Política
Em dia de debandada na Economia, Bolsonaro faz live negacionista e culpa imprensa e governadores pela crise
O ex-capitão afirmou que o País está na iminência de um novo aumento nos combustíveis, mas minimizou a situação: ‘Mais barato que lá fora’
O presidente Jair Bolsonaro usou sua transmissão ao vivo nas redes sociais nesta quinta-feira 21 para atacar a CPI da Covid, cujo relatório o acusa de cometer nove crimes, e destilar negacionismo sobre a pandemia. A comissão imputou ao ex-capitão crimes comuns, previstos no Código Penal; crimes de responsabilidade, conforme a Lei de Impeachment; e crimes contra a humanidade, de acordo com o Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional.
“Essa acusação do G-7 da CPI não ajudou em nada. Tomou tempo de funcionários e tomou dois dias do ministro [Marcelo] Queiroga”, disse Bolsonaro na live. “Me acusam aí de 11 crimes. Não vou discutir historinha de fantasia”.
Horas antes da transmissão, o Ministério da Economia sofreu quatro baixas. A principal delas é a exoneração do secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal. Também pediram demissão Jeferson Bittencourt (secretário do Tesouro Nacional), Gildenora Dantas (secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento) e Rafael Araújo (secretário-adjunto do Tesouro Nacional).
A debandada ocorre no dia em que a Câmara dos Deputados, com o apoio do governo de Jair Bolsonaro, articula uma abertura no Orçamento para bancar o Auxílio Brasil de 400 reais, visto como prioritário para a campanha do presidente à reeleição.
“Teremos espaço no Orçamento para aprovar esse Auxílio Brasil de 400 reais. Tem que ser algo que dê para o cara comprar os mantimentos”, afirmou. O presidente também insistiu em culpar governadores e imprensa e se eximir de qualquer responsabilidade pela crise econômica.
“A política do ‘fica em casa’ é uma das mais perversas da humanidade. Aqui no Brasil, todo mundo adotou. E olha que grande parte da população pediu o lockdown. Eu tinha poder para fechar o Brasil, mas não fechei um botequim sequer”.
“Eu agravei a fome ou vocês, que apoiaram o fique em casa?”, perguntou, ao exibir um artigo de opinião crítico ao governo publicado por um site.
Bolsonaro também anunciou que o País está na iminência de ver mais um aumento nos combustíveis. Segundo ele, a gasolina e o diesel estão caros, “mas estão mais baratos que lá fora”. Mesmo assim, voltou a dizer que oferecerá um auxílio de 400 reais para 750 mil caminhoneiros autônomos. “É o possível no momento. Dá um pouco mais de 3 bilhões de reais ao longo de um ano. Agora, tem secretário que quer fazer valer a sua vontade. O ministro deu uma decisão, vamos gastar dentro do teto e as reformas continuam. Temos um teto de gastos”.
Nesta quinta, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, José Mauro Coelho, foi mais um a pedir demissão. Horas antes, Bolsonaro já havia mencionado a possibilidade de um auxílio para caminhoneiros.
A live também foi marcada pelo negacionismo do presidente. Ele atacou o uso de máscaras e questionou, sem apresentar qualquer evidência, as vacinas contra a Covid-19. “Talvez eu tenha sido o único chefe de Estado do mundo a dar a cara a tapa nessa questão. A decisão nem sempre agrada a todo mundo. Temos que decidir de que lado estamos, e não é o lado do politicamente correto. Escolhi o lado certo. O lado da verdade sempre é o mais difícil”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.