Política

Em live, Bolsonaro diz que tem dois fuzis e estimula o armamento da população

O ex-capitão incentivou o porte de armas para evitar a chegada de um ‘ditador de plantão’

O presidente Jair Bolsonaro, ao lado do ministro Rogério Marinho. Foto: Reprodução
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O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta quinta-feira 25, que mantém dois fuzis em casa. Segundo ele, as armas ficam dentro do seu quarto. A declaração ocorreu durante transmissão ao vivo nas redes sociais.

 

Bolsonaro celebrava normas estabelecidas durante o seu governo que facilitaram o acesso às armas, como a extensão da posse de arma em todo o imóvel rural, lei aprovada no Congresso e sancionada em setembro de 2019.

Na sequência, o presidente declarou, em tom de escárnio, que possui fuzis.

“Imagine você morando no campo, desarmado, ou você tá no campo, tem a posse de arma de fogo, mas não pode ir trabalhar armado. Junto com o Parlamento, conseguimos a posse estendida da arma de fogo. Hoje o cara pode, ou a mulher, montar no seu cavalo, entrar numa viatura e andar armado em toda a sua propriedade. E se ele for CAC [caçador], colecionador ou atirador, pode comprar um fuzil. Que maravilha, né? Eu tenho dois em casa”, afirmou.

Em seguida, Bolsonaro disse garantir que os fuzis ficam protegidos.

“Se a mulher sai do quarto, tudo bem. Ele não sai. E para chegar no meu quarto, tem duas portas. Então, eu vou acordar, obviamente. Sempre foi assim na minha vida. Nunca deixei de dormir com arma em casa”, declarou.

O ex-capitão zombou ainda de pessoas que prestam homenagens a mortos em locais públicos, como aconteceu em junho do ano passado, quando a ONG Rio de Paz pregou cruzes na areia da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em referência às vítimas da Covid-19.

“Obviamente, se alguém for num condomínio e entrar numa casa, o cara, a princípio, não vai entrar aleatoriamente. Vai dar uma estudada. Se ele descobrir que o cara tem arma em casa, dificilmente ele vai entrar naquela casa”, afirmou. “Ele vai entrar naquela casa do pacificador. Aquele cara que gosta de soltar pombinha na Lagoa Rodrigo de Freitas, cravar cruzinha na areia de Copacabana, vir aqui em frente ao Congresso fazer a firula dele.”

Bolsonaro prosseguiu com o estímulo ao uso de armas para evitar a chegada de um “ditador de plantão”.

“Com um povo armado, jamais aparecerá um canalha, um ditador de plantão, para querer mudar o regime naquele país, fazer valer a sua força. Jamais. Vê se cola alguma campanha de desarmamento lá nos Estados Unidos.”

A área da segurança pública é uma das mais bem-sucedidas do governo em termos de aprovações no Congresso, segundo levantamento do Observatório do Legislativo Brasileiro. Bolsonaro já demonstrou, em uma série de oportunidades, ter uma verdadeira fixação sobre o tema, chegando a julgar como mais importante a aquisição de um fuzil do que de feijão.

Estudo do Senado mostrou que o governo atual é o que mais colocou armas nas mãos dos cidadãos em toda a história nacional, com 320 mil novos registros entre 2019 e 2020, ante 303 mil entre 2012 e 2018.

Bolsonaro, porém, não cita qualquer fundamento científico para afirmar que a flexibilização do porte e da posse de armas melhora a segurança pública. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou o contrário: segundo relatório divulgado em julho deste ano, foram notificados 50.033 assassinatos durante a pandemia no Brasil, 4,8% a mais que em 2019 (47.742).

A pesquisa aponta preocupação com a maior facilidade de posse de armas dentro de casa, devido a diferentes fatores, como o grau ofensivo das armas adquiridas de forma ilimitada, a dificuldade de fiscalização pelo Exército sobre as categorias beneficiadas e a ocorrência de desvio de finalidade nos registros.

“O caminho para uma política de armas no Brasil transparente e permeável ao controle da sociedade civil ainda é bastante longo – e, para agravar o risco a que cada um de nós estamos sendo expostos, essa distância só tem aumentado com os arroubos normativos irresponsáveis do Presidente da República e o silêncio sepulcral do Congresso Nacional”, diz o documento.

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