Sociedade

10 mulheres indicam filmes, livros e séries sobre resistência e igualdade

Artistas, políticas e influenciadoras indicam obras que merecem destaque no Dia Internacional da Mulher

Créditos: divulgação
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Negras, brancas, lésbicas, transexuais, artistas, políticas, influenciadoras, pensadoras. As mulheres podem ser de muitas formas e chegar a diferentes lugares. Donas de trajetórias de luta por reconhecimento, elas contam a CartaCapital os filmes, livros e séries que merecem ser recomendados no Dia Internacional da Mulher – ou melhor, de todas as mulheres.

Numa data marcada pela defesa à igualdade de gênero, dez nomes de referência convidam os leitores a refletir sobre os entraves políticos, econômicos e sociais que as impedem de exercerem plenamente os seus direitos.

Elza Soares

Créditos: Marcos Hermes A cantora Elza Soares. Foto: Marcos Hermes

Elza, livro de Zeca Camargo

A cantora e compositora brasileira indica o livro de sua trajetória narrada pelo jornalista Zeca Camargo. Lançada em 2018, a obra narra a história de Elza Soares, da infância pobre ao sucesso, consagrada em discos que marcaram a música brasileira e, mais recentemente, nos ovacionados e premiados A mulher do fim do mundo e Deus é mulher. “Convido a todos a conhecerem essa história”, destaca Elza.

A cor púrpura, filme de Steven Spielberg

O premiado filme lançado em 1986 está entre os prediletos de Elza Soares. A obra narra a vida de Celie, uma mulher afro-americana que é violentada pelo próprio pai, e posteriormente separada dos filhos que tem com ele, para ser ‘doada’ ao marido “Mister”, interpretado por Danny Glover, que a trata simultaneamente como escrava e companheira. “É um filme que eu me vejo, enquanto mulher negra, e creio que muitas de nós também”, destaca Elza Soares.

Daniela Mercury

Créditos: Célia Santos A cantora Daniela Mercury. Foto: Célia Santos

O tempo e o vento, livro de Érico Veríssimo

A cantora, compositora e produtora musical Daniela Mercury indica a trilogia O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, dando destaque à matriarca Ana Terra. “Eu era menina quando li e Ana Terra me ensinou a confrontar, a resistir e a lutar bravamente contra a opressão que nós mulheres sofremos. Nunca esqueci da raiva e da indignação que senti quando li os livros. Ela é uma mulher sobretudo forte e resiliente”, coloca.

“O sofrimento e a violência que Ana Terra é vítima ainda estão presentes na realidade das mulheres do Brasil e do mundo até hoje. Também gosto muito de Ana Terra ter se apaixonado pelo índio Pedro e ter confrontado o racismo da sua família. Ela continua a ser uma grande inspiração para mim”, acrescenta Daniela.

Bacurau, filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

O filme Bacurau, dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, lançado em 2019, também está na lista de Daniela Mercury. “É um filme que trouxe mensagens poderosas contra o obscurantismo, a xenofobia e e contra a desumanização dos nordestinos. É um soco no estômago”, coloca ao justificar a predileção pela personagem Domingas, interpretada pela atriz Sônia Braga.

“O grito de Domingas é o grito do filme. O grito do Bacurau está na letra de minha música Rainha da Balbúrdia. A personagem incorporada e interpretada por Sonia Braga é a figura central do filme. O grito de Domingas é o grito agudo, profundo, sofrido e indignado de todos nós diante da barbárie e da banalidade do mal. O grito de Domingas é libertário, poderoso, feminino, maternal, gigante como sua coragem e como o amor dela por sua gente”, explica a cantora.

Teresa Cristina

Créditos: Ricardo Nunes A cantora Teresa Cristina. Foto: Ricardo Nunes

Histórias Cruzadas, filme de Tate Taylor

A cantora e compositora Teresa Cristina indica o filme Histórias Cruzadas, lançado em 2011, e que aborda a questão da emancipação das mulheres negras na década de 60, com destaque à personagem Eugênia Skeeter, interpretada por Emma Sotena. “Ela quer dar voz às empregadas domésticas negras que trabalham para famílias brancas e faz isso ao entrevistá-las para elaborar um livro”, destaca Teresa. Na obra, Aibileen Clark, interpretada por Viola Davis, empregada e  melhor amiga de Skeeter, é a primeira a conceder uma entrevista, o que desagrada a sociedade como um todo.

