Saúde

Queimadas aumentaram internações de indígenas por problemas respiratórios em 2019

Pesquisadores alertam que atual cenário associado à pandemia pode gerar ‘combinação catastrófica’

Queimadas aumentaram internações de indígenas por problemas respiratórios em 2019
Queimadas aumentaram internações de indígenas por problemas respiratórios em 2019
Indígenas em Novo Progresso, no Para, protestam contra governo Bolsonaro (Foto: João Laet/AFP)
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O ano de 2019 registrou o maior número de internações de indígenas devido a problemas respiratórios causados por toxinas da fumaça. Os dados foram publicados nesta terça-feira 25 em estudo inédito do Instituto Socioambiental (ISA).

Os pesquisadores analisaram relações entre a concentração de PM2.5, partículas inaláveis de poluição, e as taxas de internação para asma, pneumonia, influenza, bronquite aguda, bronquiolite aguda e outras infecções das vias aéreas superiores.

“A taxa de internação em 2019 foi a mais alta da série histórica para a população indígena maior que 49 anos e a segunda maior alta nas internações da população indígena em idade inferior a 5 anos”, revela o estudo.

Apenas entre julho e agosto do ano passado, houve um aumento de 25% nas internações por problemas respiratórios na população indígena de 50 anos ou mais.

O estudo associa esse aumento ao “Dia do Fogo”, 10 de agosto, quando fazendeiros no entorno da BR-163 provocaram um incêndio em apoio a Bolsonaro. O ato foi realizado em Novo Progresso (PA), onde a concentração das partículas chegou a ficar 57 vezes acima do nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 12 de agosto, dois dias depois do ocorrido.

Ao contrário do que alega o Ministério do Meio Ambiente em 2019, que atribuiu a destruição da floresta à queimada de roçado feita pelos indígenas, a maior parte dos incêndios na região é associada ao desmatamento ilegal.

A região formada pelo sul do Amazonas, sudoeste do Pará, noroeste do Mato Grosso e norte de Rondônia concentram os municípios onde coincidem altos valores de desmatamento, queimadas (ago/set/out) e concentração média anual de PM2.5. Rondônia, Pará e Mato Grosso também se destacam pela quantidade de municípios com internações acima da média para o período seco em ambas as faixas etárias analisadas.”, aponta a pesquisa. 

Associação com Covid-19 pode gerar “combinação catastrófica”

Em entrevista ao ISA, Antônio Oviedo, um dos coordenadores do estudo, afirma temer uma combinação “catastrófica” entre a Covid-19, que também gera insuficiência respiratória, e mais um ano de recordes de desmatamento.

“Para evitar uma combinação de fumaça e aumento da Covid-19, cenário que poderia ser catastrófico, o Brasil deve retomar em 2020 seu protagonismo como líder internacional na redução do desmatamento e do fogo”, diz o pesquisador. “Uma moratória sobre o desmatamento e forte fiscalização são urgentemente necessárias para reverter a tendência de alta na destruição da Amazônia brasileira”.

Em 2019, ocorreram 2.556 internações de indígenas de 0-4 anos por problemas respiratórios. Dessas, 533 foram entre os meses de agosto e outubro – período mais seco do bioma amazônico.

Na faixa etária de 50 anos ou mais, foram 384 internações, das quais 91 ocorreram entre os meses de agosto e outubro.

De acordo com informações do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), de agosto de 2019 a julho de 2020 houve um aumento de 34,5% nos alertas de desmatamento na Amazônia, o que configura um pulo de 9.205 km² desmatados em comparação com o mesmo período 2018-2019.  É a maior taxa dos últimos cinco anos, e representa o dobro do registrado entre 2017-2018.

Além disso, a Associação dos Povos Indígenas (APIB) estima que existam 27.351 casos de coronavírus confirmados entre indígenas, com 723 óbitos até o momento. O número difere do apresentado pela Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) porque o órgão só contabiliza indígenas aldeados.

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