Justiça

MPF pede afastamento urgente de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente

Procuradores acusam ministro de improbidade administrativa

MPF pede afastamento urgente de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente
MPF pede afastamento urgente de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Foto: Lula Marques
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O Ministério Público Federal (MPF) pediu afastamento de Ricardo Salles da chefia do Ministério do Meio Ambiente, em representação divulgada nesta segunda-feira 6. O órgão acusa Salles de cometer improbidade administrativa, por “desestruturação dolosa das estruturas de proteção ao meio ambiente”.

Em ação na Justiça, 12 procuradores da República pedem o afastamento em caráter de urgência. Além disso, a ação reivindica punições previstas na lei, como a perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos, o pagamento de multa e a proibição de contratação com o poder público e de recebimento de benefícios e incentivos fiscais.

O pedido tramita na 8ª Vara da Justiça Federal. Em documento de 128 páginas, o MPF diz que a gestão de Salles percorre direção contrária à efetivação do projeto constitucional para o meio ambiente.

“Por meio de ações, omissões, práticas e discursos, o ministro do Meio Ambiente promove a desestruturação de políticas ambientais e o esvaziamento de preceitos legais, mediante o favorecimento de interesses que não possuem qualquer relação com a finalidade da pasta que ocupa”, escrevem.

Os procuradores sustentam que o comando de Salles age no sentido de “fragilizar a atuação estatal na proteção do meio ambiente” e que, analisados de forma contextualizada, os atos promovem a “fragilização do arcabouço normativo e institucional”.

“Os efeitos da fragilização da estrutura administrativa, por sua vez, são imediatos, como mostram os dados sobre o aumento do desmatamento e o avanço de atividades econômicas ilegais sobre áreas de floresta nativa, incluindo áreas especialmente protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação. A desregulamentação de medidas proibitivas, a desmobilização de servidores e o desmonte da fiscalização consistem em frentes permanentes de fragilização dos órgãos ambientais federais. Em muitos casos, os efeitos podem se tornar irreversíveis”, diz a ação.

Os procuradores elencam quatro frentes em que Salles teria praticado improbidade administrativa: desestruturação normativa, desestruturação dos órgãos de transparência e participação, desestruturação orçamentária e desestruturação fiscalizatória.

A ação lembra um dos episódios mais escandalosos da trajetória recente de Salles, quando incentivou o governo a aproveitar a pandemia para “ir passando a boiada” em medidas ambientais. A declaração ocorreu durante a reunião ministerial de 22 de abril, gravada em vídeo divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para o MPF, o caso expõe, de forma clara, um verdadeiro “encadeamento premeditado” de atuar contrário à proteção ambiental.

“Se havia dúvidas quanto à sua configuração, a manifestação do requerido na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 escancarou os propósitos de sua gestão e o desvio de finalidade nos atos praticados. Naquela ocasião, o ministro declarou que considerava a pandemia decorrente do novo coronavírus uma ‘oportunidade’ para modificar normas e adotar atos. Também sugeriu fazer uma ‘baciada’ de alterações e ‘passar a boiada'”, afirmam.

Em resposta, o Ministério do Meio Ambiente alegou que os argumentos dos procuradores não procedem.

“A ação de um grupo de procuradores traz posições com evidente viés político-ideológico em clara tentativa de interferir em políticas públicas do governo federal. As alegações são um apanhado de diversos outros processos já apreciados e negados pelo Poder Judiciário, uma vez que seus argumentos são improcedentes”, declarou a pasta.

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