Arthur Chioro

Ex-ministro da Saúde

Opinião

assine e leia

Processo inadiável

O Ministério da Saúde lança o Programa SUS Digital Brasil, com o objetivo de dar impulso para a transformação digital na saúde

Processo inadiável
Processo inadiável
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

A integração de dados continua sendo um desafio para os sistemas de saúde. E só com ela os profissionais da área podem acessar informações consistentes e atualizadas sobre os pacientes, promovendo uma melhor coordenação de cuidados entre os serviços da rede de saúde.

Ao integrar dados de diferentes bases é possível identificar inconsistências e melhorar a qualidade da informação gerada. O aumento dos diagnósticos de HIV no Brasil, por exemplo, teve incremento de 11,3%, em 1997, após decisão do Ministério da Saúde de integrar os dados de dois sistemas (Sinan net e Siscel).

Ao possibilitar que os profissionais de saúde vejam o histórico clínico do paciente, a integração ajuda na prevenção de erros. Na Califórnia, uma pesquisa identificou redução de 16% nos erros relacionados à administração de medicamentos após a implantação de bombas de infusão integradas a prontuários eletrônicos.

O enfrentamento de epidemias e pandemias pode ser potencializado com a integração de diferentes tipos e fontes de dados, permitindo uma saúde pública de precisão, mapeando rapidamente, por exemplo, possíveis contactantes e pessoas expostas ao risco de infecção. A Coreia do Sul, em 2020, enfrentou a pandemia integrando dados clínicos, epidemiológicos, de geolocalização, consumo e imigração.

A integração facilita ainda a condução de pesquisas clínicas e epidemiológicas ao fornecer acesso a dados abrangentes de pacientes, acelerando a descoberta de tratamentos e avanços na área da saúde. No Brasil, o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde ­(Cidacs), da Fiocruz, conduz estudos de corte de 100 milhões de brasileiros, analisando os determinantes sociais e os efeitos de políticas e programas sobre os diferentes aspectos da saúde na sociedade.

Possibilita, também, a eliminação de processos manuais redundantes e automatização de fluxos de trabalho, resultando em eficiência operacional, bem como na redução de intervenções duplicadas ou desnecessárias, como a solicitação do mesmo exame, num curto espaço de tempo.

A boa notícia é que o Ministério da Saúde acaba de lançar o Programa SUS Digital Brasil, sob a coordenação da sua Secretaria de Informação e Saúde Digital, criada este ano com o objetivo de dar novo impulso para a inadiável transformação digital na saúde.

O Programa assenta-se em diretrizes pactuadas com gestores municipais e estaduais, como a criação de um índice de maturidade digital, com subsídios técnicos para a construção de planos de ação de saúde digital por estados e municípios.

Outra diretriz prevê o fortalecimento das práticas de telessaúde, através de maior apoio e investimentos federais aos núcleos das universidades e secretarias estaduais e municipais de Saúde, para atender diferentes modalidades, como teleconsultoria, telediagnóstico, teleconsulta, interconsulta, telemonitoramento, segunda opinião formativa e teleducação.

Atualmente, 1,4 mil municípios são atendidos por telessaúde. A Universidade Federal de Minas Gerais emite um laudo para cada dez exames de eletrocardiograma realizados no SUS. Mais de 2,5 milhões de exames são laudados a distância pela Universidade Federal de Santa Catarina. O Programa Norte Conectado Infovia 01 garante conexão de alta velocidade de Telessaúde no Amazonas e Pará. Novas perspectivas estão em curso.

A informatização da atenção hospitalar do SUS, através de parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao MEC, para disseminação do seu Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU) nos hospitais públicos e conveniados do SUS é outra diretriz do Programa. O AGHU é um prontuário eletrônico utilizado nos 41 hospitais universitários federais ligados à Ebserh, com cerca de 3 milhões de acessos mensais e base de 25 milhões de pacientes.

A integração e interoperabilidade de dados em saúde, através do fortalecimento da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), é fundamental. A RNDS possui mais de 1,3 bilhão de registros de vacinação, 71 milhões de resultados de exames e 40 milhões de downloads do aplicativo ConecteSUS. Dentre as novidades apresentadas no Programa SUS Digital Brasil está a possibilidade de o cidadão avaliar o atendimento clínico nas Unidades Básicas de Saúde.

Finalmente, depois de anos de atraso, caminhamos a passos largos para a necessária transformação digital na saúde. •


*Com participação de Giliate Coelho, diretor da Diretoria de Tecnologia e Informação da Ebserh e ex-diretor do Datasus.

Publicado na edição n° 1284 de CartaCapital, em 08 de novembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Processo inadiável’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

10s