da alma a dor de alguém que está na rua não merece governar São Paulo”. Datena, Tabata e Marçal foram enfáticos ao condenar a atual gestão.
O Flow optou por não tomar medidas extras de proteção. Em um debate na semana passada, a RedeTV resolveu parafusar as cadeiras ao chão, um dia depois de Datena atingir Marçal com uma cadeirada durante um encontro organizado pela TV Cultura.
Na noite desta segunda, por outro lado, a cadeirada mereceu apenas breves e indiretas lembranças de Marçal e Datena.
O programa começou com uma pergunta sobre a população em situação de rua, momento em que Datena e Boulos mantiveram um clima cordial e concordaram com proposições do adversário.
O primeiro bloco seguiu com questões de especialistas aos candidatos sobre outros temas sensíveis, como segurança pública, educação, transporte e saúde.
A primeira provocação direta ocorreu quando Marçal foi escolhido para responder a uma questão sobre como “salvar vidas no trânsito de São Paulo”. Nesse momento, o influenciador resolveu fustigar Datena.
“A certeza de impunidade garante que as pessoas briguem no trânsito, peguem cadeiras e arremessem em candidatos. A certeza de estar em uma cidade completamente impune faz com que as pessoas quebrem o retrovisor e fique por isso mesmo”, disse o ex-coach.
No segundo bloco, os candidatos responderam a perguntas da população. Logo no início, Marçal mirou sua artilharia contra Nunes. “É uma gestão estepe, um estepe furado. A gente só pode chamar de prefeito quem foi eleito prefeito. Quem foi eleito vice-prefeito continua eternamente vice-prefeito.”
Ricardo Nunes foi eleito vice-prefeito em 2020, na chapa de Bruno Covas (PSDB), e assumiu a prefeitura após a morte do tucano, em 2021.
Marçal disse também que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, “está infiltrado em tantas áreas dentro dessa prefeitura”.
Pouco depois, Datena foi sorteado para responder a uma pergunta sobre inclusão de imigrantes e Marçal foi escolhido para fazer comentários sobre o tema. Foi o primeiro encontro no debate do Flow entre os dois envolvidos na cadeirada de 15 de setembro.
O candidato do PRTB fez uma provocação indireta. “Todos vocês de outras terras são muito bem-vindos aqui em São Paulo. Aqui você não será agredido, aqui a gente não perderá a inteligência emocional.”
Datena aproveitou o gancho e também se manifestou sobre a cadeirada sem citá-la: “Você [estrangeiro] não vai receber a agressão falsa de que, por ser um estrangeiro, há que haver xenofobia. A agressão física é deplorável, mas a agressão mentirosa é pior ainda.”
Ainda no segundo bloco, Guilherme Boulos aproveitou a pergunta indignada de uma eleitora sobre a superlotação de ônibus para mirar Ricardo Nunes.
“Ao mesmo tempo em que diminuíram os ônibus [desde o fim da pandemia], a prefeitura está pagando mais para as empresas. É o Ricardo Nunes quem está assinando. Para onde está indo esse dinheiro? Pena que não foi Nunes o sorteado, porque ele tem que responder a isso. Infelizmente, inclusive, tem denúncia de ligação de algumas dessas empresas com o crime organizado“.
O terceiro bloco começou com a primeira ocasião em que Boulos e Marçal foram sorteados para ficar lado a lado, a fim de responderem a um questionamento sobre a poluição na cidade. O influenciador provocou o deputado federal por seu passado de liderança no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
“Se alguém for fazer uma invasão e a GCM entrar para combater, o Boulos vai ficar do lado de quem? É um conflito de interesse?”, lançou Marçal. Sem oportunidade de confronto direto devido às regras do debate, o candidato do PSOL respondeu na pergunta seguinte. “O Marçal falou em invasão. A única coisa que vou invadir nesta campanha é a sua cabecinha vazia. Vou invadir com ideia, com proposta.”
No decorrer do terceiro bloco, Datena perdeu a paciência com Marçal pelo que entendeu ser uma provocação a respeito de uma acusação de assédio sexual contra o apresentador.
“Fui agredido de forma subliminar mais uma vez por um bandido condenado, pioneiro em crimes virtuais de assalto a banco, a velhinhos”,disse o tucano em referência ao ex-coach. “Ele me condena mais uma vez de forma brutal por um caso investigado pela polícia e arquivado pela Justiça.”
Datena também chamou Marçal de “covarde”. O candidato do PRTB obteve, então, um direito de resposta.
O debate ocorreu horas depois de dois institutos divulgarem levantamentos atualizados de intenção de voto, com resultados consideravelmente distintos.
Na pesquisa AtlasIntel, Boulos aparece com 28,3%, quase oito pontos à frente de Nunes e Marçal, que registram 20,9% cada.
A sondagem do Real Time Big Data, por outro lado, indica um triplo empate técnico no topo, entre Nunes (27%), Boulos (24%) e Marçal (21%).
Ao todo, os candidatos devem participar de 11 debates até o primeiro turno. Confira as datas dos três últimos encontros:
- Record: 28 de setembro, entre 21h e 23h15;
- UOL/ Folha de S.Paulo: 30 de setembro, às 10h;
- TV Globo: 3 de outubro, às 22h.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

De olho no 2º turno, campanha de Boulos descarta pedir ‘voto útil’ a eleitores de Tabata
Por Leonardo Miazzo e Thais Reis Oliveira
Rui Falcão: Campanha de Boulos dialoga com os pastores, não com os ’empresários’ evangélicos
Por CartaCapital
Real Time Big Data indica empate técnico entre Nunes, Boulos e Marçal na disputa paulistana
Por CartaCapital