“Quem tem medo do feminismo negro”, livro de Djamila Ribeiro

A obra da filósofa feminista Djamila Ribeiro, lançada em 2018, também está entre as indicações de Teresa Cristina. Na obra, a autora traz um apanhado de artigos autorais que abordam temáticas tais como feminismo negro, empoderamento feminino, interseccionalidade e cotas raciais.

“Nós somos muito privilegiadas por sermos contemporâneas de uma pensadora como a Djamila. ela tem uma escrita que consegue chegar a todas as mulheres, consegue dar aconchego e alento às mulheres pretas, ao mesmo tempo em que ensina as mulheres brancas sobre o que já aconteceu no Brasil e do que não precisa acontecer mais. É uma mulher importantíssima para esse Brasil de agora”, destaca a cantora.

Laerte

A cartunista Laerte Coutinho. Foto: Divulgação

Você é minha mãe?, livro de Alison Bechdel

A escritora e cartunista Laerte recomenda a leitura de Você é minha mãe? Um drama em quadrinhos (Editora Quadrinhos na Cia, 2013), de Alison Bechdel. O livro é uma continuação do sucesso Fun Home – Uma tragicomédia em família (Todavia, 2007). No primeiro, a autora conta sua história sobre o momento em que revelou ser lésbica. Na continuação, em história em quadrinhos, ela investiga a relação com sua mãe, uma atriz amante de música e literatura, que vive um casamento infeliz.

“Leitura ao mesmo tempo apaixonante e densa”, descreve Laerte. “Aqui, o eixo se desloca para a mãe, o crescimento pessoal da autora, o modo como percorre lembranças, experiências analíticas, pesquisas na área da psicologia e da filosofia.”

Um defeito de cor, livro de Ana Maria Gonçalves

Vencedor do prestigiado prêmio cubano Casa de las Américas em 2007, o livro Um defeito de cor (Editora Record, 2006), é um romance sobre uma africana idosa, escravizada, cega e à beira da morte, que chega ao Brasil para buscar o filho perdido. Durante a procura, conta sua trajetória marcada por violência. A protagonista foi inspirada na figura de Luísa Mahin, suposta mãe do poeta abolicionista Luiz Gama.

“Um trabalho incrível de levantamento da história da escravidão no Brasil – em particular, a construção da personagem”, comenta Laerte. “O roteiro abarca toda a vida dessa mulher, desde a infância na África até sua morte.”

Fernanda Torres

Créditos: Matheus José Maria A atriz e roteirista Fernanda Torres. Foto: Matheus José Maria

O Otelo Brasileiro de Machado de Assis, livro de Helen Caldwell

A atriz, escritora e roteirista brasileira Fernanda Torres indica a obra de Helen Caldwell, responsável por fazer uma análise da obra prima Dom Casmurro, de Machado de Assis. O livro aborda a vida da personagem Capitu, afastando-se das interpretações machistas e revelando o nexo que o escritor estabelece com Otelo, de Shakespeare.

“A suspeita sobre a traição ou não, de Capitu, no Dom Casmurro, recaía sempre sobre a mulher. Num livro fino e fulminante, Caldwell prova que o problema não é a fidelidade da esposa, mas a paranoia do marido. Bentinho é louco. O capítulo em que ele vai ao teatro assistir Otelo e inverte o sentido da peça de Shakespeare está lá para provar. É impossível ler Dom Casmurro da mesma maneira, depois de ler esse livro”.

Duas Mulheres (La Ciociara), filme de Vittorio de Sica

Baseado em um livro de Alberto Moravia, o filme narra a história de Cesita, viúva dona de uma loja em Roma, e da filha Rosseta, adolescente, que abandonam a Itália então bombardeada pelo Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.

“Vi esse filme no Corujão, quando era muito nova. Foi o meu primeiro contato com o neorrealismo italiano do pós guerra, nunca esqueci. A Sophia Loren está extraordinária no papel de uma mãe que foge de Roma com a filha, durante o bombardeio aliado. As duas caminham para uma região montanhosa do interior, numa Itália devastada. É uma obra que fala da maternidade e da violência sexual que, desde sempre, as mulheres enfrentaram nas guerras. É muito triste, mas muito lindo”, atesta Fernanda.

