Economia

Economia melhora a popularidade de Lula. Será o bastante para conter o bolsonarismo nas urnas?

Apesar dos indicadores positivos dos últimos 18 meses, a percepção da população sobre o acesso a bens e aumento da renda ainda é volátil

Economia melhora a popularidade de Lula. Será o bastante para conter o bolsonarismo nas urnas?
Economia melhora a popularidade de Lula. Será o bastante para conter o bolsonarismo nas urnas?
Presidente Lula (PT). Foto: Ricardo Stuckert/PR
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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem alcançado resultados econômicos positivos, mas enfrenta a tarefa de transformar esses indicadores em uma base sólida de apoio popular e superar a ameaça de recuperação do bolsonarismo e da extrema-direita nas próximas eleições.

Em 2023, o Brasil teve o maior avanço de PIB em início de mandato da série histórica do País: cresceu 2,9%, superando as expectativas do mercado, que previa um alta de apenas 0,9%. O governo também aprovou reformas estruturantes, como a mudança no sistema tributário e o arcabouço fiscal.

Um levantamento da Folha de S. Paulo, que analisou 35 indicadores relacionados a evolução econômica do País, mostrou que o primeiro ano do terceiro mandado do petista, 24 melhoraram. A evolução é bem maior do que a observada em 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, quando a maioria dos indicadores analisados à época, 56% teve resultado negativo. 

Números mais recentes reforçam essa trajetória positiva. Apenas nos primeiros cinco meses de 2024, foram criadas 1 milhão de novas vagas de emprego, com um recorde histórico de 101,3 milhões de pessoas empregadas. O desemprego caiu para 6,8%, o nível mais baixo em dez anos. O PIB cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024, levando o Banco Central a revisar a projeção de crescimento de 1,9% para 2,3% em 2024, próximo à previsão do governo de 2,5%.

Apesar dos indicadores positivos, a percepção da população sobre o acesso a bens e aumento da renda ainda é cautelosa. Projetos como a taxação de compras internacionais, conhecida como “taxa das blusinhas”, criam desconforto, aproveitado pela militância bolsonarista nas redes sociais.

Uma pesquisa recente da Quaest mostrou que a aprovação do governo chegou a 54%, o maior índice do ano na pesquisa, com um crescimento significativo entre as camadas mais pobres da população. Outra pesquisa recente, do Ipec, captou também um aumento na avaliação positiva do governo, de 32% para 37%.

No cômputo geral, na Quaest, 60% dos respondentes entendem que a economia se manteve ou melhorou nos últimos 12 meses. O grande desafio é manter esse desempenho – e 21% dos entrevistados ainda apontam a economia como sua maior preocupação.

Para o cientista político Josué Medeiros, é esta  falta de segurança que mantém a popularidade do Lula abaixo do que deveria, levando em consideração os bons indicadores econômicos atuais. “Estamos em uma sociedade muito traumatizada, desde 2015, por sucessivas crises econômicas e políticas”, afirma Medeiros, professor da UFRJ e colunista de CartaCapital. “As pessoas até sentem a melhora econômica, mas demoram a acreditar que a situação vá perdurar.”

O presidente, avalia, deveria investir mais em políticas enfáticas que promovam um maior senso de acolhimento, indo além do Bolsa Família e do aumento real do salário mínimo. O cientista destaca projetos ainda em andamento, como a política voltada a zerar as filas do Sistema Único de Saúde e o “pé de meia” para estudantes do Ensino Médio, proposto pelo Ministro da Educação, Camilo Santana.

Os indicadores e o ritmo nestes 18 meses, pondera o economista André Roncaglia, ainda não são o suficiente para conter a popularização dos discursos da oposição, mais focados na redução da dívida pública e na privatização – e que, em nível individual, exploram uma difusa sensação de perda do poder de compra, especialmente entre os estratos mais ricos.

“Na média, a renda real da população vem aumentando de forma robusta, mas as pessoas tendem a destacar apenas o nível de preços do que compram; ou seja, se incomodam em pagar 10 reais por algo que antes elas compravam por 8 reais, ainda que a sua renda tenha crescido mais do que 2 reais”, explica (leia mais na coluna do economista em CartaCapital).

“A tragédia do Rio Grande do Sul e a pausa na queda da Selic nublaram o cenário de melhora para a economia neste ano. Diante da desaceleração, o mercado financeiro eleva o tom das críticas ao governo federal, exigindo mais aperto fiscal. E o governo, ao adotar uma postura defensiva, alimenta o monstro.”

Roncaglia ressalta a necessidade de se criar políticas de distribuição de renda e de atendimento a população de baixa renda e mais vulneráveis, aumentando a fatia do PIB destinada a eles. A inclusão dos mais pobres, defende, fortalecerá o sistema, afastando a percepção de uma melhora volátil. “As exportações em boa forma e a renda crescente ajudarão bastante, mas não serão suficientes.”

Com a indústria estagnada, é necessário estimular o investimento público para encorajar o setor privado a ampliar sua exposição ao risco. “É preciso destravar várias frentes de crescimento, especialmente o investimento público, os desembolsos do BNDES e a queda da SELIC, para que os esforços do novo PAC, da Nova Indústria Brasil e do Plano de Transição Ecológica ganhem tração e comecem a transbordar para o restante da economia”, completa.

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