Política

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Escândalo/ Bolsolão do lixo

Ciro Nogueira lidera compra de caminhões superfaturados

Escândalo/ Bolsolão do lixo
Escândalo/ Bolsolão do lixo
Nogueira chafurda - Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR
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Bolsonaro pretende esgrimir o tema corrupção contra Lula. Terá de ser muito criativo para convencer quem está do lado de fora do cercadinho. Um novo escândalo explodiu na praça, o chamado “Bolsolão do ­Lixo”. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e a turma que opera o orçamento secreto destinaram 381 milhões de reais à compra superfaturada de caminhões compactadores de dejetos. As compras sem licitação dos equipamentos aumentaram 500% no ­atual governo, beneficiam fornecedores “amigos” e ignoram qualquer planejamento. Cidades com menos de 17 mil habitantes, administradas por aliados do governo, recebem os caminhões, mesmo sem necessidade. Um município de 8 mil moradores recebeu três compactadores, enquanto os vizinhos não têm nem os basculantes. O esquema vale-se de estatais, entre elas a ­Codevasf. O ­Grupo Mônaco, da empresária Carla Morgana Denardin, ampliou a venda de veículos depois de Nogueira se aproximar de Bolsonaro. Um contrato de 11,9 milhões foi fechado com a Codevasf do Piauí, reduto eleitoral do ministro.

Antissemitismo

“Judeu filho da puta” e “judeu de bosta”. Os insultos do vereador Adilson Amadeu, do União Brasil, dirigidos ao colega Daniel Annenberg, do PSDB, em uma sessão da Câmara Municipal de São Paulo, custaram ao parlamentar uma condenação de um ano e quatro meses de prisão por injúria racial, convertida em trabalhos comunitários pelo mesmo período, multa de um salário mínimo e indenização de 10 mil reais por danos morais. Segundo a juíza Ana Helena Mellim, os posteriores pedidos de desculpas não foram suficientes para justificar o perdão judicial. Ainda cabe recurso.

Lava Jato/ A conta chega

Sergio Moro vira réu em ação por prejuízos ao Brasil

Moro vai agora ocupar o banco certo em um tribunal – Imagem: Lula Marques/PT na Câmara

Na segunda-feira 23, o juiz Charles Renaud Frazão de Morais, da 2ª Vara Cível de Brasília, recebeu a inicial de uma ação popular movida por deputados do PT que pede a condenação do ex-magistrado Sergio Moro por alegados prejuízos causados à Petrobras e à economia brasileira, por sua atuação no comando da Operação Lava Jato. Como está demonstrado, Moro, na suposta missão de combater a corrupção, levou à falência as maiores empreiteiras, o setor naval e outras empresas. A destruição de milhares de empregos e a desarticulação de ramos competitivos trouxe muito mais prejuízos ao País do que os benefícios de um processo viciado desde o início e movido por um projeto político e eleitoral. Autor da ação, o advogado Marco Aurélio Carvalho, um dos fundadores do Grupo Prerrogativas, defende que seja assegurado ao ex-ministro e ex-presidenciável “a presunção de inocência, o devido processo legal e o pleno exercício de defesa, princípios vilipendiados pela Lava Jato”.

Atraso/ O terraplanismo militar

O “Projeto de Nação” soa como ameaça dos generais

Os generais indicam o caminho – Imagem: Pieter Bruegel/Museu de Capodimonte

Depois da “Ponte do Futuro” de Michel Temer, pinguela pela qual o Brasil se aventurou rumo ao passado sombrio, chegou a vez de os militares darem sua contribuição. O documento “Projeto de Nação”, lançado pelas Forças Armadas em evento com a participação do vice-presidente Hamilton Mourão, soa como uma ameaça golpista. Elaborado pelos institutos General Villas Boas, Sagres e Federalistas, o texto projeta a manutenção do bolsonarismo pelos próximos 13 anos, defende a “integração da Amazônia” e o fim da gratuidade no Sistema Único de Saúde e nas universidades públicas. O suprassumo do pensamento terraplanista está lá. Os oficiais atiçam o fantasma do “movimento globalista”, cujo objetivo seria “determinar e controlar as relações entre as nações e entre os próprios cidadãos”. Quanto a integrar a Amazônia, trata-se, na visão dos milicos, de flexibilizar as regras referentes à exploração de minérios, regulamentar a participação do capital estrangeiro e remover “as restrições das legislações indígenas e ambiental, que se conclua serem radicais nas áreas atrativas do agronegócio e da mineração”. Os generais serviriam melhor ao País se se limitassem a escolher a paleta de cores usadas na pintura de muros, portões e meios-fios dos quartéis.

