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Trabalhadores da Embraer anunciam greve após 2,5 mil demissões

Embraer culpa reflexos da pandemia, mas sindicato diz que acordo com a Boeing gerou demissões e pede estatização da companhia brasileira

Trabalhadores da Embraer anunciam greve após 2,5 mil demissões
Trabalhadores da Embraer anunciam greve após 2,5 mil demissões
Foto: Roslan Rahman/AFP
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Trabalhadores da empresa aérea Embraer podem votar pela internet, até as 15 horas de sábado 5, se decidem referendar uma greve que já foi aprovada na quinta-feira 3, em assembleia presencial do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região. 

 

O Sindicato protesta contra a decisão da Embraer anunciada ontem, de demitir 4,5% do seu quadro efetivo de funcionários, que corresponde a cerca de 900 trabalhadores. 

De acordo com a Embraer, a medida decorre dos impactos causados pela covid-19 e pelo cancelamento da parceria com a companhia aérea norte-americana Boeing.

Em nota na quinta-feira 3, a Embraer afirmou que a sua aviação comercial sofreu redução de 75% das entregas de aeronaves. Além disso, afirmou que a situação se agravou com a “duplicação de estruturas para atender a separação da aviação comercial”, em preparação à parceria não concretizada por iniciativa da Boeing, e pela falta de expectativa de recuperação do setor de transporte aéreo no curto e médio prazo.

A Embraer alegou ainda que, desde o início da pandemia, tentou preservar empregos com uma série de medidas: redução de jornada, lay-off (suspensão temporária de contrato), licença remunerada e três planos de demissão voluntária (PDV), que resultaram em 1,6 mil trabalhadores demitidos.

https://twitter.com/embraer/status/1301474134984097792

Sindicato destaca que foram 2,5 mil demitidos, e não somente 900

Nascida em 1969 como uma empresa áerea estatal, a Embraer teria 80% de suas ações vendidas para a Boeing após um acordo fechado em 2018. No entanto, em abril deste ano, a Boeing desistiu da compra e alegou que a Embraer não cumpria as condições necessárias para a transação.

Para o Sindicato dos Metalúrgicos, a crise na Embraer foi provocada por má-gestão na negociação com a multinacional americana, e não pelas despesas geradas na pandemia.

Segundo a entidade, as perdas com o processo de venda aos americanos chegaram a 1,2 bilhão de reais, com reformas e demais providências de reestruturação, enquanto os reflexos da crise do coronavírus ficaram somente em 83,7 milhões de reais para os cofres da empresa brasileira.

A organização destaca que foram 2,5 mil trabalhadores demitidos, e não somente 900, porque nos três planos de “demissão voluntária”, na verdade, houve pressão sobre os funcionários.

“Durante o período do Plano de Demissão Voluntária (PDV), o Sindicato recebeu diversas denúncias por parte dos trabalhadore de que gestores da Embraer estariam pressionando aqueles que estavam em licença remunerada para que aderissem ao PDV. O caso está, inclusive, sendo investigado pelo Ministério Público do Trabalho”, diz nota.

Solução é cortar supersalários e reestatizar Embraer, diz Sindicato

Para preservar os empregos, o Sindicato propõe o cancelamento imediato de todas as dispensas, inclusive as relacionadas aos planos de demissão voluntária; a estabilidade no emprego; e a equalização dos altos salários da empresa.

Segundo o Sindicato, há cargos na empresa com remuneração superior a um salário mínimo por dia. Três salários são superiores a 1 milhão de reais por mês, 46 salários são maiores de 100 mil e 127 passam de 50 mil reais mensais, diz a entidade.

“De acordo com documento oficial da Embraer, anexado em processo judicial na 3ª. Vara Federal de São José dos Campos, há pessoas recebendo mais que um salário mínimo por dia na empresa (doc. 4 do processo). A equalização salarial poderia preservar centenas de empregos na fábrica”, diz a entidade.

O Sindicato também defende que a Embraer volte a ser uma empresa inteiramente estatal.

“Para garantir os empregos e a soberania nacional, o Sindicato defende que a Embraer volte a ser uma empresa 100% estatal. Na campanha pela reestatização da empresa, iniciada em maio, a entidade já alertava sobre os riscos aos empregos gerados pelo acordo fracassado com a Boeing. Para que os trabalhadores não fiquem à mercê dos acionistas é necessário transformar a Embraer novamente em uma empresa pública”, declara em nota.

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