Justiça

Moraes mantém suspensão do X, mas recua da ordem de bloquear download de VPN

O ministro havia determinado que lojas virtuais inviabilizassem o acesso a esses programas

Moraes mantém suspensão do X, mas recua da ordem de bloquear download de VPN
Moraes mantém suspensão do X, mas recua da ordem de bloquear download de VPN
Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Foto: Carlos Moura/SCO/STF
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O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes confirmou na noite desta sexta-feira 30 a ordem para suspender o funcionamento do X no Brasil, mas recuou das restrições que havia imposto ao uso de VPN e às lojas de aplicativos da Apple e do Google.

O bloqueio da plataforma era aguardado pelo X, que ignorou a ordem de Moraes para indicar um representante legal no Brasil.

Já o VPN, ou Rede Virtual Privada, serve para criar uma conexão criptografada entre o dispositivo de um usuário e a internet. Funciona, por exemplo, para esconder de terceiros sua atividade de navegação. Seria uma forma de internautas tentarem burlar a queda do X no Brasil.

Inicialmente, Moraes estabeleceu à Apple e ao Google um prazo de cinco dias para retirarem o X de suas lojas virtuais, além de impossibilitarem o uso de VPN. Provedoras de serviço de internet, como Tim, Vivo e Claro, deveriam inserir “obstáculos tecnológicos capazes de inviabilizar a utilização do aplicativo ‘X’”.

Ao suspender a execução dessas ordens, Moraes mencionou “o caráter cautelar da decisão” e a possibilidade de o X cumprir as ordens judiciais anteriores. O recuo valerá “até que haja manifestação das partes nos autos, evitando eventuais transtornos desnecessários e reversíveis a terceiras empresas”.

No despacho original, Moraes também determinou a aplicação de uma multa diária de 50 mil reais para qualquer pessoa que recorrer a “subterfúgios tecnológicos”, como os aplicativos de VPN, para acessar o X após a suspensão. Este trecho continua a valer.

O magistrado enviou uma notificação à Agência Nacional de Telecomunicações, órgão ao qual cabe dar a ordem às operadoras de internet para retirar o acesso dos usuários ao X.  O prazo para a Anatel efetivar a medida é de 24 horas.

Moraes ordenou:

“A SUSPENSÃO IMEDIATA, COMPLETA E INTEGRAL DO FUNCIONAMENTO DO ‘X BRASIL INTERNET LTDA’ em território nacional, até que todas as ordens judiciais proferidas nos presentes autos sejam cumpridas, as multas devidamente pagas e seja indicado, em juízo, a pessoa física ou jurídica representante em território nacional. No caso de pessoa jurídica, deve ser indicado também o seu responsável administrativo”.

O prazo fixado pelo ministro para o X nomear um advogado no País expirou às 20h07 desta quinta. Minutos depois, a empresa informou por meio de uma conta oficial esperar que o ministro ordenasse “em breve” o bloqueio, “simplesmente porque não cumprimos suas ordens ilegais para censurar seus opositores políticos”.

Eu seu perfil pessoal, o bilionário Elon Musk, dono do X, compartilhou o comunicado e atacou Moraes, a quem chamou de “ditador maligno que se fantasia de juiz”. Em outra postagem, escreveu que o ministro seria “um criminoso vestindo toga de juiz como uma fantasia de Halloween”.

No mandado de intimação ao X, Alexandre de Moraes afirmou que poderia ocorrer a “imediata suspensão das atividades da rede social“, a permanecer em vigor “até que as ordens judiciais sejam efetivamente cumpridas e as multas diárias quitadas”.

Pelas contas do Supremo, o valor das multas não pagas pelo X chega a 18,3 milhões de reais até esta sexta.

A rede anunciou neste mês que encerraria suas operações no Brasil, em meio a uma ofensiva de Musk contra o STF. Na prática, significa que o X continuou a operar no País, mas sem um representante legal.

Musk está há meses envolvido em uma campanha contra Moraes, a quem chama frequentemente de “ditador” por supostamente censurar o X. O ministro, por sua vez, acusa a rede de não cumprir ordens de bloquear contas apontadas como disseminadoras de desinformação e discurso de ódio.

Por outro lado, diz a decisão de Moraes nesta sexta, Google (responsável pelo YouTube) e Meta (dona de Facebook e Instagram), cumpriram as ordens de bloqueio de contas, “em fiel observância ao ordenamento jurídico brasileiro”.

Por ordem do magistrado, Musk é investigado no Inquérito das Milícias Digitais, que apura a suposta prática dos delitos de obstrução à Justiça, organização criminosa e incitação ao crime.

Leia outros trechos da decisão de Alexandre de Moraes nesta sexta-feira:

  • “O ordenamento jurídico brasileiro prevê a necessidade de que as empresas que administram serviços de internet no Brasil tenham sede no território nacional, bem como, atendam às decisões judiciais que determinam a retirada de conteúdo ilícito gerado por terceiros”;
  • “Em outras oportunidades, o maior acionista da Twitter International Unlimited Company, Elon Musk, demonstrou seu total desrespeito à soberania brasileira e, em especial, ao Poder Judiciário, colocando-se como verdadeiro ente supranacional e imune às legislações de cada País”;
  • “Elon Musk confunde liberdade de expressão com uma inexistente liberdade de agressão, confunde deliberadamente censura com proibição constitucional ao discurso de ódio e de incitação a atos antidemocráticos;
  • “A tentativa da Twitter International Unlimited Company em colocar-se à margem da lei brasileira, às vésperas das eleições municipais de 2024, demostra seu claro intuito de manter e permitir a instrumentalização das redes sociais”.

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