Cultura

‘Them’ consolida a vertente do terror real e cotidiano do racismo, do sexismo e da xenofobia

Além de explorar o racismo, a série demole o mito do american dream

‘Them’ consolida a vertente do terror real e cotidiano do racismo, do sexismo e da xenofobia
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Naquela ensolarada East Compton do início dos anos 1950, de palmeiras e penteados artificiais, Freddy Krueger, Jason, os Gremlins ou o Véio da Havan não sobreviveriam uma noite. Nada é mais assustador que uma dona de casa branca, seu marido caipira e os filhos mal-educados. Pior se forem 10, 20, 30, como robôs em uma linha de montagem. E, principalmente, se você faz parte da única família negra do pedaço.

Traumatizados por um drama pessoal na Carolina do Norte, os Emory aproveitaram a “Grande Migração”, quando 600 mil negros deixaram os estados do Sul dos EUA para fugir das leis raciais e de seus próprios fantasmas, e estacionaram em Compton. Uma fuga inútil. O racismo não conhece fronteiras e os medos vivem encapsulados na mente. Alfred, o pai, engenheiro submetido a constantes humilhações no trabalho e na vizinhança, carrega o ódio de quem viu os horrores da Segunda Guerra Mundial. Lucky, a mãe, enfrenta a culpa da perda de um filho. Ruby, a mais velha, queria ser diferente. Grace, a caçula, só pretendia ser amada. Nesse subúrbio de Los Angeles, branco e retrógrado, os protagonistas de Them lidam, da forma que conseguem, nem sempre a melhor, com os próprios pesadelos e a realidade sufocante.

A série de dez episódios da Amazon Prime consolida uma nova vertente do terror. No lugar de alienígenas e serial killers sem propósito, racistas, misóginos e xenófobos, os monstros reais. Um dos responsáveis por essa tendência é o diretor e produtor Jordan Peele, de Corra e Nós, claras referências de Them, e Lovecraft Country. Fora das produções norte-americanas, recomenda-se o britânico O Que Ficou para Trás.

Além de explorar o racismo, Them demole o mito do american dream. Enquanto os suburbanos brancos brigam desesperadamente para defender seu “lar”, sem notar que os EUA tinham donos e não eram eles, os banqueiros especulam com os preconceitos e moldam o país. Cinco décadas depois, os vestígios do paraíso redneck em East Compton seriam soterrados pelo domínio da cultura afro em Los Angeles.

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