Mundo
Pacheco pede retratação de Lula por declarações sobre ataques de Israel à Faixa de Gaza
O presidente do Congresso defendeu que a ofensiva israelense deve ser analisada pelas ‘instâncias próprias da comunidade internacional’


O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu uma retratação do presidente Lula (PT) pela comparação indireta entre a situação dos palestinos na Faixa de Gaza e a de judeus durante o Holocausto.
Em discurso nesta terça-feira 20, no plenário, Pacheco classificou como “equivocada” a declaração e destacou que Lula é conhecido por “estabelecer diálogos e pontes entre as nações”.
“Ainda que a reação feita pelo governo de Israel venha a ser considerada desproporcional, excessiva, violenta, indiscriminada, não há como estabelecer um comparativo com a perseguição sofrida pelo povo judeu no nazismo”, disse. “Uma fala dessa natureza deve render uma retratação, é fundamental que haja uma retratação”.
Pacheco defendeu que as incursões militares de Tel Aviv devem ser analisadas pelas “instâncias próprias da comunidade internacional, como a Corte Internacional de Justiça“.
“Não podemos compactuar com as afirmações que compararam a ação militar que está ocorrendo na região neste momento com o Holocausto, o genocídio contra o povo judeu perpetrado pelo regime nazista na Segunda Guerra Mundial.”
No final de semana, Lula classificou como “genocídio” a ofensiva em Gaza. Desde o início, o conflito deixou quase 30 mil mortos no enclave palestino, em sua maioria crianças e mulheres.
A afirmação de Lula desencadeou uma onda de críticas do governo israelense. Tel Aviv declarou o presidente “persona non grata“, termo utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo em um país.
Ato contínuo, a diplomacia brasileira resolveu chamar de volta para consultas o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer. O chanceler Mauro Vieira também convocou o embaixador israelense Daniel Zonshine para uma reunião no Itamaraty.
Após o discurso de Pacheco, o senador Omar Aziz (PSD-AM) saiu em defesa de Lula, pediu para seu colega tipificar o que acontece em Gaza e afirmou se tratar de um assunto sobre o qual a Casa “tem se mantido calada”.
“Não tem que se comparar, realmente, com o Holocausto, é impossível. Mas o presidente Lula nunca abraçou deputada nazista neta de ministro. E a direita quietinha”, completou Aziz, filho de palestino.
O encontro ao qual Aziz se refere aconteceu em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião, o mandatário recebeu uma das líderes da ultradireita alemã, a deputada Beatrix von Storch, neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro da Alemanha nazista.
Em resposta, Pacheco afirmou que não quis repreender Lula. O discurso, acrescentou o senador, foi no sentido de conclamar a “busca de pacificação” e o reconhecimento de que “a parte em que há qualquer comparação com o Holocausto é algo indevido e impróprio”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Ataque contra Lula é parte do ‘genocídio generalizado’ imposto por Israel, diz embaixador da Palestina
Por Leonardo Miazzo
Petro vê genocídio ‘covarde’ de Israel em Gaza e defende Lula: ‘Só disse a verdade’
Por Wendal Carmo