Editorial
Derrota anunciada
O futebol jogado no Brasil é de má qualidade


Na noite de segunda-feira 12, os jornalistas-torcedores, deslocados para a cobertura do Mundial de futebol, ou ainda presentes no Brasil, clamavam em uníssono a convocação urgente de um técnico estrangeiro, possivelmente o italiano Carlo Ancelotti, que no momento comanda o Real Madrid. Trata-se de um coach de indiscutível qualidade, assim como ele foi um excelente meio-campista na idade conveniente, quem sabe melhor que o nosso Casemiro. Não foi necessário um estudo demorado, uma análise acurada: aos meus ouvidos a escolha de Ancelotti significou o reconhecimento de uma derrota anunciada e do fracasso de Tite.
Vítima do seu fracasso – Imagem: Nelson Almeida/AFP
Com raríssimas exceções, todos advogavam a candidatura de Ancelotti e a confissão do malogro pareceu-me evidente. Depois do passado de bom jogador, ele treinou times italianos e, finalmente, surgiu à testa de equipes estrangeiras, para encantar o público do Santiago Bernabéu. Neste campo, os profissionais da mídia nativa costumam entrar na ponta dos pés, embevecidos pela grandiosidade do espetáculo. A última passagem de Ancelotti pelo futebol italiano deu-se quando foi chamado a treinar o time do Napoli, mas ali não obteve sucesso, talvez em razão de turbulências eclodidas no vestiário. Hoje, a equipe napolitana é comandada, desde maio de 2021, por Luciano Spalletti, técnico muito bem cotado na Europa.
Arrisco-me a dizer que o problema do futebol brasileiro é outro: o futebol praticado por aqui depende dos pés de jogadores que atuam com a cabeça voltada para as mecas estrangeiras, a bem de um pé-de-meia robusto. O futebol disputado nos campeonatos brasileiros está longe de repetir os feitos do passado. E Neymar é um perfeito exemplo de quem atua em seu exclusivo proveito. Estivesse em outra fase, este nosso futebol, a repetir e renovar o talento e a picardia de outras épocas, permitiria a produção natural de outros craques e de treinadores à altura das circunstâncias, como já se deu em tempos idos. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1239 DE CARTACAPITAL, EM 21 DE DEZEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Derrota anunciada “
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.