Política

Deputado aponta falhas inaceitáveis do governo em compra da Covaxin

Luís Miranda (DEM-DF) é irmão do servidor que sofreu pressão para assinar contrato de compra do imunizante

Deputado aponta falhas inaceitáveis do governo em compra da Covaxin
Deputado aponta falhas inaceitáveis do governo em compra da Covaxin
Deputado Luís Miranda, do DEM-DF. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
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Novas suspeitas de irregularidades começam a surgir em torno do contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin pelo governo federal.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira 23, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), que é irmão do servidor que sofreu pressão do governo para acelerar a compra do imunizante, apontou possíveis ‘erros graves’ no acordo fechado com a indiana Bharat Biotech.

Segundo contou ao jornal, o irmão Luís Ricardo Fernandes Miranda, que é ex-chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, apontou irregularidades “bem mais graves” no contrato, entre elas as datas de vencimento da vacina incompatíveis com a importação, o que impediria a vacinação da população em tempo hábil. A forma do contrato também estaria irregular, o que reforça a suspeita de favorecimento da Precisa Medicamentos, que intermediou a negociação.

“Tem coisa mais grave, bem mais grave [do que a pressão]. Inclusive erros no contrato. Formas irregulares na apresentação do contrato. Datas de vencimento das vacinas incompatíveis com a importação, sem tempo de ser vacinada a população”, relatou o deputado.

Por conta do que chamou de ‘falhas inaceitáveis’, o servidor teria se recusado a assinar o contrato, fato que desencadeou a pressão vinda da alta cúpula do governo federal.

O servidor já prestou depoimento em março para o Ministério Público Federal em que relevou detalhes da pressão e das irregularidades que encontrou no documento. Ele deixou o cargo de chefia no último dia 8 e deve ser ouvido pela CPI da Covid no Senado nesta sexta-feira 25.

O deputado ainda contou que levou adiante as denúncias feitas pelo irmão, mas se recusou a informar para quem elas foram levadas. “Se eu responder, cai a República”, disse o parlamentar.

Altos valores

A compra de 20 milhões de doses da Covaxin ao custo de 1,6 bilhão de reais é também alvo de suspeitas. O custo de 15 dólares por dose é 1.000% maior do que o valor inicial oferecido pela empresa indiana, de 1,34 dólar. O preço é também o maior entre os seis imunizantes comprados até o momento pelo governo.

Sobre possíveis desvios na operação, o deputado afirmou ter apenas desconfianças. Segundo contou, seu irmão suspeitou dos “valores muito acima daquilo que era tratado com outras marcas”. Na vacina da Pfizer, por exemplo, o custo é de 10 dólares por dose.

O TCU apontou nesta quarta-feira 23 que o governo federal foi alertado sobre os valores e recebeu recomendações de técnicos do Ministério da Saúde e da Advocacia-Geral da União para que negociasse o preço da vacina indiana. Os alertas foram ignorados e as recomendações não foram seguidas, como aponta o relatório da Corte.

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