Política
Segurança pública não é só questão de fuzil ou rosas, mas de articulação, Renato Sérgio de Lima
A CartaCapital, o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública faz um balanço do novo plano do governo para enfrentar uma crise de segurança
A crise de segurança pública na Bahia, onde houve 68 mortos em supostos confrontos com a polícia apenas em setembro, expõe problemas crônicos. O sociólogo Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, define o caso no estado como uma “tragédia”, inclusive devido a “um verdadeiro desastre comunicacional” do governo Lula (PT).
“Se o ministro Rui Costa não tivesse tentado negar o óbvio, provavelmente o Ministério da Justiça poderia mostrar as ações em outro clima”, afirmou o especialista em entrevista ao canal de CartaCapital no YouTube, nesta segunda-feira 2.
Diante desse cenário, o Ministério da Justiça, sob o comando de Flávio Dino, lançou mais um plano de segurança pública para combater o crime organizado.
Lima pondera que, em conjunto com ações estruturais e de inteligência policial, o foco “precisa ser transformado em um projeto de mudança na segurança pública”, no modo como as medidas são executadas.
“É necessário que qualquer governo se adapte ao fato de que segurança é um direito social, então não posso fazer uma operação, por exemplo, na Maré, que vá provocar efeitos colaterais”, observa Lima. “Eu tenho que garantir que as pessoas não parem a vida, deixem de ir e vir para escola, posto de saúde, creche, porque tem um tiroteio do lado.”
Nos últimos dias, ganhou destaque uma declaração do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, sobre a onda de violência, inclusive policial, na Bahia.
“Não vejo uma desestruturação da Segurança Pública na Bahia. É grave? É. Tem confronto. Tem? Agora, a polícia da Bahia é uma polícia boa. Tem a questão da letalidade? Tem. Mas você não enfrenta crime organizado com fuzil com rosas. Porém, a letalidade deve ser investigada e combatida”, disse Cappelli à CNN Brasil na semana passada.
“Se é verdade que a gente não pode tratar o crime organizado com rosas, a gente também não pode tratar só no fuzil. A gente tem que pensar em como articular isso”, disse Renato Sérgio de Lima nesta segunda. “Independente de qualquer ação, planejamento ou medida emergencial, o norte fundamental que a nossa Constituição dá é que segurança é um direito fundamental.”
Assista à íntegra da entrevista:
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