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‘Brasil não tem chances de participar de guerra, seja pela força ou diplomacia’, diz professor

Apesar dos aumentos orçamentários da Defesa, a maior parte da verba é direcionada para o gasto com pessoal, e não para investimentos

‘Brasil não tem chances de participar de guerra, seja pela força ou diplomacia’, diz professor
‘Brasil não tem chances de participar de guerra, seja pela força ou diplomacia’, diz professor
Hamilton Mourão, vice-presidente da República. Foto: Sergio Lima/AFP
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Diante da ofensiva da Rússia contra a Ucrânia, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) sugeriu que que o Brasil não fique neutro no conflito, e defendeu o uso da força para conter o avanço do Kremlin. A declaração provocou burburinho nas redes sociais e levantou dúvidas sobre a possibilidade do Brasil atuar de forma mais ativa no conflito.

Mas, para especialistas, não há chances disso ocorrer. Nem por via “da força” e nem por vias diplomáticas

Os motivos são dois: a falta de credibilidade para arbitrar ou oferecer mediação em uma crise desse porte e a própria estrutura da Defesa brasileira.

“O Itamaraty hoje não desfruta de prestígio e credibilidade para tentar ajudar a arbitrar esse tipo de conflito”, afirma William Nozaki, professor de Ciência Política e Economia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) . “Se o capitão e os generais brasileiros se moverem por bravatas e delírios, ensaiando qualquer ‘uso da força’ como sugeriu Mourão, vão protagonizar mais uma piada nacional e internacional.”

Apesar dos aumentos orçamentários da Defesa, totalizando R$ 11,8 bi na versão mais recente da LDO, a maior parte é direcionada para gasto com pessoal, e não em investimentos em tecnologia e equipamentos. Para se ter uma noção, o Brasil tem menos de 350 mil soldados, ante 1 milhão da Rússia, cuja frota marítima é oito vezes maior que a brasileira.

A Rússia tem ainda mais de 4 mil aviões de guerra e mais de 27 mil veículos blindados de combate, já o Brasil, tem menos de 700 aviões de guerra e menos de 2 mil blindados.

“Essa guerra é assunto de potências nucleares, a Aeronáutica brasileira não identifica ddrogas em avião de comitiva presidencial, a Marinha brasileira não identifica as causas de vazamento de petróleo na costa do país, o Exército brasileiro não consegue evitar a devastação da Amazônia”, afirmou o professor.

Para ele, a política externa é de alinhamento direto com os Estados Unidos em detrimento do protagonismo no cenário internacional. O Brasil será afetado pela guerra, mas não tem poder de influência na crise.

“Com o arrendamento das unidades de fertilizantes da Petrobras nos tornamos dependentes da importação deste insumo que adquirimos dos russos. Em contrapartida, os instrumentos de defesa, inteligência e armamentos do Brasil são inócuos para um cenário como este”, declarou.

 

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