Sociedade
Pandemia segue demonstrando os frutos da desigualdade entre negros e brancos em São Paulo
Segundo levantamento do Instituto Pólis, a mortalidade entre homens negros foi 60% maior do que a média da capital paulista


A morte de pessoas negras e de baixa renda por Covid-19 no município de São Paulo são significativamente maiores do que as de pessoas brancas. É o que indica um estudo feito pelo Instituto Pólis.
O estudo fez um balanço sobre os dados de morte por Covid-19 no município de São Paulo, entre 2020 e 2021.
“A concentração espacial de óbitos por Covid-19 considera o local de residência da vítima e demonstra que as mortes não se distribuem de maneira homogênea no território da cidade”, cita o relatório.
Segundo os dados analisados, a mortalidade entre homens negros foi 60% maior do que a média da capital paulista. Na comparação com homens brancos, negros morreram 30% a mais.
As mulheres negras também foram 40% mais afetadas do que mulheres brancas.
A discrepância nos índices de mortalidade entre negros e brancos revelam os efeitos do acesso desigual à saúde, somado a impossibilidade de isolamento e a vulnerabilidade socioeconômica.
“Quanto maior o poder aquisitivo, menores as taxas de mortalidade pela pandemia”, aponta o estudo.
O impacto da ômicron
O estudo ainda aponta que o primeiro mês de 2022 registrou um número de mortes sete vezes maior do que dezembro de 2021. Do total de morte, 87% das vítimas tinha 60 anos ou mais.
Os pesquisadores atribuem esse aumento de vítimas a variante Ômicron e ao relaxamento geral da população e das autoridades quando as medidas de isolamento e combate a disseminação da doença, como a vigilância ativa, testagem e busca ativa de contatos com os positivados.
As análises dos casos no município puderam demonstrar que apesar da queda do número de óbitos em 2021, resultado da ampliação da cobertura vacinal na população em geral, os índices de mortes ainda podem escalar, já que a variante Ômicron se apresenta como mais contagiante, podendo sobrecarregar o sistema de saúde, elevando o número de casos graves.
O destaque feito pelo estudo é que a grande maioria das internações atuais é composta de pessoas que não se vacinaram ou não possuem o esquema vacinal completo. Sendo assim, é necessário ampliar a cobertura vacinal e rever medidas que autorizam a retomada de atividades que gerem aglomerações, em consonância com o grau de risco apresentado pela nova cepa do coronavírus.
Comparando a mortalidade entre as categorias de trabalho em 2021 e 2021, o estudo revela que houve um aumento significativo da mortalidade de trabalhadores como resultado direto da suspensão das medidas restritivas e às atividades presenciais.
Entre os índices mais altos de mortalidade estão funcionários de serviços administrativos, educação, trabalhadores domésticos e comerciantes.
“O aumento anotado é, provavelmente, reflexo da reabertura econômica, diminuição de restrições em locais fechados, como lotação de bares e restaurantes, e retorno gradativo às atividades presenciais que resultaram em maior exposição à infecção”, afirma a pesquisa.
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