Economia
Liderança natural
Maior produtor de energia eólica do País, o Nordeste sai na frente nos projetos de hidrogênio verde


Em 14 de dezembro, deve ser inaugurado no Porto do Pecém o primeiro projeto piloto de hidrogênio verde no Brasil. Resultado de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento de 41,9 milhões de reais, a planta contempla uma usina solar com capacidade de 3 megawatts e um módulo eletrolisador para a produção do combustível a partir de energia renovável. Isso permitirá à EDP, dona da Termoelétrica Pecém 1, que gera 620 megas de energia produzida com carvão mineral, substitua motores auxiliares que consomem óleos pesados. O empreendimento deve responder por cerca de 10% do consumo total da unidade. “É um projeto pioneiro e há mais de 20 bilhões de reais em manifestações de investimentos por diversas empresas para produção de hidrogênio verde no Ceará, com destaque para Pecém. A ideia inicial do hidrogênio verde do Complexo do Pecém é destinar 100% da exportação no início para a Europa”, diz Alessandra Grangeiro, gerente-comercial do Complexo do Pecém. A União Europeia anunciou a meta em maio de importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde e produzir outros 10 milhões localmente até 2030. Um dos portos definidos como estratégicos para a importação é o de Roterdã, na Holanda, o maior da Europa e acionista do Pecém.
Em 2023, deve entrar em operação o maior projeto de hidrogênio verde do País e um dos principais do mundo. Com investimento inicial de 120 milhões de dólares, a Unigel desenvolve um projeto integrado de hidrogênio e amônia verde. Localizada no Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, a nova fábrica, em sua primeira fase, terá capacidade de produção de 10 mil toneladas por ano de hidrogênio verde e de 60 mil toneladas de amônia verde. Na segunda fase do projeto, prevista para entrar em operação até 2025, a companhia deve quadruplicar a produção de hidrogênio e amônia verdes, desdobramento da energia eólica. A amônia verde é essencial na fabricação de fertilizantes e acrílicos. Além de utilizar amônia como matéria-prima, a Unigel tornou-se produtora do insumo no ano passado, após inaugurar duas fábricas de fertilizantes que deram origem à Unigel Agro.
Alexandra Grangeiro (Pecém), Paulo Guimarães (Bahia) e Carlos Cavalcanti (Suape) – Imagem: Redes sociais e Daniele Rodrigues/GOVBA
Além disso, a empresa opera um dos dois únicos terminais de amônia do Brasil, localizado no Porto de Aratu, também na Bahia. “Hoje, o principal foco é atender o mercado interno, seja o hidrogênio para ser consumido industrialmente em Camaçari, seja a amônia para ser consumida na produção de fertilizantes. E, ao mesmo tempo, atender o mercado externo, se houver demanda”, descreve Paulo Guimarães, superintendente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia.
O estado discute ainda com investidores a implantação de projetos de produção de combustíveis renováveis. “Esta é uma demanda que deve ser das mais rápidas. Os mercados aéreo e marítimo começam a demandar etanol verde e combustível de aviação, então, esse é um foco. Começamos também a discutir a questão de fertilizantes e aço verde, porque temos projetos de mineração sendo desenvolvidos na Bahia”, observou Guimarães.
O Complexo de Suape, em Pernambuco, lançou uma chamada pública, em agosto, para identificar o interesse de empresas na nova tecnologia. Será arrendada uma área para a instalação de uma futura planta industrial produtora de hidrogênio verde. O investimento total estimado é de, aproximadamente, 3,5 bilhões de dólares, com 1 gigawatt de capacidade de eletrólise e área de 72,5 hectares. Na futura fábrica, o H2V, o combustível do futuro, será produzido a partir da dessalinização da água do mar. O chamamento público contempla duas unidades industriais produtoras de hidrogênio azul, a partir da reforma de vapor metano como insumo para posterior produção de amônia em outras duas unidades a serem implantadas também em Suape.
Os portos de Pecém, Suape e Aratu e o complexo industrial de Camaçari começam a tirar várias plantas do papel
Recentemente, o complexo lançou o TechHub para produção, transporte, armazenamento e gestão de hidrogênio verde na zona industrial portuária. Chamado de Distrito Industrial Verde, o projeto tem apoio do Instituto Senai de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação e da CTG Brasil, para criação de uma plataforma digital que permita a comercialização de hidrogênio verde no mercado nacional com certificação de origem. A ação contou com a captação de 6,4 milhões de reais em investimentos. “Temos recebido muitos interesses de outros países. Recebemos embaixadores da Noruega e do Reino Unido na última semana. Além da exportação, poderá haver consumo local, porque temos em torno de 224 empresas instaladas em um complexo industrial portuário”, disse Carlos Cavalcanti, diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Suape.
A explicação de o Nordeste partir na liderança do hidrogênio verde está no potencial da região de gerar energia solar e eólica com baixo custo e alta competitividade. O fator de competitividade das usinas eólicas na região, em muitos casos, é superior a 50% e o Brasil detém os mais elevados indicadores desse tipo. Os ventos alísios do Nordeste estão entre os mais fortes do mundo. A média mundial do fator de capacidade está ao redor de 25%. Somente em fonte eólica, os nove estados da região abrigam cerca de 80% da capacidade instalada do País. Há ainda o potencial de construção de usinas eólicas em alto-mar.
O sol tem se destacado como fonte ideal de eletricidade. Segundo mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, o Nordeste terminou o primeiro semestre de 2022 com 233 mil sistemas fotovoltaicos de pequeno e médio portes instalados. Com isso, somou o equivalente a 2,5 gigawatts de potência, atrás apenas da Região Sudeste. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1238 DE CARTACAPITAL, EM 14 DE DEZEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Liderança natural “
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