Educação
O que é preciso para o Brasil superar a estagnação vista no Pisa, segundo Daniel Cara
Um relatório lançado pela OCDE, em setembro, já indicava que o País possui o terceiro pior desempenho em termos de investimento por aluno entre 42 países avaliados


Os dados do Pisa, divulgados na terça-feira 5, revelam uma certa estabilidade do País em relação aos resultados da mesma avaliação realizada em 2018. Ainda assim, o Brasil figura entre as últimas posições e abaixo da média dos países da OCDE em relação ao desempenho dos estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências.
Na Matemática, 70% dos estudantes de 15 anos não alcançaram o nível mínimo esperado. Esta taxa contrasta acentuadamente com a média de 31% observada nos países da OCDE, o “clube dos ricos”.
Quando se trata de Leitura e Ciências, o desempenho dos estudantes brasileiros mostra uma ligeira melhora, mas ainda permanece abaixo da média da OCDE. Metade dos alunos brasileiros enfrenta dificuldades em identificar a ideia principal em textos, um percentual que supera a média geral de 26%.
Em Ciências, 55% dos estudantes no Brasil não atingem o conhecimento básico esperado, muitos incapazes de compreender e explicar fenômenos científicos corretamente. Nestas áreas, o Brasil ocupa a 52ª posição em Leitura e a 61ª em Ciências nos rankings internacionais.
Daniel Cara, educador e cientista social, prefere usar o termo “estagnação” para descrever os resultados recentes do Brasil em avaliações educacionais. Ele também reflete sobre o verdadeiro significado dessas avaliações de grande escala para a qualidade da educação no país. “”O ranqueamento é justamente o que não vale a pena no Pisa.”
“O Brasil vive uma realidade muito específica, só pode ser comparado com ele mesmo. Outros países com têm outra estrutura educacional, outra história, outra capacidade econômica vão ter desempenhos distintos”, avaliou o educador em entrevista à CartaCapital, nesta quarta-feira 6. O fato concreto, porém, é que a educação no Brasil vai mal. “Nesse sentido, o Pisa dá uma resposta.”
O panorama atual é alarmante para a educação brasileira, um “sinal vermelho”, especialmente considerando que o Brasil é o o país da América do Sul que mais envelhece no mundo. Existe uma preocupação crescente de que, em breve, teremos uma sociedade composta majoritariamente por adultos e idosos que não receberam uma educação de qualidade. “Isso traz riscos de estagnação não só à educação, mas à economia e ao País, o que é um risco para todos nós”, acrescentou.
Cara também destaca que um relatório da OCDE, publicado em setembro, já indicava que o Brasil possui o terceiro pior desempenho em termos de investimento por aluno entre 42 países avaliados. O estudo mostrou que o Brasil investe aproximadamente US$ 2.981 por aluno, levando em conta todos os gastos públicos em educação pública desde o Ensino Fundamental até o Médio. Esse valor está bem abaixo da média de US$ 10.510 por aluno observada nos países da OCDE. Neste quesito, o Brasil supera apenas México e África do Sul.
“Para melhorar a qualidade da educação é necessário mais recursos, dar condições de trabalho aos educadores e implementar o Custo Aluno Qualidade, previsto na Constituição, o que significa garantir um padrão de qualidade para todas as escolas públicas.”
Assista à entrevista:
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