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MPF formaliza pedido de cooperação para repatriar fóssil ‘Ubirajara jubatus’

Autoridades alemãs ainda não responderam a solicitação; quase 10 mil pessoas assinaram petição para trazer material único de volta ao Brasil

MPF formaliza pedido de cooperação para repatriar fóssil ‘Ubirajara jubatus’
MPF formaliza pedido de cooperação para repatriar fóssil ‘Ubirajara jubatus’
A espécie é datada em cerca de 110 milhões de anos (Foto: Ilustração de Bob Nicholls/Paleocreations.com 2020)
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O Ministério Público Federal (MPF) informou à equipe da plataforma Change.org, na manhã desta sexta-feira 15, que realizou um pedido formal de cooperação às autoridades alemãs para a repatriação do fóssil do dinossauro brasileiro “Ubirajara jubatus”. A organização hospeda um abaixo-assinado criado pelo professor e pesquisador Leonardo Troiano para que o patrimônio seja devolvido ao Brasil. Quase 10 mil pessoas já se uniram à petição online. 

A iniciativa do MPF é uma resposta à mobilização que historiadores, pesquisadores e a própria Sociedade Brasileira de Paleontologia estão movendo para esclarecer as circunstâncias da retirada do fóssil do País e trazê-lo de volta ao Brasil. O material encontra-se no Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe (SMNK), na Alemanha, que se recusa a devolvê-lo. 

Ainda segundo o Ministério Público Federal – Procuradoria da República no Ceará –  informou à Change.org, as autoridades alemãs ainda não responderam ao pedido. Antes disso, a organização, que atua como plataforma de abaixo-assinados no mundo, também havia entrado em contato com o Museu de Karlsruhe para saber se a instituição iria repatriar o fóssil. 

Por e-mail, um professor da seção de Paleontologia e Evolução do Departamento de Geociências do museu falou que seria impossível enviar uma resposta devido ao prazo de fechamento desta reportagem e também por causa do status jurídico do caso. A plataforma abriu espaço para que o museu se manifeste às quase 10 mil pessoas que assinaram a petição assim que for possível. O abaixo-assinado possui versões em português e em alemão.   

Troiano, que cursa mestrado em Arqueologia na Universidade Nacional de Atenas, na Grécia, acredita na repatriação do Ubirajara jubatus e afirma que ela será “simbólica”. “É importante como criação de um precedente. Uma vitória concreta, mas também simbólica porque, com isso, talvez se comece a criar uma cultura maior de valorização do patrimônio e uma cultura de lutar e exigir que o patrimônio fique onde ele pertence”, explica o pesquisador. 

O autor da petição chama atenção para o fato de que o caso do fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus não é isolado, mas um problema que atinge o Brasil desde o seu nascimento como nação, bem como outros países da América Latina, África e Ásia, excetuando-se as principais potências europeias. Troiano nomeia o problema de “tráfico patrimonial de herança”.

“É urgente que consigamos uma vitória para que se crie um precedente, para que se crie um processo e uma abertura para novas tentativas de repatriação de inúmeros outros objetos, arqueológicos, paleontológicos, enfim, de qualquer natureza”, defende o professor. 

Troiano explica que a recuperação do fóssil também possui uma importância “prática”, que inclui o acesso facilitado a pesquisadores brasileiros para a produção do conhecimento no país. Além disso, segundo explica, uma peça rara como essa tem o potencial de atrair investimento para as instituições que a abrigam e de pesquisa, tornando-as mais relevantes. Como consequência, possibilita mais visitação, ajudando a comunidade local a se desenvolver. 

Postura colonialista e mesquinha

A espécie do dinossauro foi apresentada em um estudo científico na revista “Cretaceous Research”, em dezembro do ano passado. Um mês depois, o artigo foi despublicado devido à polêmica sobre a legalidade da retirada de seu fóssil do Brasil em 1995. Nos últimos meses, a campanha “Ubirajara belongs to Brazil” (Ubirajara pertence ao Brasil), ganhou força nas redes sociais e fez o Museu de Karlsruhe se manifestar em seus perfis.   

A instituição se defende, dizendo que o material é de propriedade alemã e que foi importado em conformidade com os regulamentos da época. O professor Troiano acredita que a postura do museu perpetua um paradigma colonialista e chama-a de mesquinha e retrógrada.

“Perpetua esse paradigma de que o nosso país, países em desenvolvimento não são capazes de zelar pelo próprio patrimônio, não são capazes de realizar uma pesquisa com esses objetos que compõem o seu patrimônio, ou seja, nem de zelar, proteger, salvaguardar esse patrimônio, e nem têm a capacidade de desenvolver uma pesquisa de qualidade. No caso, nós não estamos fazendo pesquisa com esse exemplar porque nos foi privado”, afirma.

O fóssil foi encontrado na região da Bacia do Araripe (CE) (Foto: Reprodução/Via DW)

Como pesquisador, Troiano classifica o comportamento do Museu de Karlsruhe como de “extremo mau gosto”, já que o esperado pela comunidade científica mundial é que haja um espírito cooperativo que preze pelas boas relações entre os países e seus pesquisadores.  

Desde 1942, o Brasil possui um decreto presidencial declarando que fósseis são patrimônio da União. Conforme explica o texto do abaixo-assinado criado por Troiano, foi levantada a alegação de que um servidor teria feito uma doação de caixas repletas de fósseis, sem que tivesse atribuição plena para fazê-lo e sem determinar o conteúdo exato das caixas. Para que o envio fosse legal, entretanto, uma autorização extraordinária deveria existir. 

“O que eles alegam é que tudo foi feito dentro dos conformes na lei alemã, novamente tendo uma postura de total descaso com o Brasil, desconsiderando completamente a legislação brasileira e o que ela diz sobre o assunto”, comenta Troiano sobre os argumentos do museu. 

Ubirajara pertence ao Brasil

O procurador Rafael Rayol instaurou um procedimento para apurar o caso. O MPF tenta comprovar ilegalidade na retirada do fóssil do Brasil. “A parceria com as autoridades alemãs, pedida formalmente, caso firmada, deve permitir que se avance na apuração em curso sobre o caso e que se verifique se houve ilegalidade ou não”, diz nota enviada pelo Ministério Público.

Enquanto isso, a pressão pela repatriação do exemplar fóssil segue forte. Troiano mantém o abaixo-assinado ativo com a intenção de promover conscientização e rápida disseminação da mensagem sobre a importância da luta pela reconquista do patrimônio nacional. “Minha intenção ao lançar o abaixo-assinado foi de comunicar ao maior número possível de pessoas a gravidade da situação e fazer dessa situação um exemplo”, diz. 

Confira a petição na íntegra: http://change.org/UbirajaraBrasileiro

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