Leticia Sabatella

A atriz e cantora Leticia Sabatella. Foto: Reprodução

Lanternas vermelhas, filme de Zhang Yimou

A atriz e cantora Leticia Sabatella sugere o premiado longa-metragem chinês Lanternas vermelhas (1991), vencedor do BAFTA como melhor filme estrangeiro em 1993. Na trama, uma jovem universitária é forçada a se casar com um homem mais velho, que tem outras três esposas. Diante da intimidade do marido com as outras parceiras, a protagonista se vê em uma teia de intrigas e rivalidade feminina.

“Uma aula sobre a opressão patriarcal e o seu efeito sobre o emocional e a relação entre as mulheres”, diz Leticia.

Marina Silva

A historiadora, psicopedagoga, ambientalista e líder da Rede Sustentabilidade, Marina Silva. Foto: Wanezza Soares/CartaCapital

Estrelas além do tempo, filme de Theodore Melfi

Historiadora, ambientalista e líder do partido Rede Sustentabilidade, Marina Silva põe na lista o filme Estrelas além do tempo (2017), ganhador do Oscar de melhor atriz coadjuvante para Octavia Spencer. O longa-metragem conta a história de mulheres negras que trabalhavam como cientistas na Nasa e ajudaram os Estados Unidos a levar o homem para o espaço. A trama se passa na década de 1960, no auge da Guerra Fria com a União Soviética, e retrata as diversas esferas do racismo vivido no país americano.

Anne with an E, seriado de Moira Walley-Beckett

O seriado de televisão Anne with an E (2017), da Netflix, é mais uma pedida de Marina Silva. O título, ganhador de prêmios no Canadá, é baseado no livro de 1908 Anne of Green Gables, de Lucy Maud Montgomery.

A história fala de uma jovem órfã que chega à pequena cidade de Avonlea após ser adotada por um casal de irmãos, por engano. A menina mora com os estranhos após uma infância de abusos em orfanatos e em casas de diferentes famílias. O enredo é vivido na década de 1890.

Histórias de ninar para garotas rebeldes, livro de Elena Favilli e Francesca Cavallo

Escrito pelas italianas Elena Favilli e Francesca Cavallo, o best-seller reúne histórias de mulheres valentes para ser contadas aos filhos e filhas. Uma das protagonistas é Malala Yousafzai, a adolescente paquistanesa defensora de direitos humanos que venceu o prêmio Nobel. Outra mulher notável é Simone Biles, ginasta que brilhou nas Olimpíadas de 2016. Cheio de ilustrações, o livro Histórias de ninar para garotas rebeldes (VR Editora, 2017) tem a ideia de mostrar às meninas que há uma porção de histórias fantásticas fora dos estereótipos dos contos de fadas de princesas.

Lugar de fala, livro de Djamila Ribeiro

Da coleção Feminismos Plurais, Lugar de Fala (Editora Jandaíra, 2019) trabalha conceitos importantes referentes ao feminismo negro, com o objetivo de investigar a posição social das pessoas negras em uma sociedade formada por elites de homens, brancos, ricos e heterossexuais. Em entrevista?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> a CartaCapital, a autora Djamila Ribeiro ressalta que o “lugar de fala” não é impedir alguém de falar, mas dizer que “outra voz precisa falar”. O livro foi finalista no Prêmio Jabuti em 2018.

O show do eu – A intimidade como espetáculo, livro de Paula Sibilia

Por fim, Marina Silva indica uma reflexão sobre as mídias presentes na sociedade contemporânea, como redes sociais e reality-shows, que tornam a vida privada cada vez mais pública. No livro O show do eu (Editora Contraponto, 2016), a antropóloga argentina Paula Sibilia analisa as subjetividades construídas a partir de estímulos inéditos da espetacularização de nós mesmos.

Manuela D’Ávila

A jornalista e escritora Manuela D’Ávila. Foto: Arquivo Pessoal

Hibisco roxo, livro de Chimamanda Ngozi Adichie

Ex-deputada e candidata a prefeita de Porto Alegre pelo PCdoB em 2020, a jornalista e escritora Manuela D’Ávila propõe a leitura de Hibisco Roxo (Companhia das Letras, 2003), trama sobre uma adolescente na Nigéria que lida com o racismo e a intolerância religiosa desde cedo. É o primeiro romance da aclamada escritora africana Chimamanda Ngozi Adichie, uma das principais vozes do feminismo atual.

