Tecnologia

O Facebook e sua fome de dados

Novos termos e condições de uso tornam os usuários ainda mais transparentes – para enriquecimento da gigante da internet. Porém, escapar dela não é fácil

Facebook: vigilância e publicidade
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Por Matthias von Hein

“Você não é o cliente dos conglomerados de internet, você é o produto deles.” Com essa mensagem central, o laureado com o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão em 2014 Jaron Lanier abre seu livro Who owns the future?(A quem pertence o futuro?, em tradução livre).

Nele, o pioneiro da internet analisa as dinâmicas atuais na economia da rede. A palavra-chave é big data, em direção à vigilância total e ainda mais exploração comercial. Tendências que a rede social Facebook reforça com seus novos termos e condições de uso.

Os mercados financeiros operam, sabidamente, com base em expectativas sobre o futuro. E eles avaliam o Facebook atualmente em quase 200 bilhões de dólares, 65% mais do que em 2014. Os especuladores das bolsas de valores parecem estar plenamente seguros de que a companhia vai dominar uma gorda fatia do futuro.

Não há como censurá-los: no ano passado, a maior rede social do mundo teve lucros de 3 bilhões de dólares: com publicidade. Publicidade personalizada, visando especificamente as características dos usuários, deduzidas pelos algoritmos do Facebook.

Esses métodos de cálculo são secretos. Porém, em meados de janeiro, cientistas das universidades de Stanford e Cambridge divulgaram tudo o que se pode inferir a partir de um simples clique no botão de “curtir”.

A equipe anglo-americana desenvolveu um algoritmo que, após 100 a 150 “curtidas”, chega a informações mais precisas sobre o caráter de uma pessoa do que as de que dispõe o respectivo cônjuge.

Só que o Facebook não nos conhece apenas através do que “curtimos”: nós postamos mensagens, imagens, partilhamos notícias. Quase 900 milhões de usuários cuidam diariamente para manter seus perfis sempre atuais, enquanto cerca de 1,4 bilhão estão ativos na rede social pelo menos uma vez por mês.

Contudo nem mesmo esse abundante fluxo de informações pessoais é suficiente para saciar a ganância de dados de Mark Zuckerberg e companhia. A inovação central nas novas condições de uso da rede é que o Facebook quer também saber das atividades de seus usuários fora de suas páginas.

Além disso, a plataforma vai estar também informada sobre onde eles se encontram na vida real. Afinal de contas, um quarto dos usuários acessa seus serviços pelo smartphone. Então, o que promete mais sucesso do que os inundar também com a propaganda das empresas nas vizinhanças?

Até mesmo o Parlamento alemão se ocupou das novas regras. Deputados e especialistas em proteção de dados da Comissão de Justiça criticaram o Facebook por seu manuseio das informações pessoais dos usuários. Entretanto, no passado a multinacional já provou ser pouco sensível a esse tipo de crítica.

O mesmo se aplica, aliás, ao Google e outras empresas. As gigantes da internet estão acostumadas a definir autocraticamente as regras do mundo digital: legislações nacionais pouco representam para elas.

Acima de tudo: elas podem até se dirigir a seus usuários com um camaradesco “você”, mas nunca pedem o assentimento deles. A única alternativa teórica que lhes resta é saltar fora do sistema.

Mas poucos darão tal passo. Quanto mais tempo alguém está na rede social, tanto mais fotos terá postado, mais contatos terá criado e cultivado, e tão menor será a sua disposição – ou possibilidade – de sair.

É uma dependência, como a do viciado em relação ao traficante que o abastece. Em que pensar, quando, com toda simpatia e camaradagem, alguém coloca você diante de uma alternativa do tipo “ou concorda ou cai fora”? No “Big Brother” de George Orwell.

  • Autoria Matthias von Hein (av)

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