Política

Trocas no comando da Polícia Civil de São Paulo geram tensão no governo de Tarcísio

O clima piorou após a delegada Elisabete Sato deixar a cúpula da corporação para ocupar um cargo de menor prestígio

Trocas no comando da Polícia Civil de São Paulo geram tensão no governo de Tarcísio
Trocas no comando da Polícia Civil de São Paulo geram tensão no governo de Tarcísio
O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Mudanças no comando da Polícia Civil feitas pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, cuja trajetória é de oficial da reserva da Polícia Militar, têm provocado tensão entre delegados, que reclamam de ingerência política na corporação.

O clima piorou após a delegada Elisabete Sato deixar a cúpula da corporação para ocupar um cargo de menor prestígio. Sato esteve à frente das investigações sobre a troca de tiros que ocorreu na favela de Paraisópolis nas imediações de um ato de campanha do então candidato Tarcísio de Freitas.

Quatro dias após a posse do governador de São Paulo, ela foi dispensada por Derrite do comando do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), onde havia feito história ao se tornar a primeira e única mulher a chefiar o órgão. Na última terça-feira, saiu no Diário Oficial do Estado a designação de Sato para a função de delegada Divisionária da Assistência Policial da Academia da Polícia.

Logo após o incidente na campanha, a delegada concedeu uma entrevista a veículos de imprensa afirmando que a hipótese principal era a de que a troca de tiros havia começado após os suspeitos terem se intimidado com a presença de policiais. Com isso, ficaria afastada a possibilidade de um atentado, cogitado à época por bolsonaristas. Como o inquérito é sigiloso, não é possível saber qual foi a sua conclusão.

Pessoas próximas a Sato alegam que houve “perseguição política” do governo Tarcísio. Procurada, Sato não quis dar entrevista.

Embora Sato tenha dado diversas entrevistas como porta-voz da polícia no caso, a secretaria de Segurança Pública afirma que o inquérito do tiroteio em Paraisópolis foi presidido e relatado pelo delegado Rodrigo Borges Petrilli. Secretário-adjunto de segurança, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves afirmou que a troca de Sato pela delegada Ivalda Oliveira Aleixo foi por meritocracia.

Ivalda tem histórico em plantões policiais da grande São Paulo e no Departamento de Inteligência da Polícia Civil. Nico também negou ingerência política: “Não tem nada a ver uma coisa com a outra. A delegada Ivalda foi recomendada até pelo Ministério Público e por méritos próprios”, afirma Nico. “Tanto eu como Derrite não tivemos interferência nas escolhas. É fofoca. Sempre trocam quando muda o governo”.

Alerta do MP

No início do mêsprocuradores estaduais divulgaram um manifesto no qual alertaram a cúpula do Ministério Público (MP) sobre riscos de conflitos legais e judiciais entre as polícias Militar e Civil sob o comando de Derrite.

Os procuradores demonstraram contrariedade com propostas para que os PMs pratiquem atos de polícia judiciária, que são privativos da Polícia Civil.

Sob condição de anonimato, deputados e delegados afirmaram ao O Globo que houve indicações políticas na Polícia Civil por aliados de Derrite como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, e o deputado estadual Delegado Olim (PP) em áreas como o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) e o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) e em delegacias nos municípios.

Um dos exemplos seria a nomeação, publicada no Diário Oficial no último dia 7, de Elaine Maria Biasoli para ocupar o cargo de delegada da Seccional de Polícia I da 2ª Delegacia Seccional de Polícia da capital. Biasoli doou R$ 25 mil para a campanha do Delegado Olim à reeleição, no ano passado.

Outro caso citado é o da saída do delegado Ronaldo Tossunian da seccional de São Bernardo do Campo desde o último dia 7. Lá, a mudança no comando teria ocorrido a pedido do vereador do município Paulo Chuchu (PRTB), que se descreve como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) e principal liderança bolsonarista do ABC.

Procurado, Olim disse que Biasoli é sua amiga de longa data, mas negou que tenha indicado a delegada ao cargo. O deputado disse que não vê conflito entre as Polícia Civil e Militar e afirma que Nico Gonçalves tem ajudado na relação.

“Sou delegado e sou amigo dela (Biasoli) e de muitos outros. Não tem nada demais a doação para a minha campanha. Ela deve ter sido indicada por sua competência. A secretaria de Segurança Pública afirmou que as nomeações são baseadas em critérios técnicos. “As conclusões da reportagem são equivocadas e induzem os leitores ao erro sobre as nomeações na Polícia Civil e a competência dos policiais que assumiram os cargos”.

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