Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

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Nas disputas envolvendo as ligas que pretendem assumir a organização do Campeonato Brasileiro, digladiam-se interesses ocidentais e orientais

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Em todos os setores e em todos os lugares vivemos um tempo de mudanças profundas e de radicalização. Entre nós, não poderia ser diferente.

Nos desafios que temos enfrentado, ganham proeminência agora o enfrentamento do racismo e da questão indígena, a problemática do aliciamento de jogadores e os desdobramentos da cruel guerra na Ucrânia.

No Brasil, em particular, temos acompanhado o comportamento desavergonhado do “Centrão”, sustentado pela grande mídia, que mais uma vez embarca em uma campanha sórdida, a serviço dos detentores do poder financeiro. O jogo é duro, mas é preciso enfrentá-lo.

No esporte não é diferente. Embora ainda escutemos a lenga-lenga de que não se deve misturar esporte e política, ninguém mais engole essa falácia.

À primeira vista, a Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás, que investiga a manipulação de resultados de partidas da Série A do Brasileirão, parece o fim do mundo.

Mas, no fundo, é melhor que esta sujeirada venha à tona antes que acabe por minar o trabalho sério de alguns. Para além do terreno das ilegalidades, as ­disputas, no futebol, vão desde a divisão entre os dirigentes a favor da Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e a Liga Forte Futebol (LFF) até os interesses por trás da constituição do modelo Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Ambas as ligas têm o mesmo objetivo: a constituição de uma liga para a organização do Campeonato Brasileiro das Séries A e B a partir de 2025. Mas essa história tem como pano de fundo o interesse e a articulação de um grupo financeiro árabe que deixa os dois se comerem para comprar o futebol brasileiro no atacado.

Ou seja, digladiam-se, de certa forma, interesses ocidentais e orientais, em busca daquele que se tornou um dos grandes negócios dos tempos atuais. E o domínio, como temos observado, vai escapando das mãos do interesse brasileiro.

No vergonhoso Congresso Nacional, as propostas mais que conservadoras e reacionárias em relação ao esporte ganham relevância, neste momento, pela tentativa de se aprovar uma Lei Geral do Esporte.

A ideia dos que a defendem é que ela abarque toda a legislação existente num conjunto único. A proposta foi imediatamente contestada pela União de Atletas de Futebol das Séries A, B, C e D, que denuncia o prejuízo que tal iniciativa traria aos direitos trabalhistas.

Venho comentando por aqui que toda essa movimentação talvez torne necessário o surgimento de novas lideranças no esporte, como classe.

Essa entidade, inclusive, revelou ter organizado o protesto de anos anteriores e de ter contado com Romário para dar sustentação às suas reivindicações.

Por conta da pouca força de conjunto, todas as questões envolvidas nesse Projeto de Lei (PL 1.825/2022) emergiram das profundezas apenas no momento de sua aprovação na Câmara dos Deputados e, depois, no Senado, no dia 9 de maio. O PL está agora nas mãos de Lula, para a sanção presidencial

Pessoalmente, não tomei co­nhe­ci­men­to de manifestações das autoridades do esporte sobre essas questões. Sei apenas que a ministra do Esporte, Ana ­Moser, propõe orientar sua pasta no cumprimento do que determina a Constituição Federal, ou seja, de que o esporte seja, rigorosamente, um direito de todos os brasileiros, indistintamente. Enquanto isso, a bola e outros apetrechos se agitam no dia a dia do esporte.

Merece destaque a proximidade do Mundial de futebol feminino, com a Seleção Brasileira fazendo uma preparação intensa, com boas chances de sucesso.

Na Argentina, em pleno fogo, os ­Sub-20 brasileiros avançam às quartas de final, enquanto a seleção hospedeira é desclassificada pela Nigéria, que, embora sempre tenha uma seleção forte, surpreendeu ao eliminar a dona da casa.

No sufocante calendário do futebol, a concorrida Copa do Brasil chega às quartas de final com disputas acirradas e desgastantes.

Muitas das partidas foram decididas nos pênaltis, tamanho o nivelamento das equipes, Sobreviveram ­Palmeiras,­ ­Corinthians, Athletico Paranaense, Bahia, Grêmio e América Mineiro.

Na conturbada Espanha, o Sevilla confirmou, mais uma vez, sua especialização em vencer a Copa da Uefa, tendo derrotado a Roma dirigida pelo invocado José Mourinho.

Esta foi a sétima vez que o Sevilla ­conquistou a Liga da Europa. •

Publicado na edição n° 1262 de CartaCapital, em 07 de junho de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O grande negócio’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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