Sociedade
‘Pedido de perdão não é suficiente’, diz MPF sobre papel do Banco do Brasil na escravidão
MPF instaurou um inquérito civil que apura a responsabilidade da instituição financeira na escravidão
No inquérito que apura a responsabilidade e participação do Banco do Brasil na escravidão, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que o pedido de desculpas do BB é histórico, mas não é suficiente.
“Se, por um lado, é inadmissível que convivamos com o apagamento e o silêncio ante essa tragédia histórica, mostra-se fundamental, por outro, que não nos limitemos a um mero pedido de desculpas, por melhores que sejam as intenções”, destaca o despacho.
O documento da última sexta-feira 1º é assinado pelos procuradores regionais dos direitos do cidadão Julio José Araujo Junior, Jaime Mitropoulos e Aline Mancino da Luz Caixeta.
“O pedido de desculpas já foi realizado, com ótima recepção de toda a sociedade brasileira. Mas não pode ser a única medida”, completa.
A afirmação dos procuradores acontece após a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, pedir perdão ao povo negro pela atuação da entidade durante a escravidão.
Em comunicado apresentado durante audiência pública para tratar do tema, o banco também divulgou um conjunto de medidas com o objetivo de promover a igualdade e a inclusão étnico-racial e combater o racismo estrutural no país.
O MPF solicitou ainda a manifestação do Banco do Brasil, no prazo de 20 dias, acerca de questões que ainda não foram esclarecidas, como a existência de pesquisas financiadas pelo banco que detalhem e aprofundem a discussão sobre a sua própria história.
O despacho determinou também o agendamento de reunião com a direção executiva do banco.
Relembre o inquérito
Em novembro, o MPF instaurou um inquérito civil que apura a responsabilidade da instituição financeira na escravidão. Um estudo, elaborado por 14 pesquisadores de universidades brasileiras e americanas mostra que o banco apoiou o comércio de negros escravizados.
Os pesquisadores apontam que havia “vínculos diretos entre traficantes e o capital diretamente investido em ações do Banco do Brasil”.
Além disso, acrescenta que “a instituição também se favoreceu da dinâmica de circulação de crédito lastreada na propriedade escrava que imperou ao longo de toda a primeira metade do século XIX”.
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