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Pé de meia/ O cofrinho dos Bolsonaro

Metade do patrimônio imobiliário do clã foi comprada em dinheiro vivo

Pé de meia/ O cofrinho dos Bolsonaro
Pé de meia/ O cofrinho dos Bolsonaro
Eis a modesta casa de Flávio, o filho Zero Um - Imagem: Redes sociais
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O clã Bolsonaro tem uma curiosa predileção por transações imobiliárias com dinheiro vivo. Praticamente metade do patrimônio em imóveis de Jair Bolsonaro e de seus familiares mais próximos foi adquirida nas últimas três décadas com uso de moeda em espécie, revela levantamento realizado pelo UOL. Desde o início dos anos 1990, o ex-capitão, seus irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais ao menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente dessa forma.

As compras registradas nos cartórios com pagamento “em moeda corrente nacional”, expressão usada para designar repasses em dinheiro, totalizaram 13,5 milhões de reais. A soma equivale, em valores corrigidos pelo­ ­IPCA, a 25,6 milhões. Parte dessas transações figura no epicentro das investigações sobre o esquema das “rachadinhas” – eufemismo para o crime de peculato, no caso a apropriação ilegal de salários de servidores – conduzidas pelos Ministérios Públicos do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.

“Qual é o problema de comprar com dinheiro um imóvel?”, rebateu o presidente, visivelmente irritado, após participar de uma sabatina promovida pela União Nacional do Comércio e dos Serviços. De fato, como observou com fina ironia Camilo Vanucchi, colunista do UOL, “se economizar direitinho”, todo mundo compra 51 imóveis por 26 milhões em grana viva. Os milicianos e criminosos de colarinho-branco estão aí para provar.

Polícia divina

O Ministério Público Federal decidiu apurar a distribuição, pela Polícia Rodoviária Federal, de uma cartilha com a recomendação de leitura da Bíblia. Ao instaurar um inquérito sobre o caso, o procurador Enrico Rodrigues de Freitas, da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul, entendeu haver indícios de afronta ao 19º artigo da Constituição, a prever que “é vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”. O Estado laico, observa o procurador, assegura ao indivíduo a escolha de seguir a religião que bem entender – ou mesmo de não possuir crença alguma.

Espionagem/ Agente 86

PF revela ação frustrada da Abin para limpar a barra de Zero Quatro

Jair Renan ganhou de empresário um carro avaliado em 90 mil reais – Imagem: Redes sociais

A Polícia Federal acusa a Agência Brasileira de Inteligência de atrapalhar uma investigação envolvendo o empresário Jair Renan Bolsonaro, filho Zero Quatro do presidente. Segundo o jornal O Globo, um integrante da Abin foi flagrado, em março de 2021, em uma operação cujo objetivo seria prevenir “riscos à imagem” do presidente da República. Ele teria recebido a missão de levantar informações sobre o paradeiro de um carro elétrico avaliado em 90 mil reais doado a Jair Renan e ao personal ­trainer Allan Lucena por um empresário do Espírito Santo.

Na ocasião, Allan Lucena acionou a Polícia Militar para denunciar que um carro preto o perseguia há três dias. Ao abordar o condutor do veículo suspeito em frente à casa do personal trainer, o agente Luiz Felipe Barros Felix apresentou-se como policial federal e disse que estava aguardando uma garota de programa. Pouco depois, os investigadores descobriram que ele pertencia aos quadros da Abin. Jair ­Renan é suspeito de tráfico de influência em favor do empresário que doou o carro.

Angola/ Sem renovação

Há quase 50 anos no poder, o MPLA vence as eleições gerais na nação africana

Lourenço promete empregos aos jovens – Imagem: Presidência de Angola

A comissão eleitoral de Angola confirmou, na segunda-feira 29, a vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola, conhecido pela sigla MPLA, nas eleições gerais. Com isso, o atual presidente, João Lourenço, segue no cargo para um segundo mandato. O partido assumiu o controle do país após a independência da nação africana, em 1975.

O MPLA obteve 51,17% do total de votos. Seu adversário de longa data, a União Nacional para a Independência Total de Angola, Unita, arrebanhou 43,95% deles, o melhor resultado obtido desde o fim do domínio português. Menos da metade dos eleitores angolanos compareceu às urnas na acirrada eleição, realizada na quarta-feira 24.

Os jovens eleitores representavam a maior ameaça à permanência do MPLA no poder. Metade dos angolanos com menos de 25 anos está desempregada e, segundo analistas, essa faixa etária estava fortemente propensa a confiar os votos na Unita. Diante da ameaça, Lourenço reforçou, após o anúncio da vitória, a promessa de gerar mais empregos para eles.

Diplomacia zero

As bravatas de Jair Bolsonaro têm intensificado o isolamento do País. Na segunda-feira 29, o Chile convocou para consultas o embaixador do Brasil em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, em protesto por declarações do ex-capitão contra o presidente chileno, Gabriel Boric. Em debate no domingo 28, Bolsonaro acusou Boric de “queimar metrôs” em protestos. “Consideramos essas acusações gravíssimas. São absolutamente falsas e lamentamos que, em um contexto eleitoral, as relações bilaterais sejam aproveitadas e polarizadas por meio da desinformação e das notícias falsas”, afirmou a ministra chilena das Relações Exteriores, Antonia Urrejola.

EUA/ Efeito Trump

Quatro em cada dez cidadãos veem ameaça de uma nova guerra civil

O ex-presidente causou uma fissura na sociedade americana – Imagem: Brent Stirton/Getty Images/AFP

A divisão da sociedade americana após a turbulenta passagem de Donald Trump no poder preocupa um número cada vez maior de cidadãos. Mais de 40% dos norte-americanos acreditam que uma nova guerra civil nos EUA é ao menos um pouco provável nos próximos dez anos, revela uma pesquisa realizada pela YouGov e pela revista The Economist. A crença é mais forte entre republicanos do que entre democratas.

De acordo com o levantamento, 43% dos entrevistados responderam que uma guerra civil é muito ou um pouco provável na próxima década, ao passo que 35% acham que o conflito é não muito ou nada provável. Outros 22% não tinham certeza. Entre os que se identificam como republicanos, a porcentagem dos que acreditam na possibilidade de um conflito armado sobe para 54%. Desses, 20% enxergam o cenário como muito provável.

A perspectiva para o futuro tampouco é positiva. Para 63%, essas divisões vão se acentuar nos próximos anos, enquanto 7% acham que vão diminuir. A pesquisa vem na esteira de um novo acirramento de ânimos entre democratas e republicanos, causado por uma operação do FBI contra Trump. O ex-presidente é acusado de se apropriar de documentos confidenciais da Casa Branca.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1224 DE CARTACAPITAL, EM 7 DE SETEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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