Mahatma Santos

Pesquisador do INEEP e do Núcleo de Pesquisa Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente da UFRJ (DTA)

Opinião

Alta nos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras

Empresa tem estratégia de negócios centrada na geração de valor no curto prazo

Alta nos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras
Alta nos preços garante recorde histórico de dividendos aos acionistas da Petrobras
Foto: Agência Brasil
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A Petrobras divulgou na quinta-feira 5 os resultados operacionais e financeiros do primeiro trimestre de 2022. O lucro líquido da empresa foi de R$ 44,5 bilhões, resultado do aumento das vendas de petróleo e derivados.

Os números são fruto da explosão dos preços dos derivados e da elevação da demanda por combustíveis e petróleo no mercado interno. A surpresa, porém, foi o anúncio da distribuição de dividendos no total de R$ 48,4 bilhões.

O lucro pode ser explicado, em boa medida, pela elevação de 64,4% no faturamento total de vendas em comparação ao mesmo período do ano passado, contabilizando R$ 141,6 bilhões. Este resultado positivo decorreu, principalmente, do expressivo aumento das receitas de vendas no mercado interno e externo.

As receitas se beneficiaram, de um lado, da expansão de 55,5% dos preços derivados, que acompanharam as cotações internacionais e, de outro, da maior demanda interna de alguns derivados, como QAV (querosene de aviação) e gasolina, e principalmente de petróleo (aumento de 2.100% em relação ao ao mesmo período do ano passado) para abastecer a RLAM (atual Refinaria Mataripe) que agora está nas mãos do Grupo Mubadala.

A venda de petróleo, que foi de apenas 9 mil barris por dia no no primeiro trimestre de 2021 para atender o consumo das pequenas refinarias privadas, saltou para 198 mil barris por dia nos primeiros três meses deste ano por conta da demanda da Mataripe.

O resultado poderia ter sido ainda melhor não fossem os efeitos negativos da venda da Refinaria Landulpho Alves. Ao vender sua segunda maior refinaria em capacidade de processamento, a Petrobras registrou uma queda anual na produção de derivados de 5,3% no nos três primeiros meses do ano passado, o que resultou no crescimento de 7,5% nas importações de derivados no mesmo período deste ano.

Nem mesmo o aumento em cinco pontos percentuais do fator de utilização (FUT) de seu parque de refino, para em média 87%, foi suficiente para restringir as importações. Além disso, ao optar por vender petróleo cru em vez de derivados, a Petrobras abriu mão da margem que pode capturar com a venda de derivados no mercado interno.

No mercado externo, as receitas da Petrobras também registraram resultados positivos, com crescimento de 60,8% em comparação ao primeiro trimestre de 2021, sobretudo, pela expansão das exportações de petróleo (6,3%) e óleo combustíveis (6,5%).

O volume de dividendos distribuídos aos acionistas neste trimestre será de R$ 48,4 bilhões, recorde histórico para um primeiro trimestre. Este montante equivale a cerca de 48% do volume total distribuído no ano de 2021. Contudo, segundo comunicado da Petrobras, o montante refere-se, em parte (R$ 40,9 bilhões), à antecipação da remuneração relativa ao exercício de 2022 e, outra parte, no valor de R$ 7,5 bilhões, diz respeito à “conta de reservas de retenção de lucros constantes no balanço do exercício social de 2021”.

As despesas operacionais mantiveram-se estáveis na comparação com o ano passado, embora as despesas com vendas tenham subido 15,3% neste ano.

O resultado foi potencializado pela melhora dos resultados financeiros da Petrobras, que foi positivo em R$ 3 bilhões, ante o resultado negativo de R$ 30,7 bilhões no primeiro trimestre de 2021, refletindo principalmente a apreciação do real frente ao dólar.

As receitas cresceram 101,2% no período, puxadas por aplicações financeiras e títulos públicos. As despesas, por sua vez, registraram queda de 40%.

Ainda sobre os resultados financeiros, neste ano a Petrobras reduziu consideravelmente o seu nível de endividamento, alcançando uma relação dívida líquida/EBITDA de 0,81 neste primeiro trimestre (ante 2,03 do ano passado), valor muito inferior à meta de 2,5 que a empresa havia sinalizado em 2017 como principal motivo para a venda de seus ativos. A questão coloca em xeque, cada vez mais, a estratégia da companhia de continuar vendendo suas refinarias, campos terrestres entre outros.

Além disso, a companhia continua ampliando o seu fluxo de caixa operacional, que cresceu 31,8%, em comparação, alcançando valor de R$ 52, 8 bilhões. Este valor foi mais de 30 vezes superior aos investimentos realizados pela empresa. O dado reforça que a estratégia da companhia está ancorada na geração de caixa com objetivo de ampliar a distribuição de dividendo e os investimentos para geração de caixa no futuro estão cada vez mais em segundo plano.

Apesar das mudanças recentes nos quadros diretivos da Petrobras, o que se observa é a manutenção de uma estratégia de negócios centrada na geração de valor no curto prazo e dirigida aos seus acionistas. A companhia tem aproveitado a volatilidade dos preços internacionais para obter lucros extraordinários em detrimento dos consumidores e da sociedade brasileira, que tem sofrido com os efeitos perversos da inflação, enquanto os acionistas da estatal recebem dividendos recordes.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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