Justiça

Ministro do TCU pede que PF investigue auditor que fez relatório citado por Bolsonaro

O corregedor Bruno Dantas quer ainda o afastamento preventivo e um processo disciplinar

Ministro do TCU pede que PF investigue auditor que fez relatório citado por Bolsonaro
Ministro do TCU pede que PF investigue auditor que fez relatório citado por Bolsonaro
Fachada do prédio do TCU. Foto: Agência Senado
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O ministro Bruno Dantas, corregedor do Tribunal de Contas da União, cobra a instauração de um processo disciplinar, o afastamento preventivo e a instalação de um inquérito policial contra o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, que produziu um relatório com dados não comprovados sobre as mortes por Covid-19 no Brasil.

Em despacho enviado à presidente da Corte, Ana Arraes, Dantas cita o processo que levou ao pedido de afastamento do auditor.

“Ministros e servidores desta Casa foram surpreendidos, na última segunda-feira (7) pela ‘notícia’, de que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria produzido relatório concluindo que cerca de 50% das mortes causadas por Covid-19 no ano de 2020 teriam ocorrido por outros fatores, que não o Coronavírus, o que representaria um superdimensionamento do número de óbitos no Brasil”, escreve.

“Diante da perplexidade geral causada pela informação, consultei os eminentes Ministros Benjamin Zymler e Vital do Rego, respectivamente relatores do Quinto e do Sexto ciclos de acompanhamento das ações do Ministério da Saúde no âmbito do Programa especial de atuação no enfrentamento à crise da Covid- 19 acerca da existência de relatório produzido oficialmente pelo Tribunal que pudesse ter chegado a tal conclusão. Suas excelências refutaram a possibilidade de qualquer deliberação do Tribunal nesse sentido bem como informaram que não haveria nos autos que relatam qualquer documento oficial produzido por auditores que sugerisse tal conclusão”, acrescenta.

Se o pedido do corregedor for acatado, o auditor ficará proibido de ingressar no prédio do TCU e de acessar sistemas internos por até 60 dias.

Nesta quarta-feira 9, a CPI da Covid aprovou a convocação do auditor.

O suposto documento feito por Marques, que foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira 7, dizia que 50% das mortes registradas por Covid-19 no Brasil, na verdade, tiveram outras causas.

No mesmo dia, o TCU desmentiu o presidente sobre os números citados. “O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do Presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje”, diz o texto.

Na terça-feira 8, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), membro da CPI da Covid, afirmou que é urgente a necessidade de aprovar a quebra dos sigilos do auditor.

“Um auditor do TCU criminosamente interveio no sistema do tribunal e adulterou dados. Este é um sigilo que inevitavelmente terá de ser quebrado, logo, de imediato, por esta CPI”, disse Randolfe em entrevista coletiva.

“O que ocorreu foi gravíssimo. O presidente espalhou uma notícia mentirosa sobre o TCU e, em seguida, foi desmentido pelo próprio TCU. Foi algo grave. É importante apurarmos por que esse auditor fez isso. Isso tem relação direta com a CPI. A quem interessa subestimar ou adulterar de forma triste e lamentável [os dados], em prejuízo à memória das 470 mil vítimas da Covid-19?”, acrescentou.

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