Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Francis Hime vê ‘cultura de terra arrasada’ na pandemia: ‘Quem diria que teríamos de passar por isso?’

Cantor, compositor, pianista e maestro lança aos 83 anos seu 1º álbum instrumental somente com músicas inéditas

Francis Hime vê ‘cultura de terra arrasada’ na pandemia: ‘Quem diria que teríamos de passar por isso?’
Francis Hime vê ‘cultura de terra arrasada’ na pandemia: ‘Quem diria que teríamos de passar por isso?’
Foto: Olivia Hime
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O novo álbum de Francis HimeEstuário das Canções, é fruto dos tempos de reflexão e recolhimento compulsório na pandemia. Acostumado com muitos parceiros ao seu lado nos discos, desta vez reuniu sozinho alguns temas a partir de esboços já feitos e produziu as composições.

O resultado é um trabalho instrumental primoroso, com 12 faixas inéditas assinadas somente por ele. Estuário das Canções oscila entre temas ligados à natureza e homenagens. “O repertório fica na fronteira entre o popular e o erudito”, define. “São temas bem tranquilos, sem grandes arroubos pianísticos.”

Sobre a Canção para Raphael Rabello, que abre o disco, Francis conta que tinha um esboço temático do qual Raphael gostava. “Ele dizia sempre para mim: ‘Francis, conclua esse tema de que eu gosto tanto’. Aí o Chico (Buarque) faz a letra”, relata.

O inesquecível violonista Raphael Rabello, falecido precocemente em 1995, era muito amigo de Francis. “Ele me incentivava muito a compor”, lembra.

Há também uma canção instrumental no álbum para Luiz Eça (1936-1992), outro grande amigo do pianista. “Foi um mestre informal para mim. Ele me dava dicas sobre arranjo.”

O disco conta ainda com uma música para a cantora, compositora e produtora Olivia Hime, sua esposa, feita como um presente de aniversário.

Francis Hime, hoje com 83 anos, nunca havia feito um álbum em piano solo de inéditas. Há um trabalho instrumental dele de 2009 no qual o repertório é de trilhas de filmes e outro, de 2001, em que divide com vários pianistas a execução das faixas.

Tempos de trevas

O pianista confessa que teve dificuldade e sentiu tristeza ao compor nos últimos anos . Segundo ele, “esses tempos foram de trevas” e “a cultura foi de terra arrasada”.

“Quem diria que teríamos que passar por tudo isso?”, prossegue. “Esses quatro anos foram uma pandemia e um pandemônio.”

Francis viveu a ditadura e compôs com Chico Buarque uma das mais emblemáticas músicas relacionadas ao período, Meu Caro Amigo (1976). Para o pianista, no entanto, aquele período foi diferente, porque ele era muito mais jovem. Agora, segundo o músico, após a eleição de Lula, “parece que houve um renascimento, uma energia que voltou”. E até novos projetos ganharam impulso.

O maestro diz que voltará a gravar em fevereiro, a partir de canções com novos parceiros, como Zélia Duncan, Moacyr Luz, Zé Renato, Totonho, Leoni e Pedro Amorim. Não ficarão de fora, porém, os antigos, como Geraldo Carneiro, Olivia, Thiago Amud, Paulo César Pinheiro e até, quem sabe, Ruy Guerra.

Olivia Hime lança no início do ano que vem um novo álbum com músicas de Francis, algumas inéditas e outras já gravadas, mas pouco conhecidas. Nesse trabalho, ele fez todos os arranjos. Francis ainda finaliza um concerto seu para dois cellos – a serem executados por Hugo Pilger e Jaques Morelembaum – e orquestra. O projeto está programado para ser apresentado em 2023.

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