Política
Tarcísio veta projeto contra o HPV em São Paulo; ministro chama ato de ‘assustador’
Governador alegou que projeto ‘não guarda conformidade com as diretrizes constitucionais que regem o SUS’


O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vetou integralmente um projeto de lei aprovado em agosto pela Assembleia Legislativa que instituiria a Política Estadual de Proteção e Combate contra o Vírus Papilomavírus Humano, o HPV.
A decisão foi publicada no Diário Oficial do governo, na edição de 14 de setembro. No texto, o governador declarou que já haveria políticas públicas vigentes sobre o assunto.
“Apesar de reconhecer os elevados propósitos das legisladoras, expostos na justificativa que acompanha a propositura, vejo-me compelido a recusar sanção ao projeto” disse. “Registro que a Secretaria da Saúde considerou prescindível a aprovação de projeto dessa natureza, tendo em vista a existência de políticas públicas vigentes e já em execução sobre o assunto, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde.”.
Tarcísio também escreveu que, ao dispor sobre a vacinação contra o HPV, o projeto de lei “é menos abrangente do que o previsto na Campanha Nacional e do que é praticado no estado de São Paulo, não recomendando, assim, que seja disciplinado por meio do projeto em análise”.
O governador disse ainda que “a propositura não guarda conformidade com as diretrizes constitucionais que regem o SUS e intervém em área reservada ao domínio do Poder Executivo, com afronta ao princípio da separação de poderes”, segundo o Diário Oficial.
O Projeto de Lei 134/2022 havia sido proposto pelos deputados estaduais Edna Macedo (Republicanos), Delegada Graciela (PL), Patrícia Gama (PSDB) e Marina Helou (Rede).
O texto continha nove artigos. O terceiro item previa um calendário a partir de março de cada ano, segundo o qual o governo garantiria a vacinação contra o HPV nas escolas estaduais, para os seguintes grupos:
- Meninas de 9 a 14 anos;
- Meninos de 11 a 14 anos;
- Mulheres imunossuprimidas de 9 a 45 anos;
- Homens imunossuprimidos de 9 a 26 anos.
Já de acordo com o Ministério da Saúde, a vacinação contra o HPV distribuída gratuitamente pelo SUS é indicada para:
- Meninas e meninos de 9 a 14 anos;
- Mulheres e homens que vivem com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos entre 9 e 45 anos.
Nesta segunda-feira 18, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, classificou o veto de Tarcísio como “assustador”. Além de ser um quadro do PT de São Paulo, Padilha foi ministro da Saúde no governo de Dilma Rousseff (PT).
“Assustador. Era Ministro da Saúde quando a vacina do HPV passou a ser oferecida pelo SUS em 2014. Desde o início, apostamos em uma parceria com as escolas, como recomenda a OMS. A vacina no SUS já reduziu câncer de colo de útero, mas temos que reduzir mais”, escreveu ele, na rede social X.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

AGU notifica o governo Tarcísio por divulgar foto de maconha com adesivo de Lula
Por CartaCapital
Após 28 mortes, governo Tarcísio anuncia o fim da Operação Escudo
Por CartaCapital