Política

A covardia dos empresários golpistas

Confrontados por jornalistas, eles negam o que escreveram. Típico

FOTO: REPRODUÇÃO/REDES SOCIAIS
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Não deveria, dado o histórico de manifestações deploráveis dos envolvidos, mas ainda choca ler as mensagens do grupo “Empresários & Política”, corrente no WhatsApp integrada por empreendedores bolsonaristas. Nunca antes, precisamos admitir, um presidente da República espelhou tão bem seus eleitores. Bolsonaro e os milionários que o apoiam estão irmanados em corpo e alma. Escolha um adjetivo apropriado: pedestres? Fuleiros? Boçais? Recalcados? Ah, claro, golpistas.

No escurinho do Whatsapp, José Koury, dono do shopping Barra World, é o mais excitado: “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras”. Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, da grife de surfwear Mormaii, não deixa por menos: “Golpe foi soltar o presidiário. Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição (tudo em minúsculas). Golpe é a velha mídia só falar merda…”

Em outra mensagem, Morongo cita a Revolução Francesa e a Guerra Civil dos Estados Unidos. Certamente o surfista cabulava as aulas de história.

Koury propôs comprar votos dos “colaboradores”, mas de uma forma moderna, up to date: “Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal para todos os funcionários das nossas empresas [que votarem em Bolsonaro]”.

Luciano Hang, o Véio da Havan, Ivan Wrobel, da construtora W3, José Isaac Peres, do grupo Multiplan, e Afrânio Barreira, da rede de restaurantes Coco Bambu, igualmente ofereceram sugestões brilhantes ou se indignam com a terrível ameaça do retorno de Lula, protegido por um STF e um TSE “petistas”. Só resta sentir pena dos nossos comediantes e roteiristas de ficção. A competição com a realidade é inglória.

Há, no entanto, outro traço comum entre Bolsonaro e os seus milionários, o mais indelével: a covardia. No cordão das motociatas, na distância profilática do cercadinho, no conforto das lives de quinta-feira e na proteção divina dos cultos, o ex-capitão é um guerreiro: ameaça, bate no peito, diz “comigo ninguém pode”. Um destemido rottweiler. Sem a guarda pretoriana por perto, em ambientes onde pode ser contestado, a coisa muda de figura. O candidato à reeleição enfia o rabo entre as pernas, fala manso ou fica calado, arredio, assustadiço como um vira-lata. As cenas de sua participação coadjuvante na posse de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral estão aí para quem quiser ver.

Da mesma forma agem os empresários quando expostos à luz do sol, quando confrontados por jornalistas, pela “velha mídia” que “só fala merda”. Parênteses: nas conversas, os bolsonaristas insinuam ou defendem vários crimes, da compra de votos a ameaças à ordem constitucional. Hang, vale lembrar, é investigado no Inquérito das Fake News instaurado por Moraes no STF.

Chamado a explicar sua mensagem, Koury se enrolou: “Não disse que defendo um golpe de Estado (???), e sim que talvez prefira isso a uma volta do PT”.

Morongo, embora tenha curtido e reforçado a mensagem de Koury, afirmou não apoiar “atos ilegítimos, ilegais ou violentos”. As frases “golpe é soltar o presidiário, golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição etc.”, garante, foram mal interpretadas pelos repórteres. São “figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida”. Em resumo, Morongo escreveu o errado por linhas tortas. Nem ele sabe mais se defende ou não aquelas ideias. Ou outra qualquer. A favor ou contra.

Meyer Nigri, da Tecnisa, encenou a versão do “Tiozão do Zap”. Apesar de ter “repassado algum WhatsApp” recebido, declarou, “não significa que eu falei ou concorde”. Um curso de educação midiática não lhe faria mal. No YouTube, é possível encontrar vários, de graça.

Bolsonaro e os milionários que o apoiam estão irmanados. Escolha um adjetivo apropriado: pedestres? Fuleiros? Boçais? Recalcados? Ah, claro, golpistas

Barreira, do Coco Bambu, aparentemente estava lá, mas não tinha a mínima ideia do que se passava no grupo. “Nunca me manifestei a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Fico surpreso com a alegação de que eu seria um apoiador de qualquer tipo de rompimento com o processo democrático, pois isso não corresponde com meu pensamento e posicionamento”.

Hang, o indefectível Zé Carioca, saiu-se com essa: “Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso”.

Para a própria sorte, os homens de bem do WhatsApp nunca serão obrigados a defender com a própria vida seus ideais e a liberdade. Seria um fiasco, convenhamos. Para o nosso azar, eles acumulam dinheiro e influência para convencer outros compatriotas, mais intrépidos e treinados, a salvar o Brasil do perigo comunista, enquanto aplaudem das sacadas. Como em 1964.

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