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Empresa que receberia pagamento da Covaxin pode ser de fachada
Investigações apontam que no endereço da Madison Biotech já funcionaram outras 600 empresas fantasmas
Novos indícios revelados pela CPI da Covid no Senado apontam que a empresa Madison Biotech, que receberia antecipadamente 45 milhões de dólares pela compra da vacina Covaxin, pode ser uma empresa de fachada. A informação é do G1.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da Comissão, revelou ao portal que as informações colhidas mostram que a Madison Biotech é sediada em um endereço em Cingapura, onde investigações internacionais identificaram o funcionamento de outras 600 empresas fantasmas.
A empresa foi constituída há apenas 18 meses. A CPI vai apurar quem são os sócios e as transações feitas pela Madison. O pouco tempo de existência também está no foco da investigação.
A Madison Biotech aparece nas mensagens encaminhadas pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) a um ajudante de ordem do presidente Jair Bolsonaro no dia 22 de março. O arquivo mostra uma licença de importação de 300 mil doses e um pagamento de 45 milhões de dólares à Madison Biotech.
Luís Ricardo Miranda, irmão do deputado e servidor do Ministério da Saúde, diz ter sido pressionado a assinar a licença. Ao encaminhar o arquivo ao auxiliar do presidente, o deputado questiona sobre como o irmão deveria agir no caso e é respondido apenas com uma bandeira do Brasil.
Outra inconsistência apontada pelo vice-presidente da comissão é o próprio uso da Madison para receber o pagamento pela Covaxin. “Por que não fazer o pagamento diretamente para a Bharat Biotech, por que usar uma empresa em Cingapura?”, questionou Rodrigues.
O senador também lembrou que o empenho de 1,6 bilhão para pagamento das 20 milhões de doses já foi feito em nome da Precisa Medicamentos, o que reforça a desconfiança de irregularidades no pagamento. A Precisa é a intermediária na compra da Covaxin, alvo de investigações na CPI e no Ministério Público Federal.
Governo se defende
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, em comunicado à imprensa realizado na quarta-feira 23, alegou que a Madison Biotech é apenas um braço legal da Bharat Biotech, fabricante da Covaxin.
A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência também tratou do tema. Nas redes sociais, a pasta esclareceu que a licença de importação divulgada apresenta ‘erros’ e ‘fortes indícios de adulteração’.
O comunicado não justifica, porém, os motivos da licença ser emitida em nome da Madison e apenas destaca que a empresa corrigiu os erros. Segundo informou, na licença final assinada não há previsão de pagamento adiantado como prevê o contrato e o número de doses foi corrigido de 300 mil para 3 milhões.
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