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Ativista PcD lança petição contra PL que propõe descontos em hotéis sem acessibilidade

Projeto de Lei 3835/23 foi apresentado pelo deputado federal Luiz Carlos Motta; ativista aponta que a medida contraria a Lei de Inclusão ao isentar hotéis de se adequarem à acessibilidade

Ativista PcD lança petição contra PL que propõe descontos em hotéis sem acessibilidade
Ativista PcD lança petição contra PL que propõe descontos em hotéis sem acessibilidade
PcDs apontam que PL contraria lei ao tentar isentar hotéis de suas responsabilidades para com a acessibilidade (Foto: Reprodução)
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Uma proposta apresentada em agosto pelo deputado federal Luiz Carlos Motta (PL-SP) está causando forte reação entre as pessoas com deficiências. Por meio do Projeto de Lei 3835/23, o parlamentar pretende que seja oferecido a elas um desconto de 50% na diária de hotéis que não possuem dormitórios adaptados. O projeto aguarda parecer na Câmara.

A ideia tem sido contestada porque, na visão das pessoas com deficiências, estimulará os hotéis a não mais cumprirem a Lei Brasileira de Inclusão (13.146/2015), abrindo mão de investir em acessibilidade para atender pessoas com mobilidade reduzida ou idosas. 

Para impedir que a proposta avance no Congresso Nacional, o ativista pelos direitos da pessoa com deficiência Rafael Ferraz lançou um abaixo-assinado na plataforma Change.org. Tetraplégico, Rafael é jornalista e editor de um site de notícias com foco no protagonismo e na representatividade da pessoa com deficiência, além de consultor em acessibilidade e inclusão. 

“O hotel que não respeita a Lei Brasileira de Inclusão deve ter seu alvará cassado. Se o deputado reconhece a necessidade de medidas que incentivem a adaptação dos estabelecimentos hoteleiros à acessibilidade, ao invés de ‘proporcionar um alívio financeiro para pessoas com deficiência, diante da falta de acomodações adequadas’, por que não direciona os esforços para que haja uma fiscalização firme para o cumprimento da Lei?”, questiona o ativista. Confira a petição na íntegra.

O manifesto já engajou mais de 16 mil assinaturas a fim de pressionar a Câmara dos Deputados a não avançar com a tramitação do PL. No momento, o projeto aguarda parecer do relator na Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Ao condenar o PL, Rafael enfatiza que as pessoas com deficiência não precisam de descontos, mas que seus direitos sejam respeitados. “Direito não é um favor, é uma obrigação! Precisamos de representantes da causa e não do ‘jeitinho brasileiro'”, desabafa o jornalista. 

No texto do abaixo-assinado, o ativista lembra que, além do Estatuto da Pessoa com Deficiência, existem outras normas que regem a acessibilidade nos hotéis. 

O Decreto 9.296/2018, por exemplo, obriga que novos hotéis, pousadas e estruturas similares disponibilizem, no mínimo, 5% de seus dormitórios com características construtivas e os devidos recursos de acessibilidade estabelecidos na Norma de Acessibilidade. 

Já a Lei 10.098/2000, também conhecida como Lei da Acessibilidade, é outro exemplo de norma brasileira que estabelece regras gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou que tenham mobilidade reduzida.

O que diz o deputado

A equipe da Change.org procurou o deputado Luiz Carlos Motta, autor do projeto de lei, para obter uma resposta sobre os apontamentos feitos no abaixo-assinado. 

O parlamentar disse que o projeto não revoga a obrigatoriedade da norma contida na Lei Brasileira de Inclusão e não viola as legislações já existentes. “Não há nenhuma mudança quanto à obrigatoriedade de cumprimento das normas de acessibilidade e nem, tampouco, qualquer mecanismo que diminua o dever fiscalizatório”, disse o deputado, em nota. 

Nas palavras de Motta, as pessoas contrárias ao PL fizeram uma “interpretação errônea quanto à desobrigação da rede hoteleira de promover acessibilidade”. O parlamentar informou ter compromisso com a diversidade e a inclusão e disse que não há intuito de compensação para a pessoa com deficiência ou diminuição do cumprimento das normas existentes.

“A proposta visa conscientizar as redes hoteleiras da importância de cumprimento das normas e oferecer às pessoas com deficiência, a possibilidade da prova material – nota fiscal com o desconto – do não cumprimento da legislação, possibilitando que denunciem às autoridades competentes”, destacou Motta na resposta enviada por meio de sua assessoria. 

 

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