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Corrente fundadora do PSOL abandona o partido e critica apoio ao governo Lula
Reservadamente lideranças da cúpula do PSOL minimizam o rompimento; a CartaCapital, o ex-deputado federal Babá diz que a sigla “rasgou suas bandeiras”
Uma das tendências fundadoras do PSOL, a Corrente Socialista dos Trabalhadores decidiu abandonar o partido. O motivo, na avaliação da corrente, é que o partido “rasgou” suas principais bandeiras ao apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República.
De acordo com manifesto publicado na segunda-feira 5, a CST diz que o petista fez alianças com “representantes dos banqueiros, agronegócio, multinacionais e setores da extrema-direita”. A corrente ainda faz críticas ao texto da âncora fiscal enviada ao Congresso e destaca posições consideradas “anti-ambientais” de ministros do governo.
“Antes o PSOL rejeitava os governos de conciliação com a classe dominante, hoje ele os integra e apoia. A CST mantém a coerência com o programa que sempre defendemos”, acrescenta. “Não fundamos o PSOL para estimular a conciliação com os patrões, mas para combatê-la.”
A corrente afirma que seguirá na defesa de uma frente ampla de esquerda ao invés de compactuar com alianças com “velhas raposas da política capitalista”. “Seguimos defendendo que os mandatos da esquerda socialista sejam pontos de apoio para as lutas e o classismo, tal qual o fizemos no parlamento quando nosso camarada Babá esteve nesse posto”, pontou.
Entre os quadros influentes da CST está o ex-deputado federal Babá, expulso do PT em 2004 e responsável pelas articulações para fundar a legenda, hoje presidida por Juliano Medeiros.
Reservadamente lideranças da cúpula do PSOL minimizam o rompimento e apontam que o grupo já “não possuía convergência com as decisões do partido”.
A CartaCapital, Babá disse que não dava pra continuar no PSOL com “as posições que o partido vinha tomando”. Segundo ele, a cúpula da legenda “tomou conta da legenda e acha que pode ir tratorando todas as instâncias”.
“O PSOL foi criado com apenas quatros parlamentares lutando contra as políticas do [segundo] governo Lula. Agora, parece que o partido mudou. Não era pra nós estarmos integrando o governo Lula, mas além da Sônia [Guajajara], que assumiu o Ministério dos Povos Indígenas, ela levou inúmeros filiados”, destacou. “E isso passou por cima da nossa decisão de manter-se independente”.
Em resolução aprovada no início do ano, a legenda costurou divergências internas e descartou integrar a base aliada em troca de cargos, mas decidiu abrir ‘exceções’ para quadros que quisessem integrar a estrutura do governo Lula, como Guajajara – a condição seria o afastamento dos postos de destaque na direção partidária.
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