“A melhor e mais doída obra sobre violência doméstica”, comenta Manuela D’Ávila.

Olhos D´Água, livro de Conceição Evaristo

Violência urbana, pobreza e dilemas sexuais e existenciais povoam os quinze contos de Olhos D’Água (Editora Pallas, 2014), da renomada escritora brasileira Conceição Evaristo. Homenageado, o título conquistou o Prêmio Jabuti em 2015, na categoria Contos e Crônicas.

“Conceição evidencia o peso da desigualdade sobretudo para mulheres negras”, diz Manuela.

Mulheres, Raça e ClasseUma autobiografia, livros de Angela Davis

Um dos principais nomes do feminismo negro, Angela Davis escreveu dois títulos em que, para Manuela, mostra como não é possível debater sobre os direitos das mulheres sem discutir desigualdades raciais e econômicas: Mulheres, Raça e Classe (Editora Boitempo, 1981) e Uma autobiografia de Angela Davis (Editora Boitempo, 1974). As duas obras retratam os conflitos sociais dos Estados Unidos segundo o olhar de uma das maiores militantes comunistas vivas do nosso tempo.

Cidadã de segunda classe e As alegrias da maternidade, livros de Buchi Emecheta

Manuela indica todos os livros da escritora nigeriana Florence Onyebuchi “Buchi” Emecheta, especialmente dois títulos: Cidadã de segunda classe (Editora Dublinense, 1974) e As alegrias da maternidade (Editora Dublinense, 1979). No primeiro, uma mulher nigeriana dos anos 1960 enfrenta o racismo e a xenofobia ao viver como imigrante em Londres. No segundo, a filha de um grande líder africano é enviada como esposa para um homem em Lagos, capital da Nigéria, e se submete a condições precárias para educar e sustentar os filhos.

“As obras da escritora nigeriana trabalham com violência doméstica e maternidade com uma narrativa extraordinária”, comenta Manuela.

Erika Hilton

Créditos: Divulgação A vereadora Erika Hilton, pelo PSOL de São Paulo. Foto: Divulgação

Quarto de despejo, livro de Carolina Maria de Jesus

A vereadora trans Erika Hilton, a mulher mais votada da Câmara dos Vereadores de São Paulo nas eleições 2020, indica a obra que relata a vida de Carolina Maria de Jesus no período em que foi catadora de papel e morou na favela do Canindé, em São Paulo. “Esta obra retrata com muita sensibilidade, com o olhar da Carolina, a realidade e a vida cotidiana de várias mulheres, mães, principalmente as trabalhadoras, negras, pobres do Brasil”, coloca a parlamentar.

Histórias Cruzadas, filme de Tate Taylor

O filme volta a aparecer nas indicações de Hilton, que explica a sua importância enquanto obra que estabelece relações entre gênero, classe e raça. “O filme tem muito a ver com esse universo, feminino, feminista, de luta, de intersecções, de visões de mundo que a gente está discutindo agora na atualidade”, coloca Hilton.

Nath Finanças

Créditos: Leo Aversa A influenciadora digital Nath Finanças. Créditos: Leo Aversa

Harriet, Kasi Lemmons

O filme lançado em 2019 é um dos escolhidos pela administradora e criadora de conteúdo Nath Finanças, que conta a história de Harriet Tubman, interpretada por Cynthia Erivo, uma escrava que virou abolicionista. “Fala sobre uma mulher negra, na época da escravidão, que conseguiu libertar grande parte dos escravos no sul. A forma como ela se planeja para conseguir foi muito marcante pra mim, um dos filmes mais inspiradores pra mim”, coloca.

Self Made, série da Netflix

A série norte-americana, inspirada na vida e história de Madam C. J. Walker, também está entre as indicações de Nath Finanças. A obra conta a história de uma afro-americana que venceu a pobreza, construiu um império de produtos de beleza, e se tornou a primeira mlionária pelo próprio esforço.

“É uma mulher negra que cria um produto de cabelo para mulheres negras que compartilhavam a dor de não conseguirem arrumar seus cabelos da melhor forma porque não tinham produtos para cabelos crespos”, coloca.

“As duas obras que indico têm como protagonistas mulheres negras e me inspiraram no sentido de não desistir dos meus objetivos, sonhos”, destaca Nath.

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