

Opinião
Seleção feminina
Às vésperas do início da Copa do Mundo Feminina 2023, na Austrália e na Nova Zelândia, a franca evolução do futebol feminino é animadora


Concluída a temporada europeia e passada a revigorante paralisação dos campeonatos para as “datas-Fifa”, estão abertas portas e janelas para as especulações sobre reformulações, contratações e transferências. As atenções voltam-se para as disputas mais próximas, ou seja, Brasileirão, Copa Sul-Americana e Libertadores.
No meio disso tudo, a política insiste em interferir no plano esportivo, com os congressistas mirando, com seus interesses mesquinhos, o Ministério do Esporte, assim como tentam fazer na Saúde e no Meio Ambiente – todas áreas estratégicas.
Mas este é o momento de se enfrentar essa corja. É hora de “cravar as esporas” nos oportunistas e firmar o esporte como área de importância igualmente estratégica da sociedade moderna. Já está mais que na hora de a pasta sair da posição subalterna de moeda de troca barata nas transações da política.
No Brasileirão, chegamos ao fim do aquecimento inicial, tendo se desenhado um rascunho do que vai ser o restante da longa corrida pelo título, pelas classificações para copas e torneios e pela aflitiva disputa por descensos e acessos.
Na cabeça da Série A a vitória do Botafogo sobre o credenciado Palmeiras, até então invicto dentro de casa, ampliou as possibilidades do alvinegro em relação às pretensões pelo título.
A tabela de pontuação mostra como deve decorrer a sequência do campeonato, com os três ou quatro concorrentes ao título embolados e o líder às voltas com as propostas mirabolantes pelo seu antes discutido e agora idolatrado treinador.
No primeiro semestre, o técnico português Luís Manuel Ribeiro de Castro comeu o pão que o diabo amassou nas mãos dos renitentes torcedores botafoguenses. A torcida da “Estrela Solitária” é conhecida por não se contentar em, simplesmente, acompanhar o time.
Os torcedores jogam junto e, quando acreditam no time, enchem os estádios. Mas justo agora, quando o campeonato esboça sua forma definitiva, o time se vê às voltas com a provável saída do técnico.
Chegou a hora de testar o quanto os investidores estão dispostos a recuperar a “gloriosa” história do clube. Trata-se, sem dúvida, de tarefa difícil diante do poderio árabe.
Em relação à aguardada partida entre Botafogo e Palmeiras, no Allianz Parque, no domingo 25, o que posso dizer é que o confronto entre dois “patrícios”, Luís Castro e Abel Ferreira, foi instigante do começo ao fim. O jogo correspondeu às expectativas, mas confesso que, ao fim, fiquei novamente desanimado com o futebol jogado atualmente por aqui.
Ainda que eu saiba que as coisas mudam com o tempo, não consigo me acostumar com o que entendo como um desgaste exagerado dos atletas, decorrente da insistência atual em se priorizar a valência física sobre a qualidade técnica. Tudo sob o pretexto da intensidade.
Sabemos também que a intensidade sempre existiu no futebol. Basta recordar alguns jogos como Boca Juniors vs. Santos, em Buenos Aires, que terminou com a classificação santista para o Mundial, ou mesmo da partida Santos vs. Milan, no Maracanã. A diferença é que, antes, os jogadores eram fortes, com uma preparação física mais natural. Exemplo disso eram os nossos dois maiores expoentes: Garrincha e Pelé. Eram fortíssimos, mas sem sobrecarga artificial.
Hoje, a padronização dos gramados, a evolução dos treinamentos e os novos métodos de preparação física tornaram necessária até mesmo a introdução de um protocolo para os casos de choques de cabeça. O próprio zagueiro do Palmeiras, o excelente Gustavo Gómez, tem entrado em campo com uma máscara de proteção no rosto, devido a uma lesão.
Em compensação, a franca evolução do futebol feminino entusiasma cada vez mais. Está feita a convocação e faltam poucos dias de espera para o início da Copa do Mundo Feminina 2023, na Austrália e Nova Zelândia.
Penso me dedicar mais ao futebol feminino, pelo menos durante o Mundial, embora a meta seja chegar o dia do futebol sem distinção e sem nenhuma forma de discriminação. E, como sempre acontece quando saem as convocações, surgiram as discussões.
O anúncio das jogadoras convocadas foi feito na terça-feira 27 pela técnica Pia Sundhage. A relação tem 23 nomes – sendo 11 estreantes em Mundiais – e, ao ouvir perguntas sobre a lista, a treinadora respondeu com esperteza: “Só comento sobre as convocadas”. •
Publicado na edição n° 1266 de CartaCapital, em 05 de julho de 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Seleção feminina’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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