Economia
Ensino de economia ou camuflagem do jogo dos poderosos?
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A macroeconomia lecionada visa dificultar o entendimento do mundo real e há um interesse político nisso, defende professor
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Por que entender macroeconomia? Assim o professor paquistanês Asad Zaman, economista, cientista social e vice-presidente do Instituto de Economia do Desenvolvimento do Paquistão, em Islamabad, inicia seu curso intitulado Como a Teoria Macro foi Elaborada pelos Poderosos (https://rwer.wordpress.com/). Se nós entendermos macroeconomia, ou macro como se costuma chamá-la, diz, seremos capazes de compreender as razões dos principais eventos econômicos que acontecem ao nosso redor.
Por exemplo, a desigualdade crescente, os efeitos da austeridade, o Brexit, as iniquidades do sistema financeiro pós-Bretton Woods baseado no dólar, os impactos da economia emergente da China na finança global e muitas outras questões de vital importância para a condução da política econômica.
A título de exemplo cita o trabalho de David Romer “O Problema com a Macroeconomia”, onde se diz que os teóricos ignoram por completo a forte oposição entre as suas teorias e a realidade e se contentam em construir modelos matemáticos sem relação com o mundo real.
Os principais livros-texto sobre macro mostram ao estudante o caminho para fazer manipulação matemática avançada, mas nada ensinam sobre os acontecimentos ao nosso redor, motivo pelo qual os economistas (com raras exceções, deve-se acrescentar) foram totalmente surpreendidos quando a crise financeira global explodiu em 2008.
De acordo com todos os modelos macro em uso naquele momento e que continuam a ser utilizados hoje, um evento como aquele era impossível, diz Zaman.
“Não é só que aquilo que é ensinado seja irrelevante. O conteúdo é, na verdade, desorientador e podemos argumentar que o é deliberadamente. Aprender a verdade sobre como a economia funciona seria muito perigoso aos ricos e poderosos que se beneficiam enormemente dos mitos que são ensinados nos livros-texto de macroeconomia moderna, amplamente acreditados no mundo todo”.
“Muitos e muitos mitos apresentados como realidade podem ser relacionados, mas talvez o principal seja o da ‘neutralidade da moeda’ ”, exemplifica o economista. De acordo com a crença dominante, a moeda não desempenha nenhum papel importante na economia além de afetar os níveis dos preços. Se dobrarmos a quantidade de moeda, os preços dobrarão e não haverá outro efeito na economia real. Em outras palavras, o dinheiro é um véu e nós temos que enxergar através desse véu para entender como funciona a economia real.
Nada poderia ser mais distante da verdade, entretanto. “Como entendeu Keynes, o dinheiro não é neutro no curto prazo nem no longo prazo. Na verdade, a quantidade de moeda tem importância decisiva na economia. Infelizmente, todas as descobertas de Keynes foram suprimidas e ocultadas.”
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O professor paquistanês critica os economistas John Richard Hicks e Paul Samuelson por terem patrocinado uma visão distorcida da teoria keinesiana, que reinstaurou a falaciosa neutralidade da moeda e tornou-se amplamente conhecida como economia keynesiana, apesar de ter pouquíssimo a ver com as teorias de Keynes. “O ponto de partida correto para iniciar o estudo de macroeconomia é o entendimento do papel da moeda na economia”, recomenda Zaman.
A “sacada” principal de Keynes é muito simples de entender, prossegue. A dificuldade, ensinou o mestre inglês, reside não tanto em desenvolver novas ideias como escapar das antigas. A economia precisa de dinheiro para funcionar. Tocar todo e qualquer negócio requer dinheiro e se ele for insuficiente, o empreendimento não dará certo. A redução do nível de atividade levará ao desemprego, que provoca grande dano individual àqueles que estão desempregados.
É dever do governo prover dinheiro em quantidades suficientes para possibilitar o pleno emprego. Assim como uma grande escassez de dinheiro é perigosa, uma quantidade excessiva dele é danosa e conduz a pressões inflacionárias que causam muitos tipos de danos. Um deles é a falta de estabilidade no valor do dinheiro.
Assim, sublinha o professor, a teoria keynesiana é o exato oposto à ideia de que a quantidade de dinheiro não importa.
A quantidade exata de dinheiro é extremamente importante para a economia. É obrigação do governo administrar a quantidade de dinheiro e determinar com exatidão o total correto, nem excessivo nem escasso.
Neste ponto da sua explanação Zaman faz uma conexão fundamental para a compreensão política da importância do dinheiro ou da moeda na economia: “Uma ressalva precisa ser acrescentada — não é apenas a quantidade de dinheiro que importa, também é importante quem tem o dinheiro. Se há muito dinheiro mas ele está nas mãos erradas, as recessões ainda podem acontecer.
De modo semelhante, dependendo de como o dinheiro é distribuído, diferentes tipos de efeitos econômicos podem ocorrer. Assim, além do sentido geral estabelecido na teoria de Keynes, é fundamental examinar cuidadosamente as diferentes classes na sociedade, quais classes detêm o dinheiro e fazer uma análise precisa do impacto e das consequências das mudanças na quantidade de moeda na sociedade.”
Se o dinheiro está portanto longe de ser neutro, ao contrário, é decisivo no funcionamento da economia e isso é tão óbvio que mesmo uma criança pode entender, acrescenta o professor paquistanês, a questão seguinte em importância é: como e por que foi esse conhecimento suprimido?
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