Economia
A Semana do Mercado: Volatilidade acima de tudo
Os papéis de empresas de educação, moradia popular, varejo e saúde registravam ganhos firmes, antecipando-se a atenção do futuro governo às áreas


A Bolsa abriu com baixa de 2% e o dólar com alta de 1,5%, a 5,38 reais, em reação à vitória da frente antibolsonarista liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores (PT). Mas logo a bolsa reagiu para uma alta de 1,5% e o dólar caiu 1,86%, para 5,28 reais, dando o tom da volatilidade que se antecipa para o mercado nos próximos dias, enquanto os agentes e investidores ficam atentos aos menores sinais de quem poderá ser o próximo ministro da Economia e de como o futuro governo tratará a ruinosa herança fiscal do governo de Jair Bolsonaro.
Além disso, esta é semana de reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que decide os rumos da política monetária do banco central dos EUA, o Fed, sob a expectativa de novo aumento de 0,75 ponto percentual nas taxas básicas de juros, que seria temperado por declarações algo mais brandas do presidente do Fed, Jerome Powell, no sentido de que a autoridade monetária tenderia a pausar a escalada do custo do dinheiro ou reduzir sua intensidade.
Reagindo à vitória de Lula e na expectativa de uma política fiscal expansionista, ativos brasileiros negociados em Nova York abriram em forte queda nesta segunda-feira. Os recibos de ações (ADRs) da Petrobras caíam mais de 10% perto das 9h (horário de Brasília), no pré-mercado americano, enquanto os da Vale recuavam 5,46%. O ETF iShares MSCI Brazil (EWZ), principal fundo de índice brasileiro em Nova York, caía 5,21%.
O comportamento dos ativos negociados nos EUA refletiu-se no mercado local, com Petrobras e Banco do Brasil sofrendo forte queda. Mas os papéis de empresas de educação, moradia popular, varejo e saúde registravam ganhos firmes antecipando-se a atenção do futuro governo a essas áreas.
Na primeira hora do pregão, ações preferenciais da Petrobras caíam 7%, para 30,26 reais, enquanto os papéis ordinários da petrolífera caíam 6,71%, para 33,38 reais. Liderando as altas, alinhavam-se a construtora MRV, com +4,29%, a 10,21 reais; agência de viagens CVC, com +2,91%, a 6,73 reais; Drogaria RaiaDrogasil, com + 2,78%, a 25,53 reais; Supermercados Assaí, com + 2,76%, a 19,33 reais; e Yduqs Educacional, com + 2,75, a 15,72 reais. Com exceção de energia, todos os setores estavam em alta: Consumo, 2,95%; Financeiro, 2,16%, Imobiliário, 2,30%; Industrial, 0,98%; Materiais Básicos, 0,57%; e Utilidade Pública, 0,14%.
Sumarizando riscos à frente, Thomas Haugaard, gerente de portfólio da gestora Janus Henderson, mencionou a chance de a eleição ser contestada por Bolsonaro e aumentarem os protestos dos apoiadores do ex-capitão (veja-se os bloqueios de estradas por caminhoneiros).
“Embora acreditemos que haverá uma transferência democrática no final, há riscos de turbulência no curto prazo. Em terceiro lugar, uma eleição mais apertada significa que Lula provavelmente será mais limitado nas políticas de esquerda, já que a parte do Congresso dominada pela centro-direita se sentirá mais empoderada”, assinalou Haugard.
Em nota a clientes, a equipe do Safra afirmou não ver contestação de Bolsonaro sobre o resultado, uma vez que aliados já reconheceram o vencedor. “Esperamos agora transição de governo. Congresso mais à direita com um pleito presidencial super apertado vai demandar intensas e desgastantes negociações por parte do novo presidente.”
A semana será mais curta por conta do feriado de quarta-feira (Dia de Finados), tendo como destaque a divulgação, amanhã, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, que deverá reforçar a expectativa de manutenção dos juros no atual patamar por um período prolongado.
No Boletim Focus do BC divulgado mais cedo, os economistas do mercado mantiveram a projeção para a taxa de juros básica (Selic) em 13,75% para este ano (19 semanas de estabilidade). Para 2023, foi mantida em 11,25% pela oitava semana seguida. Para 2024, está mantida em 8% há 16 semanas.
Já as expectativas de inflação das instituições consultadas semanal pelo BC voltaram a subir sua projeção de inflação para 2022 após uma sequência de 17 semanas de quedas. A expectativa para o IPCA deste ano passou de 5,60%, há uma semana, para 5,61%. Para 2023 foi mantida em 4,94% e para 2024 seguiu em 3,50%. A projeção de alta do PIB de 2022 foi mantida em 2,76%, mas foi elevada de 0,63% para 0,64% em 2023 (quinta semana seguida de alta).
A estimativa para o dólar também ficou estável, pela 14ª semana, na cotação de 5,20 reais por dólar, tanto para 2022 quanto para 2023. Para 2024, caiu de 5,11 para 5,10 reais.
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