Frente Ampla
A agenda ambiental está acima de qualquer questão partidária ou ideológica
Espero verdadeiramente que 2022 se consolide num ano de consciência e de esperança para começarmos a reverter esse grave quadro


Os episódios que chocaram o Brasil no fim do ano passado e no início deste até parecem cenas de filmes de ficção. Infelizmente, é a realidade que bate à nossa porta, com eventos climáticos cada vez mais imprevisíveis e destruidores. As recentes chuvas na Bahia e em Minas Gerais e a seca no Pantanal nos alertam para o que é fato consumado: a crise climática tem desequilibrado bruscamente o planeta, com consequências cada vez mais severas.
O resultado triste de tantos maus-tratos são desabamentos, inundações, estradas destruídas, produzindo um cenário com mortes, perdas materiais e milhares de famílias desabrigadas. Números divulgados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia apontam que passamos de 850 mil habitantes atingidos nas regiões mais castigadas pelos temporais.
Ficamos também consternados com episódios recentes, como o desabamento de uma rocha de grandes dimensões na cidade mineira de Capitólio, que atingiu lanchas e deixou dez mortos. Além disso, a atenção com a possibilidade de rompimento de barragens traz de volta um clima de medo e tensão, resgatando as tragédias de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019. Crimes que produziram consequências ambientais irreversíveis e que até hoje deixam um enorme rastro de dor em centenas de famílias. Não é de hoje que a natureza emite alertas e tristes consequências sobre os excessos cometidos pelo ser humano contra a natureza.
Precisamos sempre aproveitar a oportunidade de mostrar as razões pelas quais desastres climáticos estão se repetindo e acontecendo com cada vez mais frequência. Hoje vemos desertos aumentando de um lado e dilúvios crescendo do outro. Há frio exagerado em alguns lugares e aquecimento dos oceanos em outros. Essa equação que produz realidades tão extremas nunca será uma boa saída. Por isso, a importância de reafirmar que tudo isso é o resultado dos maus-tratos a nossa casa maior, o planeta Terra.
Como presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, tenho insistido sempre que não há sustentabilidade possível para a vida humana sem tratar como prioridade a questão ambiental. Somos parte do meio ambiente. Vivemos e dependemos dele para sobreviver. Infelizmente, somos o animal predador e devastador que vem destruindo as florestas, contaminando rios e lençóis freáticos, enchendo de plástico os oceanos, entre outros crimes ambientais.
E o mais impressionante é ver o quanto o ser humano ainda é capaz de produzir todo esse mal ao planeta, mesmo plenamente ciente de que o aquecimento global é uma realidade extremamente preocupante, desencadeando uma série de consequências, como o aumento na temperatura do planeta, o degelo dos polos e o aumento no nível dos oceanos. Especialmente no Brasil, onde os desmatamentos respondem por 46% das emissões de gases poluentes na atmosfera. Diante desse rumo desastroso na agenda ambiental em nosso país, é preciso reforçar que o Estado é peça-chave nesse processo. É urgente que os governos discutam uma política mais rigorosa de infraestrutura. No Congresso, temos feito todos os esforços possíveis para que a pauta ambiental seja uma prioridade urgente. E para que o diálogo com todos os atores da sociedade e a superação de falsas dicotomias deem o tom das reflexões e do trabalho que precisa ser feito para reverter os retrocessos ambientais impostos pelas políticas criminosas de destruição e de desmonte ambiental. Precisamos discutir uma política de infraestrutura em que os governos federal, estaduais e municipais atuem de forma articulada para a prevenção de desastres ambientais.
Infelizmente, o que vemos é uma total perda de credibilidade do atual governo federal, com a imagem do Brasil completamente destruída diante da comunidade global. Isso ficou evidente durante a COP26, no ano passado, em Glasgow, mas também se reafirma em todos os contatos que fazemos com as embaixadas, empresários e entidades e nos encontros internacionais dos quais participo como representante do Congresso. É uma tristeza constatar isso em relação a um país que liderou os debates e foi protagonista nos encontros de Paris, de Copenhague e da Rio-92.
Se todo esse sofrimento puder nos ensinar algo, ele chega como um grito para mostrar que a agenda ambiental é prioritária e está acima de qualquer questão partidária ou ideológica. O cuidado individual e coletivo com a nossa casa maior é uma tarefa do presente que precisa ser urgentemente abraçada por todos nós.
Espero verdadeiramente que 2022 se consolide num ano de consciência e de esperança para começarmos a reverter esse grave quadro de devastação ambiental, pela sobrevivência não apenas do Brasil, mas de todo o planeta, das atuais e das futuras gerações.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1191 DE CARTACAPITAL, EM 13 DE JANEIRO DE 2022.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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