Balas sempre perdidas

Uma moradora e dez “suspeitos” morreram durante uma ação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal na terça-feira 24 no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. Gabriela, assim identificada pelos policiais, foi vítima de bala perdida no início da incursão, quando as forças de segurança trocaram tiros com os alvos. O complexo tem 12 favelas. A mais conhecida é a Vila Cruzeiro. Chatuba, onde morava Gabriela, é uma comunidade vizinha.

Televisão/ Abaixo o proselitismo

Justiça manda Record e Band reduzirem tempo de igrejas

Um pouco menos de charlatanismo na tevê aberta – Imagem: Redes sociais

Nas últimas décadas, o Poder Público fez vistas grossas às infrações das redes de tevê que lotearam a grade a igrejas neopentecostais. Há algo de novo no ar? A Justiça Federal acaba de determinar à Record e à Band a redução do tempo destinado às agremiações religiosas por descumprimento do limite de 25% de comercialização do espaço. “Ainda que os programas religiosos negociados pelas emissoras de tevê não se refiram a publicidade­ de marca, produto ou ideia, há verdadeira comercialização da grade mediante contratos de caráter sinalagmático e de inegável intuito lucrativo”, anota a juíza Frana Elizabeth Mendes. “Dada a importância social do setor de radiodifusão, a ultrapassagem do limite de publicidade comercial configura desvio de finalidade das concessões e permissões e o enriquecimento ilícito dos que comercializam os horários acima dos limites legais.” A juíza determinou ainda a fiscalização do governo federal. Neste caso, melhor esperar sentada, ao menos no caso da Record, emissora chapa-branca.

Austrália/ Cangurus à esquerda

Os trabalhistas vencem as eleições e prometem revolução verde

Albanese quer aumentar o corte nas emissões de carbono – Imagem: Wendell Teodoro/AFP

Após nove anos de um governo conservador, os australianos decidiram entregar o poder ao Partido Trabalhista. E o fizeram de forma contundente. A legenda de esquerda elegeu 75 deputados, um a menos do número necessário para obter a maioria absoluta, o que facilitará um acordo parlamentar para garantir a governabilidade. Os mais prováveis parceiros da aliança são os verdes. Em um país com poucos problemas sociais e econômicos, as mudanças climáticas ocupam o centro da discussão. A Austrália é profundamente dependente da produção de carvão e um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta. As secas e as enchentes tornaram-se mais extremas e a Grande Barreira de Coral, ecossistema importante para o mundo, está ameaçada. O futuro primeiro-ministro, o trabalhista ­Anthony Albanese, promete uma revolução “verde” para transformar a nação em uma “superpotência” das energias renováveis. O atual premier, Scott Morrison, anunciou a renúncia ao posto de líder do Partido Liberal, que perdeu 26 cadeiras.

Influência indígena

Sônia Guajajara, candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos em 2018 e uma das mais reconhecidas dirigentes indígenas do Brasil, foi eleita pela revista norte-americana Time uma das cem personalidades mais influentes do mundo. “Desde a tenra idade ela lutou contra forças que tentam exterminar as raízes de sua comunidade há mais de 500 anos”, descreve o texto de apresentação assinado por Boulos. Outro brasileiro figura na lista: o cientista Túlio Oliveira, responsável por sequenciar a variante Ômicron da Covid-19.

Geopolítica/ Biden, o incendiário

Em viagem internacional, o presidente dos EUA provoca Pequim

Biden com Kishida, premier do Japão – Imagem: Governo dos Estados Unidos

Em passagem pelo Japão, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, resolveu mandar um recado a Xi ­Jinping: Washington mantém a determinação de defender Taiwan, militarmente se necessário, de um eventual ataque chinês. “Foi esse o compromisso que assumimos. A questão é esta: concordamos com a política de uma só China e todos os acordos que resultam daí, mas a ideia de que ela pode ser adotada à força não é apropriada”, afirmou Biden antes da reunião do Quad, grupo formado por EUA, Japão, Austrália e Índia. Para Pequim, a posição do norte-americano reforça a desconfiança de que o apoio da Casa Branca à Ucrânia e à expansão da Otan rumo ao Leste é um prelúdio de uma interferência nas regiões de influência da China no Indo-Pacífico. A visita ao Japão marca uma promessa de Washington de oferecer aos parceiros um plano econômico que se contraponha ao avanço chinês.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1210 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE JUNHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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